Novembro Azul: preconceito ainda é obstáculo para prevenção do câncer de próstata
Diagnóstico precoce possibilita mais de 90% de chances de cura
O mês de novembro chegou e a campanha “Novembro azul” ganha destaque. Diante do trabalho de conscientização, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) iniciou, no dia 1º, a campanha “Sou do time de quem se cuida. Pratique hábitos saudáveis”. Até agosto de 2023, foram registrados 303 novos casos de câncer de próstata no Estado. Em 2022, 509 casos diagnosticados. No Pará, como no Brasil, este tipo de câncer é o mais incidente em homens no Estado, atrás do câncer de pele não melanoma.
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A campanha começou com um seminário que vai até o fim do mês, com atividades realizadas pelos profissionais da Coordenação Estadual de Saúde do Homem, como ações educativas em canteiros de obras, oficinas nos Centros Regionais de Saúde, ações educativas e marcação de consultas nas atividades do TerPaz e das Usinas da Paz e o "Dia D" na Policlínica Metropolitana, em Belém. Estas ações contam com oferta de serviços como testagens, avaliações, vacinação, encaminhamento para consultas, entre outros.
Já a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) intensificará as ações de prevenção e atendimento relacionados à doença durante o mês, nas Unidades Básicas de Saúde, ampliando os serviços para os sábados, de 8h às 12h. O serviço com horário diferenciado acontecerá nas Unidades Saúde da Família (USF) onde funciona o Programa Saúde na Hora (Canal do Pirajá, Condor, Águas Cristal e Tapanã III). Os atendimentos também podem ser procurados nos horários regulares das Unidades de Saúde, de segunda a sexta-feira, de 8h às 17h.
Na última segunda-feira (6), o canal “Porta dos Fundos” lançou um vídeo abordando a campanha Novembro Azul e a conscientização sobre a prevenção do câncer de próstata. Com a participação do ator Antônio Fagundes, o assunto foi tratado de forma bem humorada e com linguagem explícita.
“Colocar o c*zinho pra jogo é a melhor forma de se prevenir contra essa doença, que é responsável por 28% das mortes quando se trata de neoplasias malignas. Logo, deixar o profissional cutucar o seu butico é a melhor escolha pra uma uma vida saudável”, diz o artista no vídeo.
A peça do canal de humor faz referência à resistência que muitos homens têm de realizar o exame de toque retal, um dos métodos diagnósticos do câncer de próstata, o segundo mais prevalente no sexo masculino no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.
De acordo com pesquisa realizada pelo Datafolha em 2017, encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o exame de toque “não é coisa de homem” para 21% dos brasileiros e “não é necessário” para 38% dos entrevistados acima de 60 anos, que constituem grupo de maior risco para a doença.
Segundo a psicóloga Patrícia Martins, especialista em Psico-Oncologia, o machismo tornou a realização do exame de toque retal um tabu. “O homem geralmente não procura e prefere fazer o PSA [Antígeno Prostático Específico], que é um exame de sangue, do que se submeter ao toque retal. Aí entra a questão do machismo, do quanto isso pode mexer com sua sexualidade. São barreiras psicossociais e da cultura, de colocar que isso não seria propício aos homens”, explica.
Diagnóstico precoce do câncer de próstata
Quanto mais cedo o câncer de próstata for detectado, maiores as chances de cura: o diagnóstico precoce possibilita mais 90% de sucesso do tratamento. O ideal é descobrir o tumor ainda na fase inicial, quando não costuma produzir sintomas. Quando já há manifestações clínicas, o tumor já está avançado, em 95% dos casos.
Daí a necessidade de fazer os exames preventivos regularmente, conforme as diretrizes preconizadas pelo Ministério da Saúde, e adotar um estilo de vida saudável, reduzindo os riscos do desenvolvimento de cânceres em geral.
Conforme o médico urologista Ricardo Tuma, o rastreamento do câncer de próstata é definido por alguns critérios. “Quando o indivíduo tem algum antecedente familiar de câncer de próstata, algum irmão ou pai que teve, a recomendação é que os exames comecem por volta dos 40, 45 anos, a cada seis meses. Quando não tem antecedente familiar, normalmente deve-se começar dos 45 aos 50 anos, uma vez por ano. Após os 60 anos, a doença tende a aumentar de incidência, então precisa fazer como rotina para todos os homens, a cada seis meses: ultrassom, PSA e toque retal”, detalha. “Mas existem também outros fatores de risco que podem influenciar na decisão do rastreamento, como a obesidade e a raça negra, pois negros têm mais câncer de próstata que brancos”, complementa.
“Então, o exame de toque é importantíssimo para se estabelecer o diagnóstico. Não adianta só o exame do PSA, porque em alguns casos o tumor produz uma quantidade pequena de PSA; em outros, um quadro inflamatório ou infeccioso pode aumentar o PSA e não ser câncer. O exame de toque indicará se tem ou não um nódulo que indique fazer uma biópsia”, informa o médico.
Cuidados
Segundo dados da Secretaria Municipal de Belém (Sesma), em 2022 foram atendidos, nas UBS de Belém, mais de 98 mil homens, na faixa etária de 45 a 80 anos e mais. Já neste ano, até o momento, foram registrados mais de 78 mil atendimentos voltados para esse público. A Sesma reforça que segue as recomendações do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer (Inca), para o rastreamento do câncer de próstata, obedecendo aos critérios já estabelecidos, como idade a partir dos 50 anos e os sintomas mais recorrentes.
Além disso, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) dispõe de profissionais capacitados para atender e orientar a população masculina. Também realizam ações de prevenção ao câncer de próstata e de autocuidado. Está disponível para esse público, em todas as unidades de saúde do município, diversos procedimentos, como aferição da pressão arterial, vacinação, exames, verificação de glicemia, educação em saúde, consultas médicas e testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites.
Em nota, a Sesma informou que cabe ao município, responsável pela atenção básica, a realização do exame Antígeno prostático específico (PSA). A partir desse procedimento, os pacientes que apresentem qualquer alteração são encaminhados para as unidades de referência nesse tipo de atendimento, vinculados às redes de saúde Estadual e Federal, para consultas com especialistas e exames de rastreamento mais específicos.
Superando o preconceito
Ricardo Tuma ressalta que é importante deixar preconceitos de lado para cuidar da saúde. “Essa questão precisa ser desmistificada, porque é um exame que não vai ferir a masculinidade de ninguém. É rápido, indolor, dura no máximo uns dez segundos. O toque é feito com a penetração do dedo indicador do médico, com luva e lubrificante, no canal anal. O paciente fica de barriga para cima, em uma posição parecida com a mulher quando faz o exame ginecológico”, esclarece.
A psicóloga Patrícia Martins aponta algumas estratégias para vencer as barreiras dos homens que se recusam a fazer o exame. “As formas de estimular a adesão ao exame são justamente o esclarecimento, a conscientização da importância desse exame, de diagnosticar um câncer em uma fase bem inicial. Mas é preciso também conversar com essa pessoa, ouvir seus medos, as suas dificuldades, essas barreiras que muitas vezes não são explícitas”, avalia.