Especialista avalia Plano de Inteligência Artificial Brasileiro e destaca projeto na Amazônia
Tecnologia pode aprimorar serviços públicos essenciais e impulsionar geração de emprego
Com um investimento de R$ 23 bilhões, o Governo Federal planeja desenvolver soluções com Inteligência Artificial (IA) para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, com ações principalmente no setor público. Tudo isso está previsto no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) apresentado durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O especialista em linguagens e tecnologias, acessibilidade e experiência do usuário, de Belém, Nathiel Moraes, destaca os efeitos positivos em serviços essenciais e lembra que na Amazônia já existem projetos que usam IA para beneficiar crianças da região.
“O PBIA busca fortalecer nossa soberania tecnológica, mas também melhorar serviços públicos e a competitividade industrial, tudo alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Além disso, ao investir em IA, o Brasil se posiciona melhor em uma corrida tecnológica que já está moldando o futuro global, como países como os EUA e China, que já destinam bilhões para o setor.”
O Plano detalha 31 ações de curto prazo em diferentes setores essenciais: saúde; agricultura; meio ambiente; indústria, comércio e serviços; educação; desenvolvimento social e gestão do serviço público. No Sistema Único de Saúde (SUS), está prevista a implementação de uma série de sistemas com IA, por exemplo, para automatizar a transcrição de teleconsultas, dar suporte à decisão na compra de medicamentos no SUS e agilizar diagnósticos médicos. Moraes também lembra da utilização desta tecnologia na identificação de doenças graves e faz votos de seus efeitos positivos em outros segmentos.
No recorte da realidade Amazônica, o especialista paraense destaca projetos como o SDIA (Sistema Inteligente para Promoção do Desenvolvimento Infantil na Amazônia Paraense), que já utilizam os benefícios da IA na região. “O projeto utiliza IA para rastrear atrasos no desenvolvimento infantil, esse software, que pode ser usado por uma ampla gama de prestadores de serviços na área de saúde e educação, visa criar soluções inteligentes que promovam o desenvolvimento infantil na Amazônia, transformando a educação e o bem-estar de crianças amazônicas”, explica.
O SDIA é uma iniciativa financiada pelo Governo do Estado e executada pelo Núcleo de Pesquisas em Computação Aplicada (NPCA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), sob a coordenação dos professores Dr. Marcus Braga e Dra. Flávia Marçal, ambos docentes da UFRA.
Além da saúde, outro destaque do planejamento foca no desenvolvimento social, em especial, na ampliação da oferta de emprego. A medida em questão utiliza os dados do Cadastro Único (CadÚnico) para identificar pessoas que precisam ser inseridas no mercado de trabalho. Essa plataforma mapeará necessidades da população inscrita no CadÚnico, com a oferta de cursos de qualificação, oportunidades de vagas de trabalho e ações de apoio ao empreendedorismo, direcionando as pessoas para reinserção no mercado de trabalho.
Quanto à estrutura que dará suporte aos investimentos em inovação, o plano elabora a criação de um supercomputador para atender a demanda e o desenvolvimento de um sistema em português, com dados nacionais que considerem a diversidade cultural do país. Na visão de Moraes, este banco de dados nacional “deve reduzir vieses discriminatórios que podem surgir em modelos treinados com dados externos e promover a inclusão digital de comunidades que falam dialetos regionais e indígenas”.
“Isso possibilita o desenvolvimento de modelos de linguagem que respeitam nossa diversidade, sem depender exclusivamente de tecnologias e dados estrangeiros que nem sempre contemplam nossas particularidades”, ressalta.
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Cuidados essenciais
Embora o PBIA coloque o Brasil na corrida tecnológica liderada por grandes potências de outros continentes, Moraes reforça que “como em qualquer tecnologia, o investimento em IA também traz riscos e desafios”. Ele se refere ao risco de que a IA seja utilizada de maneira antiética e irresponsável, além do impacto no mercado de trabalho, já que a automação pode substituir funções humanas. Ainda destaca a segurança de dados como ponto um dos cuidados essenciais para evitar violações de privacidade e uso indevido de informações.
“Para que o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial tenha sucesso, é crucial investir em formação e capacitação de profissionais em IA, além de fomentar parcerias público-privadas. A inclusão de todas as regiões do Brasil nesse processo, por meio de centros de excelência e redes de pesquisa distribuídas, garantirá uma difusão mais ampla das tecnologias. Além disso, é importante assegurar a criação de uma infraestrutura sólida, como a proposta do supercomputador, e desenvolver marcos regulatórios que garantam a transparência, ética e segurança no uso da IA”, enfatiza.