Maio Cinza chama atenção para o câncer de cérebro

O Inca estima o diagnóstico de 11.090 novos casos no país em 2021

Agência Brasil

O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) estima que serão diagnosticados este ano, no Brasil, 11.090 novos casos de câncer cerebral, sendo 5.870 homens e 5.220 mulheres. Atualmente, esse tipo de câncer ocupa a 10ª posição entre os tumores mais frequentes nas mulheres brasileiras e a 11ª entre os homens. Com o impacto da doença na vida dessas pessoas, o Maio Cinza vem conscientizar a população sobre a ocorrência dessa variação.

Esses números tendem a ser muito maiores se forem considerados, também, os tumores benignos do sistema nervoso central (SNC), que compreende o cérebro e a medula espinhal. Cerca de 88% dos tumores de SNC são no cérebro. A estimativa é que os tumores do SNC representem 3,1% do total de casos de câncer.

O cirurgião e chefe da Seção de Neurocirurgia do Inca, Antonio Aversa, explica que a exposição à radioterapia prévia, em anos anteriores, pode aumentar o risco de tumor intracraniano, ou seja, no cérebro. O neurocirurgião oncológico e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), Victor Vasconcelos, concorda que radioterapia e a exposição à radiação, como raios-X e tomografias em excesso, são fatores que aumentam o risco para o desenvolvimento de tumores cerebrais. Ambos ressaltam a importância do Maio Cinza para a conscientização da população para a prevenção dos tumores do cérebro.

Doença multifatorial

O câncer cerebral é uma doença multifatorial. “Fora a radioterapia, não tem nenhum outro fator ambiental ou familiar que aumente a chance da pessoa desenvolver um tumor cerebral. Sabe-se que tem algumas alterações moleculares genéticas que acontecem nesses tumores, mas em sua grande maioria não tem nenhuma causa identificada”, afirmou Aversa. Segundo o cirurgião do Inca, é importante que a pessoa, ao notar algum sintoma diferente, possa procurar o médico e começar o tratamento precoce. 

Dor de cabeça persistente e progressiva, vômito, convulsão, alterações visuais, motoras, da fala, formigamento são sintomas comuns em adultos e crianças, ressalta Victor Vasconcelos. “Esses são sinais de alarme, principalmente associados à dor de cabeça”, explicou.

Aversa salienta que crise epiléptica também pode ser sintoma de tumor no cérebro. “Principalmente em adultos na faixa etária de 40 a 50 anos, se aparecer crise epiléptica é preciso investigar logo, porque pode ser um tumor cerebral”, indicou. Os tumores cerebrais costumam ocorrer em pessoas adultas, em especial adultos mais velhos, embora sejam comuns na infância. “Os tipos de tumor sólido mais comuns na infância são os tumores cerebrais. Só perdem para as leucemias”. 

Nos menores de idade, esses sinais devem deixar os país em alerta para procurar logo um médico e pedir exame. Em crianças na faixa etária de 5 a 12 anos, esse é o câncer mais comum. Na rede primária de saúde, o atendimento é feito por um clínico ou neurologista; se for comprovada a alteração, o paciente é encaminhado para um atendimento neurocirúrgico e submetido a exames de tomografia e ressonância magnética.

Sobrevida

Segundo Aversa, o tumor maligno mais comum no cérebro é o glioblastoma. Esse é o tumor cerebral mais comum nos adultos e também o mais agressivo. “Quase sempre é fatal”. Mesmo com tratamento, consegue-se, no máximo, de dois até três anos de sobrevida, mas a cura é quase impossível, assegura.

Já alguns tumores menos agressivos, considerados de baixo grau de malignidade, podem ser tratados com sobrevida longa. Mesmo esses tumores podem ter sequelas graves para o paciente na área da visão, da fala e do movimento. Na infância, há tumores malignos que podem ser curados e apresentam taxa de cura de 70% a 80%. “O panorama nas crianças é bem melhor”, destaca Aversa. 

Quanto mais profundo no cérebro e, principalmente, se envolver a região do chamado tronco cerebral,  mais difícil é o tratamento e mais rápida é a evolução da doença. Não é possível remover toda a lesão. As superficiais são mais fáceis de serem retiradas e requerem radio e quimioterapia no pós-operatório.

Os tumores benignos chamados meningiomas, que aparecem nas membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, a maior prevalência é em mulheres. Quanto aos tumores malignos, a incidência entre os sexos é semelhante. É muito comum, por outro lado, que pessoas que têm câncer em outras regiões do corpo, como na pele, mama e pulmão, darem metástese no cérebro, gerando tumores cerebrais secundários, que não entram na listagem de tumores intracranianos primários. 

Victor Vasconcelos lembrou também a relevância de se falar no tema do tumor cerebral na véspera do Dia Mundial da Cefaleia, que se celebra amanhã (20). Aludiu ao caso das enxaquecas. “Dor de cabeça pulsátil, de forte intensidade, podendo ser acompanhada de náuseas e vômitos ou intolerância à luz ou ao som, incômodo com barulho ou cheiro forte, sugere uma dor de cabeça benigna e que merece algum tratamento, mas não nos alarma com relação ao tumor de cérebro”. Segundo o neurocirurgião oncológico, o que diferencia a enxaqueca do tumor cerebral é a progressão. “Ou seja, uma dor de cabeça que está piorando com o tempo ou pessoas que nunca tiveram dor de cabeça e começaram a ter crises. A mudança desse padrão é o que se deve frisar”, aponto Vasconcelos.

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Saúde
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