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Vacina contra chikungunya é avanço, mas proteção total exige ampliar público-alvo, diz especialista

A primeira vacina contra a doença foi aprovada pela Anvisa; Ministério da Saúde vai solicitar a incorporação do imunizante ao SUS

Eva Pires | Especial para O Liberal
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Após a aprovação da primeira vacina contra chikungunya pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde anunciou, nesta terça-feira (5), que vai pedir a incorporação do imunizante ao Sistema Único de Saúde (SUS). O vírus foi identificado no Brasil em 2014 e, atualmente, todos os estados possuem casos confirmados. Até 14 de abril deste ano, o país somou 68,1 mil registros doença, com 56 óbitos. No Pará, foram registrados 369 casos da doença em 2024 e 39 em 2025, sem mortes. Segundo o infectologista Alessandre Guimarães, a vacinação contra arboviroses como chikungunya, dengue e zika, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, ainda atinge um público restrito pela faixa-etária, o que torna essencial outras medidas preventivas, como a eliminação dos focos do mosquito. Ele também aponta os desafios para desenvolver uma vacina contra o zika vírus.

A vacina contra a chikungunya será de dose única, do tipo recombinante atenuada, feita com vírus vivos enfraquecidos. Desenvolvido pela farmacêutica austríaca Valneva, ela é indicada para pessoas acima de 18 anos com risco aumentado de exposição, exceto gestantes e pessoas imunodeprimidas. O imunizante será inicialmente produzido na Alemanha pela IDT Biologika GmbH, com previsão de futura fabricação no Brasil pelo Instituto Butantan.

O pedido de incorporação da vacina contra chikungunya ao SUS será avaliado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), mas ainda não há prazo para a conclusão da análise.

Vacinação ainda não garante controle de arboviroses

O infectologista reforça que ainda é cedo para afirmar que as vacinas conseguirão, por si só, controlar as arboviroses como chikungunya e dengue, que atualmente é disponibilizada pela Sespa para a faixa etária de 10 a 14 anos. “Para controlar essas arboviroses é necessário fundamentalmente o conjunto de medidas preventivas”, especialmente o combate aos focos do Aedes aegypti, o uso de mosquiteiros, telas em janelas e o isolamento de pessoas doentes para evitar a transmissão.

Guimarães destaca que as vacinas, apesar de fundamentais, ainda são oferecidas a uma faixa etária limitada no Brasil, o que impede que se alcance uma cobertura populacional suficiente. Nesse cenário, “a ação humana, individual, dentro do domicílio, acaba sendo muito mais importante”, assim como as políticas públicas voltadas para saneamento básico e ações socioambientais.

Para que o país alcance um controle mais efetivo das doenças, será necessário ampliar a faixa etária de vacinação e, simultaneamente, manter e intensificar as medidas de combate ao vetor. O alerta é urgente: em 2024, o Brasil concentrou de 30% a 40% dos mais de 720 mil casos de chikungunya registrados no mundo, dividindo com a Índia o status de epicentro da doença.

Vacina de dose única oferece vantagem

O médico destaca que, além da alta eficácia, a simplicidade do esquema de dose única torna a vacina contra chikungunya mais vantajosa em termos de adesão e alcance populacional, quando comparada à vacina contra a dengue, que requer duas doses para atingir eficácia total, de cerca de 90% contra formas graves da doença.

"Como muitas pessoas comparecem às unidades de saúde apenas uma vez, completar o esquema vacinal em dose única aumenta significativamente a cobertura e acelera a proteção coletiva. Além disso, estudos mostram uma eficácia alta da vacina contra chikungunya: 98,9% na produção de anticorpos, com resultados duradouros. No Brasil, a resposta imunológica se manteve por mais de um ano entre adolescentes que participaram dos testes clínicos", informa Guimarães.

Desafios para a vacina contra o zika vírus

Apesar de dengue, chikungunya e zika serem transmitidas pelo Aedes aegypti, ainda não há vacina aprovada contra o vírus da zika, registrado em 30 casos no Pará em 2024, sem óbitos, segundo dados da Sespa. Nenhum caso foi confirmado em 2025 até o momento.

Atualmente, existem duas vacinas estrangeiras contra a zika em fase de testes clínicos: uma na fase 1, que avalia segurança, e outra na fase 2, que analisa a produção de anticorpos. Já no Brasil, o Instituto Butantan conduz estudos em fase pré-clínica. 

De acordo com o Guimarães, “o desafio é porque o vírus não se encontra mais em circulação”, o que dificulta a realização de estudos de eficácia e segurança, especialmente os de fase 3. Ele também destaca que “essas pesquisas envolvem custos muito elevados” e reforça que o incentivo à ciência no Brasil ainda é insuficiente para acompanhar a capacidade dos cientistas.

O médico ressalta ainda a importância da produção nacional de imunizantes, pois “a nacionalização da vacina significa menor custo de produção”, o que facilita o aumento da oferta e a ampliação do público-alvo após a aprovação pela Anvisa e incorporação ao SUS.

Imunização contra dengue

O Brasil se tornou o primeiro país a oferecer a vacina contra a dengue pelo sistema público de saúde, iniciando a distribuição da Qdenga em fevereiro de 2024. Produzida pelo laboratório japonês Takeda, a vacina é destinada a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos que vivem em municípios com mais de 100 mil habitantes e alta incidência da doença. O esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses.

De acordo com informações da Sespa, em 2024, o Pará registrou 17.578 casos e 12 mortes por dengue. Em 2025, até 31 de março, foram 5.410 casos e 9 óbitos. Em relação à vacinação contra a doença, até abril de 2025, o Pará recebeu 79.909 doses para 22 municípios. Em 2024, foram aplicadas 30.603 doses (11% de cobertura), e em 2025, até 14 de abril, 10.841 doses (3,88% de cobertura), totalizando 41.444 doses desde 2024, com cobertura vacinal de 14,84%. A Secretaria ressaltou que a execução da vacinação é responsabilidade dos municípios.

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