Eletrônicos com IA devem dominar mercado local em até um ano e meio, avalia gerente de distribuição
Ferramenta também precisa de atenção a segurança de dados

Aparelhos eletrônicos, como computadores e televisores, que usam a Inteligência Artificial (IA) como um recurso nativo, crescem no mercado local. Em Belém, o gerente de distribuição de uma das lojas de eletrônicos Bruno Oliveira avalia que aparelhos devem substituir os anteriores, sem a tecnologia, em até “um ano e meio”. O consultor e palestrante em Inteligência Artificial Denis Barreto concorda que a transição ainda é prematura e acrescenta que o real impacto no cotidiano vai depender do perfil do usuário.
No mercado, a diferença de preço entre equipamentos com e sem a IA integrada ainda é pequena. Conforme o relato do representante da loja, existem duas modalidades principais desses equipamentos em oferta, que podemos dividir em básicos e avançados. Os mais simples entregam desempenhos menos complexos do uso da IA, enquanto os avançados oferecem experiências profissionais, normalmente usadas em áreas específicas, como saúde, programação e edição de fotos e vídeos.
“Se a gente pegar uma máquina, por exemplo, da Samsung, com um Intel Core i5, é uma diferença em torno de R$ 200 a R$ 300 de uma máquina. Agora, uma máquina que tenha mais competências e não tenha inteligência artificial, a diferença também fica em torno de R$ 500 reais, então é muito próximo de uma máquina para outra”, explica Oliveira.
O comportamento dos preços reflete um momento ainda muito inicial da transição para os equipamentos com IA. Movimento que, segundo o gerente, atende ao comportamento dos consumidores paraenses, também tímido. Oliveira comenta que o consumidor “continua muito atrelado ao software, ao programa de inteligência artificial e ainda não entendeu que a máquina já vem com alguns hardwares que trazem essa inteligência artificial nativa”.
Os exemplos de usos desse recurso vão desde o controle de luminosidade em televisores até a edição automática de fotos em celulares e computadores. Mas, segundo ele, um diferencial dessa leva de aparelhos, em relação a mecanismos que já existiam, como o de uma Alexa, é a capacidade de integração sem necessidade de um equipamento intermediário. No entanto, a aplicação prática dessas ferramentas no uso diário varia conforme o perfil dos usuários.
O professor do curso de Comunicação Social na Universidade da Amazônia (Unama), consultor e palestrante em Inteligência Artificial Denis Barreto pontua que a IA não impacta os usuários médios. “Só tem diferença para os usuários que têm maior poder aquisitivo e conseguem perceber ou tirar proveito desse recurso”, afirma. Segundo ele, essa tecnologia “ainda vai ser muito massificada, mas vai demorar alguns anos”.
"Os serviços baseados em inteligência artificial vão estar mais acessíveis ao público, mas neste momento continua naquela curva onde ela é muito cara e não está aberta a todos. Mas, como a história mostra, a cada dois anos o preço do processamento cai pela metade ou a velocidade dobra, isso já há pelo menos quarenta anos”, avalia.
O distanciamento dos usuários médios que ele descreve é a respeito de aplicações mais complexas, entretanto, lembra que recursos mais simples, e que também são frutos de IA, já existiam quase que imperceptíveis.
“A digitação preditiva do teclado, quando a gente vai digitando e o teclado vai prevendo as palavras que digitamos, já é uma IA que está embarcada no celular há muitos anos com o aprendizado de máquina. Ela aprende o nosso estilo de escrita e sugere as palavras diferentes para cada pessoa. Isso é uma IA que está na nossa vida há muito tempo e a gente não sabia que era uma IA”, explica.
Barreto diferencia o que foi apresentado agora pelo mercado como IA generativa, a que possui a capacidade de gerar conteúdo. Diferente do que a IA preditiva que é essa nativa ao teclado do celular ou na Alexa, treinadas a partir do convívio e com perguntas fixas.
Segurança
Parte da responsabilidade sobre a segurança quanto ao uso dos dados processados pela IA em eletrônicos fica a cargo dos próprios usuários, como explica o consultor no assunto. Ele exemplifica que assistentes virtuais, como a Siri, no caso da Apple, solicitam permissão do usuário para “sair da zona de segurança do sistema da empresa para buscar informações”, em outras plataformas.
O pós-doutor em administração e professor da Universidade Estadual do Pará (Uepa) e de cursos sobre IA Igor Gammarano destaca a existência de “riscos importantes relacionados à segurança e privacidade ao integrar recursos avançados de IA em dispositivos eletrônicos cotidianos". Segundo ele, o perigo mora na capacidade de coletar e armazenar uma grande quantidade de dados pessoais, como imagens, vídeos, voz e comportamento dos usuários.
“Se mal gerenciados, esses dados podem ser vulneráveis a vazamentos ou serem usados indevidamente por terceiros, ameaçando a privacidade dos usuários”, avalia. Outra possibilidade apontada é o risco de ataques cibernéticos propositais. Esses direcionados com finalidades específicas.
“Para mitigar esses riscos, é fundamental que fabricantes adotem políticas rigorosas de segurança digital, transparência sobre o uso dos dados, além de garantir consentimento claro dos usuários para coleta e utilização de suas informações”, conclui.
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