Ministério da Saúde requisita estoque de intubação
Ordem de entrega dos fármacos foi feita na última quarta-feira e deve suprir a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) por 15 dias, com 665,5 mil comprimidos
O Ministério da Saúde requisitou os estoques da indústria de medicamentos usados para intubar pacientes, como sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares, que passaram a ficar escassos em alguns locais do País após a explosão de casos de covid-19 nas últimas semanas. Segundo a pasta, a ordem de entrega dos fármacos foi feita na quarta-feira, e deve suprir a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) por 15 dias, com 665,5 mil comprimidos.
Diversos hospitais e regiões do País têm apontado falta ou preocupação sobre risco de desabastecimento. Secretário executivo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira afirma que a alta de casos "voltou a trazer risco" de falta do produto. Ele afirma que o ministério fez entrega de medicamentos no fim de semana para garantir o uso em hospitais por 20 dias. "Pedimos para suspender as cirurgias eletivas, para que não haja concorrência por esses medicamentos."
O ministério também tem ordenado a entrega dos estoques de oxigênio de algumas empresas. A Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) cobrou nesta quinta-feira ações do governo Jair Bolsonaro para evitar a falta desse insumo.
O Conselho Federal de Farmácia (CFF), em nota, disse ver "com extrema preocupação a falta de medicamentos essenciais à qualidade da assistência e a manutenção da vida de pacientes em estado grave". Conforme o órgão, faltam bloqueadores neuromusculares, sedativos e outros medicamentos utilizados em terapia intensiva, como o midazolan, para intubação, e imunoglobulina, indicado para amenizar os sinais e sintomas da artrite reumatoide.
Segundo José de Arimatea Rocha Filho, farmacêutico hospitalar e membro do CFF, diz que o Sul tem a pior situação. "Santa Catarina estava bastante crítico e o Rio Grande do Sul também", diz ele, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. A unidade, informou, tem estoque desses medicamentos por até 40 dias e já ajudou hospitais da região.
No Hospital Paraná, em Maringá, o estoque de bloqueadores neuromusculares terminou na terça. "Ninguém morreu por isso, mas atrapalha muito o tratamento. Dificulta sincronizar o paciente com o respirador, a ventilação mecânica fica prejudicada", disse um médico da unidade, que pediu anonimato. Um intensivista do Rio Grande do Sul disse que os estoques de rocurônio, um tipo de relaxante muscular, estão baixos em hospitais de Porto Alegre.
Presidente do Conasems, Wilames Freire disse que solicitou ao ministério que acione a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) no continente, para a facilitar a importação desses remédios. "Estamos em uma situação que está se agravando a cada momento", afirmou. "A gente está com as dificuldades que o Brasil inteiro enfrenta. Está faltando anestésico, medicamentos de intubação, até mão de obra", comentou o prefeito de Araçatuba, Dilador Borges (PSDB). "Estamos lutando com as ferramentas que temos", disse.
O governo federal já teve de requisitar estoques do "kit intubação" entre junho e setembro de 2020, quando houve falta desses medicamentos em diversos locais. Sem o produto, equipes médicas têm dificuldade de intubar um paciente, por exemplo. Após esse período, os medicamentos voltaram a ser comprados pelos prestadores de serviço do SUS. Em nota, o ministério informou que monitora os estoques dos Estados.
Indústria diz que não há falta
O presidente do Grupo FarmaBrasil, que representa a indústria nacional de medicamentos, Reginaldo Arcuri, afirma que não há falta de produção. Ele diz que a indústria precisa receber demanda "clara e organizada". "O grande problema é que os hospitais demandam a sua necessidade para ser entregue tudo de uma vez. Ou querem, por razões até justificadas, fazer um estoque. Você não consegue atender todos os pedidos em período curto. O que precisa é articular."
Já o presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini, reconheceu que o uso dos produtos está acima "de qualquer estimativa". E afirmou que a indústria "está trabalhando para atender as necessidades". Disse que "se preocupa" com requisições de estoques, "pois isso pode desorganizar o mercado". Em nota, o Ministério da Saúde diz que as requisições não atingem produtos já vendidos pela indústria a Estados e cidades.
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