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Dia Mundial do Transtorno Bipolar reforça a importância da conscientização e do respeito

Segundo a OMS, cerca de 140 milhões de pessoas vivem com a condição no mundo. Especialistas esclarecem dúvidas sobre diagnóstico e tratamento

Hannah Franco | Especial em OLiberal
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Neste domingo (30), é celebrado o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, uma data voltada para conscientizar a sociedade sobre a realidade enfrentada por milhões de pessoas diagnosticadas com a condição. A data faz alusão ao aniversário do pintor holandês Vincent van Gogh, postumamente diagnosticado com a condição.

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é uma condição que se manifesta por meio de oscilações extremas de humor, alternando entre episódios de mania (euforia, impulsividade, hiperatividade) e depressão (tristeza profunda, desesperança, fadiga).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 140 milhões de pessoas convivam com o TAB, uma condição que pode impactar significativamente a vida pessoal, social e profissional.

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Diagnóstico complexo

O neuropsicólogo Francisco Guedes, do Centro Integrado Neuroevolução, destaca a complexidade do diagnóstico do TAB. "O diagnóstico é clínico e baseado nos critérios do DSM-5, realizado por psiquiatras, profissionais habilitados para prescrever medicamentos. Psicólogos também desempenham um papel fundamental na avaliação, por meio de avaliações neuropsicológicas e psicodiagnósticos", explica.

A similaridade dos sintomas do TAB com outros transtornos, como Transtorno Depressivo Maior, Transtorno de Personalidade Borderline e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), pode levar a erros de diagnóstico. "Para evitar erros diagnósticos, os profissionais realizam entrevistas clínicas detalhadas, aplicam escalas padronizadas e coletam informações sobre o histórico do paciente e de sua família", detalhou.

"A desinformação também faz com que muitos vejam a condição apenas como mudanças de humor, sem compreender a gravidade do transtorno", explica o neuropsicólogo Francisco Guedes.

Além dos desafios diários impostos pela condição, o estigma em torno do transtorno bipolar ainda é uma barreira para muitos pacientes. "A condição é cercada por estigmas, como a crença de que pessoas com TAB são 'incontroláveis' ou 'imprevisíveis'. Isso pode dificultar a aceitação do diagnóstico, levar ao isolamento social e atrasar a busca por tratamento adequado", alerta o psicólogo. 

Tratamento que vai além de medicamentos

A psiquiatra Daniele Boulhosa, diretora da Associação Paraense de Psiquiatria, destaca a importância do tratamento adequado para a condição. "O tratamento do transtorno bipolar não é só sobre tomar remédios, é sobre encontrar equilíbrio na vida. Os estabilizadores de humor, como o lítio, ajudam a controlar as oscilações, mas a terapia também é essencial. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ensina a reconhecer gatilhos e lidar melhor com as emoções. Além disso, conhecer a própria condição e ter apoio de quem entende faz toda a diferença", explica a especialista.

Para ela, além dos medicamentos e terapias, pequenas mudanças fazem um grande impacto na qualidade de vida. "Ter uma rotina de sono, um horário fixo para dormir ajuda a evitar crises. Além disso, fazer atividades físicas regularmente auxilia na regulação do humor, evitar álcool e excesso de cafeína pode prevenir oscilações emocionais, práticas como meditação e momentos de relaxamento diários são fundamentais, evitar o estresse com técnicas como meditação ou simplesmente reservando momentos de calma no dia e, principalmente, ter uma rede de apoio", disse a psiquiatra.

A especialista destaca a importância de quebrar tabus em torno dos transtornos mentais e de apoiar aqueles que convivem com o transtorno bipolar. "O primeiro passo é parar de tratar transtornos mentais como tabu. Pessoas com transtorno bipolar precisam ser vistas como qualquer outra pessoa: com desafios, mas também com capacidades e sonhos", afirma.

 

 

Desafios e aceitação

Para o professor universitário Marcel Franco, de 41 anos, receber o diagnóstico foi um processo esclarecedor. Ele descobriu a condição em 2009, na Clínica de Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde também realizou seus primeiros tratamentos, aos 26 anos. "O processo de entendimento da condição psicológica foi tranquilo e justificável por conta das variações de humor que apresentava há tempos. Nunca houve resistência em aceitar o TAB e tampouco ao tratamento", relata.

No entanto, para Malúcia Lopes, de 49 anos, a aceitação foi mais difícil. "Eu não queria aceitar, fiquei muito abalada com tudo aquilo, não sabia como agir. Foi aí que comecei o tratamento, muito remédio, só vivia dopada, não tinha mais vida, não queria mais ficar na minha casa e fiquei com medo. Eu queria estar perto de gente, e as pessoas não compreendiam", conta a dona de casa, que admite ainda ter dificuldades em aceitar o diagnóstico.

A psiquiatra Daniele explica que aceitar a condição realmente não é tão simples. "Nem sempre é fácil entender que a instabilidade emocional não é 'culpa' da pessoa, mas parte da condição", destaca. Além disso, os efeitos colaterais dos medicamentos podem ser um obstáculo para a continuidade do tratamento.

"O preconceito ainda existe, e isso pode fazer com que muita gente evite buscar ajuda por medo do julgamento", enfatiza a psiquiatra Daniele Boulhosa.

Esse foi o caso de Marcel, que, apesar de ter utilizado medicação por um longo período, optou pela redução gradual junto ao médico. "Decidimos reduzir os medicamentos até o não uso deles devido às minhas queixas de indolência, redução das faculdades mentais e libido", explica. No entanto, ele ainda faz uso de ansiolíticos em momentos de crise. "Evito ao máximo a dependência, porque sabemos que não há cura em matéria de problemas psicológicos, mas sim controle", afirma.

A experiência de Malúcia também seguiu um caminho semelhante. "Eu fui parando de tomar os remédios porque já estavam me fazendo muito mal. Então, eu tive que buscar outras possibilidades. Faço terapia, cursos que me ajudam a evoluir e conheço pessoas que também passam por isso. Uma ajuda a outra. Também faço atividade física, que me auxilia muito", relata.

A importância da rede de apoio

Além dos desafios do próprio transtorno, os portadores do TAB também enfrentam o preconceito. "As pessoas não aceitam a doença e acham que isso é frescura, é querer chamar a atenção dos outros, mas só sabe quem vive", desabafa Malúcia. "A gente se sente só, porque todo mundo se afasta", acrescenta.

Para Marcel, a falta de conhecimento sobre a condição dificulta a aceitação social. "Os principais desafios que tenho como portador de TAB são a falta de empatia e o desconhecimento das pessoas sobre a doença. Pouca gente sabe lidar com a variação de humor da mania à depressão, não entende os picos de euforia e tudo mais que advém da bipolaridade", explica o professor.

Ele reforça a necessidade de ampliar os debates sobre a condição. "Minha família tem buscado aprender sobre TAB, sabem como lidar e contornar as situações nos momentos de crise. Mas seria ideal que houvesse uma educação psicológica contínua nos organismos sociais e educacionais sobre uma condição que afeta grande parte da população, muitas vezes sem diagnóstico", destaca.

O psicólogo Francisco Guedes enfatiza a importância da compreensão da sociedade. "É essencial que a sociedade compreenda que o transtorno bipolar é uma condição tratável e que, com o suporte adequado, as pessoas que vivem com o transtorno podem levar uma vida produtiva, plena e equilibrada", reforça o especialista.

Atendimento gratuito em Belém

Para quem precisa de acompanhamento psiquiátrico e psicológico, Belém conta com unidades especializadas que oferecem atendimento gratuito:

Casa Mental do Adulto (24h)

  • Avenida José Bonifácio, 930, São Brás
  • Telefone: (91) 3226-0111

Casa Mental da Criança e do Adolescente

  • Av. Duque de Caxias, em frente ao SESI
  • Telefone: (91) 3228-2997
  • Atendimento: Segunda a sexta, 7h às 19h

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS):

  • Caps Icoaraci (Caps I): Rua 15 de Agosto, 845. Telefone: (91) 3227-9137
  • Caps Amazônia (Caps II): Passagem Dalva, 377, Marambaia. Telefones: 3231-2599 / 3238-0511
  • Caps Renascer (Caps III): Travessa Mauriti, 2179, bairro da Pedreira. Telefone: (91) 3261-9010
  • Caps Grão-Pará (Caps III): Rua dos Tamoios, 1840, Batista Campos. Telefone: (91) 3269-6732
  • Caps Marajoara (Caps AD III): Conjunto Cohab, Nova Marambaia. Telefone: (91) 3231-1481

Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informa que o serviço de atendimento psicológico também está disponível gratuitamente em Unidades Básicas de Saúde (UBS) em diversos bairros de Belém.

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