Mulheres na TI: Mercado de tecnologia tem avançado na representatividade feminina

Profissionais da área relatam conquistas dos últimos anos e, embora o número de mulheres ainda seja menor que de homens, o cenário tem ficado mais equilibrado

Elisa Vaz
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As transformações recentes no mercado de trabalho têm colocado a tecnologia na linha de frente quando se fala em “profissões do futuro”, e cada vez mais oportunidades nessa área têm surgido. Embora apenas 20% dos profissionais de tecnologia sejam mulheres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas também têm usado o crescimento do mercado para se posicionar e garantir mais espaço no meio tecnológico.

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Só de carreira, a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Carla Lima Reis já tem uma trajetória de 25 anos, e hoje ocupa um cargo de chefia na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), como diretora de tecnologia da informação do órgão.

Ela vem da área de ciência da computação e, ao longo de sua carreira, diz nunca ter sentido dificuldades por ser mulher, porque sempre teve a capacitação e o conhecimento necessários para ocupar posições de destaque, mas relata que vê poucas mulheres nos ambientes onde trabalha - e menos ainda ocupando cadeiras na liderança.

“É uma área que tem muita presença masculina, mas a minha gestão aqui é independente, não interessa se é mulher, se é homem, estamos aqui pelo trabalho, mas eu entendo que há uma dificuldade no momento de entrada”, comenta.

“Enxergo que as mulheres deveriam ser maioria. Nada contra os homens, mas tem muita coisa que eu já percebi por esses anos de orientação de alunos, trabalhando com pessoas. Temos perfis diferentes. Vejo muita necessidade de conexão com as pessoas e vejo isso mais aflorado nas mulheres”, continua ela.

Na opinião de Carla, a área de tecnologia da informação (TI) merece uma presença maior de mulheres, mas a falta delas é cultural. Desde cedo, segundo ela, as mulheres “se ligam mais em coisas de meninas”, por uma pressão social.

A especialista até cita alguns cursos de exatas para exemplificar, como as engenharias, que costumam ter turmas com mais homens. “Talvez algumas meninas se sintam meio deslocadas em um local cheio de homens e achem que é uma crença limitante”, opina.

Influência

Quando era sua vez de escolher a carreira, anos atrás, Carla lembra que não sabia qual curso queria fazer. Sabia que preferia exatas, mas escolheu tecnologia por ser uma novidade, de acordo com ela.

Na época, a turma se chamava “tecnólogo de processamento de dados”, na UFPA, e depois migrou para ciências da computação, o mesmo que existe hoje. “A escolha foi pensando ‘não sei nada disso aqui, não sei o que vai acontecer, mas gosto de novidade’. Sempre fui das exatas”, relata.

image Mesmo tendo sido desencorajada a cursar uma graduação na área de tecnologia, Carla realizou seu sonho e hoje tem uma carreira de mais de 25 anos, ocupando um cargo de chefia. (Thiago Gomes / O Liberal)

Mas, durante o processo de escolha, duas ou três pessoas chegaram a desencorajar Carla, dizendo que a tecnologia era para homens. Depois da graduação, a profissional ainda fez mestrado e doutorado fora do Pará, e passou em concurso para ser professora da UFPA. “Fui lá e fiz”, comemora. O que importa, para ela, é o conhecimento e a dedicação, não o gênero de cada um.

Justamente para conscientizar sobre isso, Carla acha importante divulgar o mercado de trabalho de tecnologia para mulheres. Uma iniciativa que ela também considera interessante é a de criação de editais voltados para mulheres na tecnologia, seja em ciência, engenharia ou computação, por exemplo, o que a especialista diz já estar acontecendo no Pará.

O que deve ser feito, segundo ela, é inserir essa influência em meninas desde cedo, para que elas vejam a área como possível desde a infância e adolescência.

“É muito bacana divulgar histórias para que elas lembrem que dá para fazer, não precisam se limitar e não é porque tem mais homem que não é para mulher. Meninas, vocês podem ir, é importante, tem lugar e tem um mundo para descobrir”, destaca.

A influência de Carla foi tão positiva nesse sentido que sua filha, de quase 20 anos, também está na área, cursando o terceiro ano do curso de sistemas da informação. “Posso dizer que contribuí para trazer mais mulheres para a tecnologia”.

Representatividade

Na época em que iniciou sua carreira, a professora Samara Souza, que é formada em sistemas de informação e mestre em ciência da computação, a maioria das cadeiras era ocupada por estudantes homens, mas, de lá para cá, ela já consegue perceber uma quantidade maior de mulheres adentrando esse espaço da tecnologia. Não irá demorar, na opinião dela, para que os dois gêneros se “igualem” no mercado tecnológico.

A graduação de Samara foi pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), quando teve seu primeiro contato com a tecnologia. “Simplesmente me apaixonei pela área, e a cada dia fui me envolvendo e me envolvo até hoje com esse campo maravilhoso. Na graduação, tive a oportunidade de desenvolver vários projetos, fui monitora de disciplinas, trabalhei em projetos de pesquisa, o que me despertou o interesse para a área acadêmica e de pesquisa”, conta.

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Ela ingressou no mestrado em 2020, pela UFPA, na linha de pesquisa “inteligência computacional”, mesma do doutorado. Hoje, aos 24 anos, além de doutoranda, começou a dar aulas na Universidade da Amazônia (Unama).

Samara conta que, ao longo de sua formação, passou por situações “indelicadas” com homens que não levavam em consideração ou não deram créditos para a voz feminina sobre questões relacionadas à área de tecnologia. Mas, segundo ela, quando o “talento fala mais alto que o sexo”, esse tipo de situação é resolvido.

“A área de TI ainda é um mercado predominantemente masculino, mas esse cenário está, aos poucos, se modificando. Acho que evoluímos bastante no quesito de mulheres, a cada dia que passa se interessam mais e mais pela tecnologia. Descobrimos que essa área não é apenas para homens, mas sim para toda e qualquer pessoa interessada pelo maravilhoso mundo de TI, e as mulheres têm descoberto que elas podem atuar onde quiserem e que podem ser excelentes profissionais. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas ele está se modificando cada vez mais”, opina.

Quanto aos cargos de chefia, a professora Samara Souza afirma que a quantidade ainda é pequena nos ambientes onde atua, na comparação com os homens, mas, como as profissionais estão se identificando e buscando qualificações necessárias, esse não será um panorama muito duradouro.

Perspectivas

Um dos maiores desafios, para ela, é superar a falta de representatividade feminina. “Por mais que o número de mulheres que têm se interessado por áreas tecnológicas tenha crescido, ainda é pouca a quantidade de mulheres nos cursos de TI. Esperamos que esse cenário se altere, e eu, como mulher na área de TI, tenho a missão de levar representatividade para outras mulheres que desejam entrar nesse mercado também”.

Já na opinião da professora Carla Lima Reis, um desafio para os profissionais no geral, não apenas mulheres, é se capacitar a todo o tempo. Como a tecnologia está em constante evolução, é preciso que os trabalhadores da área façam cursos e adquiram novas habilidades para suprir as demandas do mercado.

Uma dessas áreas é a de softwares, segundo a especialista. Não bastam, no entanto, ter os conhecimentos básicos de programação e tecnologia, mas sim saber proporcionar a melhor experiência possível ao usuário e garantir a segurança dos dados.

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