Avanço da inteligência artificial eleva riscos de golpes financeiros; saiba como se proteger
Entre as fraudes comuns atualmente estão o uso da identificação facial para acessar aparelhos e aplicativos e golpes no PIX
O uso cada vez mais frequente da inteligência artificial (IA) em atividades rotineiras, embora crie uma série de melhorias, desperta preocupações. A empresa de cibersegurança Kaspersky alerta para um aumento significativo no uso da IA em golpes financeiros no Brasil em 2024. De acordo com a instituição, os fraudadores estão direcionando cada vez mais sua atenção para o PIX, transformando-o em um alvo favorito, e a tendência indica uma sofisticação crescente nos métodos criminosos, potencializada pelo uso de tecnologias avançadas.
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Especialista em inovação, Júlio Almeida corrobora essa perspectiva, ressaltando a automação de atividades fraudulentas e a capacidade da IA em ampliar a escala das fraudes. A preocupação se estende à necessidade de regulamentação e proteção por parte das empresas, destacando a importância de medidas preventivas diante do cenário de constante evolução das técnicas utilizadas pelos criminosos.
“A inteligência artificial dá uma gama de ferramentas e possibilidades. A principal é a automação de algumas atividades. O que eu percebo é uma mistura, ou seja, coisas que já funcionavam antes e que agora eles estão adicionando a funcionalidade de inteligência artificial como uma forma de acelerar aquele processo. Assim, os fraudadores conseguem ter mais escala na fraude. Se antes eles conseguiam fraudar 100 pessoas, com a inteligência artificial eles vão conseguir fraudar mil”, explica Júlio.
‘Criatividade’
O pesquisador lembra que o Brasil está entre os países do mundo com o maior número de fraudes e que as “quadrilhas”, como ele chama, estão atualizadas, usando tecnologias novas e cada vez mais criativas. Júlio cita, por exemplo, um golpe que ficou comum nos últimos anos no Brasil: criminosos usam a identidade facial - ou seja, a senha com o rosto do usuário - para acessar o celular e aplicativos de bancos mesmo sem ter um rosto parecido com o da vítima.
“Esse golpe do ‘face app’, que é colocar o rosto da pessoa naquela ferramenta, já acontecia antes de uma forma mais mecânica. Por exemplo, gente que caiu em golpes em que o criminoso segura uma foto impressa e que a inteligência artificial lê aquilo e acha que é uma pessoa, mas não é. Agora, a gente vê fraudes de pessoas utilizando aqueles aplicativos que mudam o rosto para exportar aquele rosto em vídeo para dentro da funcionalidade que ele quer”, ressalta.
Até mesmo o PIX, que é uma ferramenta regulamentada no Brasil, pelo Banco Central (BC), pode ser alvo de criminosos. Embora seja uma tecnologia segura, o especialista em inovação diz que é preciso ficar atento. “Se perceber alguma coisa estranha, eu já indico ir com calma, olhar, confirmar as informações, se está tudo correto. Onde eu vejo brecha para inteligência artificial no PIX é de simular comprovantes ou um pagamento como se tivesse ocorrido. A IA também simula o aplicativo bancário. Você acha que está no aplicativo ou na página do banco e não é, e a inteligência artificial consegue simular exatamente igual”.
Mesmo atuando na área, Júlio quase caiu em um golpe desse tipo recentemente, e só não foi uma vítima porque percebeu algo diferente a tempo. Mas, para quem não tem esse tipo de instrução, ele orienta: o primeiro passo é checar aquela informação e de onde está vindo, seja o telefone ou email. O especialista costuma pesquisar aquele dado na internet para confirmar que a mensagem vem, de fato, da empresa. Outra forma de se prevenir é entrar em contato por telefone, pelo número oficial, e informar que recebeu uma comunicação, confirmando se vem da entidade. Caso seja um golpe, é preciso denunciar, indica.
Banco
Os golpes mais comuns no Banco da Amazônia, segundo a gerente de segurança corporativa, Nathália Negrão, são os que envolvem mensagens de texto e ligações que tentam se passar pela instituição, mas, especificamente envolvendo IA, ainda não foram identificadas fraudes. O Basa trabalha no lançamento de um aplicativo para abertura de conta digital, que deve entrar no ar em 2024 ou 2025, e já virá com todos os mecanismos de prevenção a fraudes, adianta.
“A Febraban [Federação Brasileira de Bancos] tem um selo de segurança, para chancelar bancos que têm um processo de combate a fraudes, então com isso a tendência é reduzir esse tipo de golpe”, afirma. Nathália também diz que outro mecanismo ideal é promover a educação dos clientes; por isso a instituição investe em ações presenciais e na publicação de conteúdos virtuais de conscientização de como se prevenir contra golpes. Se, mesmo assim, o cliente perceber se foi vítima de uma fraude, deve entrar em contato com o Basa imediatamente para solicitar a devolução do valor.
Regulamentação
A preocupação em relação aos riscos da IA se estende à necessidade de regulamentação, na opinião de Júlio Almeida. Para ele, regularizar a inteligência artificial é uma tendência e é “extremamente importante” que os brasileiros comecem a se atentar para isso por causa da potencialidade dos crimes que podem acontecer com essas inteligências, desde golpes até crimes como bullying.
“Na minha opinião, é importante nesse processo a união de vários campos da sociedade, como a área política, a civil e a tecnológica, para construir uma regulamentação juntos, para que isso resulte em leis atualizadas, porque os crimes já acontecem, mas é importante entender a dimensão que a IA traz para esse crime. Por exemplo, digamos que a inteligência artificial coloca o rosto de uma pessoa em um vídeo constrangedor. Isso é um agravante de um crime que já existe. A IA torna o crime mais agravante porque engana mais pessoas e chega a mais pessoas”, detalha.
Diante das crescentes ameaças impostas pela inteligência artificial aos sistemas financeiros, surge a necessidade de reflexão. A perspectiva destaca não apenas a automação de atividades fraudulentas, mas também a ampliação exponencial da escala desses golpes, potencializada pela sofisticação da inteligência artificial.
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