Pesquisa aponta que mudança simples em teste pode prever risco de queda de idosos 6 meses antes
Exame simples e barato poderia ser facilmente adaptado para a rede pública de saúde
As quedas entre idosos são comuns e é uma das principais causas de morte dessa faixa etária. Pesquisadores apontaram que é possível realizar testes de equilíbrios feitos por médicos com a capacidade de prever o risco de queda de idosos em até seis meses.
O estudo do Laboratório de Avaliação e Reabilitação do Equilíbrio (L.A.R.E.), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de são Paulo (FMRP-USP), mostrou que ampliar o tempo de execução de testes já realizados por médicos de 10 para 30 segundos são mais efetivos em prever possíveis riscos de quedas.
As quedas são um grave problema de saúde pública, podendo levar a ferimentos e fraturas sem maiores consequências e, em alguns casos, podendo reduzir a mobilidade ou até provocar a morte. Para evitar essas quedas, a recomendação é que idosos realizem anualmente testes de equilíbrio e de mobilidade em consultas de rotina.
Em geral, esses testes consistem em que a pessoa idosa permaneça por 10 segundos em ao menos uma dessas posições: com os pés paralelos (bipodal), com os pés ligeiramente à frente do outro (semi-tandem), com um pé na frente do outro (tandem) ou equilibrado em um pé só (unipodal).
A pesquisa científica publicada recentemente na revista BMC Geriatrics, apontou que ficar 10 segundos em uma dessas posturas é um tempo muito pequeno para identificar problemas de equilíbrio ou de mobilidade.
“A eficácia desse teste para identificar problemas iniciais de equilíbrio e prever quedas futuras ainda era incerta, principalmente porque 10 segundos podem ser insuficientes para uma avaliação completa”, disse Daniela Cristina Carvalho de Abreu, coordenadora do Laboratório de Avaliação e Reabilitação do Equilíbrio (L.A.R.E.) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
O estudo realizado entre 2015 e 2019 e apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) realizado com 153 pessoas entre 60 e 89 anos apontou que o teste pode ser mais efetivo quando o indivíduo consegue ficar em apenas duas das posições mais desafiadoras (tandem ou unipodal) e por 30 segundos em cada uma delas.
Os voluntários foram avaliados por um período de seis meses, fazendo tanto testes convencionais quanto os com o tempo ampliado. Quando essa amostra foi dividida entre os que caíram e os que não caíram seis meses após os testes, os pesquisadores observaram que o grupo que sofreu queda foi capaz de permanecer na posição unipodal por um tempo médio de 10,4 segundos e, na segunda posição tandem por 17,5 segundos, tempo superior aos 10 segundos com que ele é feito atualmente.
Já os voluntários que não caíram conseguiram se manter na posição unipodal por 17,2 segundos e na tandem por 24,8 segundos. Segundo os pesquisadores, os resultados apontam que os testes atuais são insuficientes para prever quedas futuras.
“O estudo demonstrou que o Teste de Equilíbrio [que estamos propondo] é eficaz na previsão de quedas nos próximos seis meses, sendo uma ferramenta valiosa para o rastreio do risco de quedas em idosos. Sua inclusão anual na Atenção Básica é recomendada, pois permite identificar idosos em risco, o que é fundamental para a escolha e o manejo das intervenções adequadas”, falou a coordenadora.
Segundo ela, os resultados do estudo indicaram que esse teste pode ser realizado em apenas duas posições (tandem e unipodal), com tempo de 30 segundos para cada uma. O teste simples e de baixo custo poderia facilmente ser incluído na Atenção Básica e em consultas com especialistas ajudando a prever e prevenir quedas futuras, defende a pesquisadora.
“O teste de equilíbrio proposto é simples e pode ser realizado em apenas duas posições, em espaços pequenos e sem a necessidade de equipamentos especializados. Ele requer apenas uma capacitação básica da equipe de saúde, podendo ser executado por qualquer profissional. Dessa forma, a implementação do teste na Atenção Básica e em outros serviços de saúde voltados para a população idosa não apresenta grandes barreiras, bastando incluí-lo no rastreio anual obrigatório para idosos", destaca.
Em seguida, os idosos poderiam ser divididos entre os risco de quedas (baixo, moderado e alto), permitindo a adoção de medidas de prevenção, promovam o envelhecimento saudável e reduzam os custos com o tratamento das lesões decorrentes das quedas.
Os testes de equilíbrio são apenas uma triagem. O estudo destaca que, além deles, seria ainda preciso fazer avaliações mais detalhadas para entender se o desequilíbrio está associado a fraqueza muscular, comprometimento sensorial ou problemas articulares, entre outros.