Dia Mundial da Obesidade: doença tem influência genética e vai além da alimentação, diz especialista
No Pará, 1.120 cirurgias bariátricas foram realizadas em 2023 e 2024
O Dia Mundial da Obesidade foi instituído no dia 4 de março, pela Federação Mundial de Obesidade, para conscientizar sobre a doença crônica que afeta todas as faixas etárias. Na data, o cirurgião Carlos Armando Ribeiro, de Belém, reforça a importância da prevenção à obesidade, que possui causas multifatoriais e vai além dos hábitos alimentares. Ele também destaca a necessidade de combater o estigma enfrentado por quem vive com a enfermidade.
O que é obesidade?
A obesidade é uma doença caracterizada pelo excesso de gordura corporal, além de ser multifatorial, crônica, progressiva e recidivante, é o que explica o especialista. Para o diagnóstico, é feita uma triagem com base no Índice de Massa Corporal (IMC), que calcula a relação entre peso e altura ao quadrado. É considerada obesidade grau 1 quando o índice ultrapassa 30, com categorias que avançam até o grau 5.O padrão de distribuição da gordura corporal também é uma referência de diagnóstico, especialmente a gordura visceral, que se acumula na região abdominal e envolve órgãos como o coração. Esse tipo de gordura está associado a um maior risco de infarto, câncer e outras doenças graves.
"É importante reforçar que a obesidade é uma doença muito complexa. Não é apenas um distúrbio de comportamento, mas uma condição multifatorial. A pessoa não ganha peso porque quer, a doença tem múltiplas causas e o fator genético é muito forte. Se ambos os pais têm obesidade, o filho já nasce com 50% de chance de desenvolvê-la. Além disso, o mundo atual é pautado pelo consumo de ultraprocessados e pelo uso excessivo de celulares, o que contribui para a perpetuação da doença", afirma.
O especialista reforça que a obesidade é considerada uma doença independentemente da presença de outras doenças relacionadas, podendo ser classificada em diferentes estágios: clínico e pré-clínico.
Para diagnosticar a obesidade clínica, é necessário avaliar a distribuição da gordura corporal e a presença de doenças associadas, como hipertensão, diabetes, gordura no fígado e apneia do sono. Já a obesidade pré-clínica acontece quando há excesso de gordura corporal, mas sem danos aos órgãos. Nesse caso, a abordagem deve focar na prevenção, como prática de atividade física e acompanhamento com uma equipe multidisciplinar, a fim de evitar a progressão da doença.
Impactos sociais e psicológicos
O especialista reforça que a obesidade pode impactar profundamente o psicológico, afetando a autoestima e o comportamento social. O paciente pode se isolar por diversos motivos: dificuldade para cruzar as pernas, limitações ao comprar roupas no shopping, obstáculos ao utilizar o transporte público e, até mesmo, dificuldades para conseguir um emprego. Ele relata que, após a cirurgia, muitos demonstram mais confiança e sociabilidade, contrastando com a insegurança que apresentavam antes do tratamento.
"Essas pessoas sofrem preconceito em casa, na sociedade e até nos consultórios médicos. A gente não critica alguém porque enfartou ou tem câncer, por que criticar quem tem obesidade? Esse estigma precisa acabar para que possamos tratar os pacientes de forma ética e acolhedora, de forma mais precoce, evitando que eles se afastem do tratamento", reflete.
Tratamento e Prevenção
O tratamento da obesidade envolve reeducação alimentar, prática de exercícios físicos e abordagens clínicas ou cirúrgicas. A cirurgia bariátrica é considerada para pacientes que não obtiveram sucesso com outras estratégias e atendem a critérios específicos, como IMC acima de 40 ou IMC de 35 com comorbidades. Além disso, a cirurgia metabólica pode ser indicada para pacientes com IMC a partir de 30 e diabetes de difícil controle.
"É importante destacar que o tratamento da obesidade não se resume à cirurgia. É fundamental o acompanhamento com a equipe médica, a mudança no estilo de vida e na relação com a comida, além da prática regular de exercícios físicos para garantir o controle da obesidade a longo prazo. Sendo uma doença crônica, o tratamento deve ser contínuo", destaca.
Ele ressalta que a prevenção da obesidade deve começar na infância, com o incentivo a um estilo de vida equilibrado, ativo, com baixo nível de estresse e com qualidade de sono e alimentação. Por fim, o médico sugere a implementação de políticas públicas que taxem ultraprocessados e tornem alimentos orgânicos mais acessíveis.
Jovem compartilha como superou a obesidade e mudou o estilo de vida
A estudante de nutrição Gabriela Melo, de 24 anos, compartilha a trajetória de superação ao perder mais de 60 kg e adotar hábitos mais saudáveis. Após uma vida inteira tentando perder peso sem sucesso, ela se deparou com limitações físicas e percebeu que não conseguia mais aproveitar os momentos com os amigos. Há dois anos, ela procurou ajuda médica e decidiu realizar a cirurgia bariátrica.
No pós-operatório, ela conta que enfrentou dificuldades iniciais com a dieta líquida, mas a adaptação foi gradual e a redução do apetite facilitou a transição para novos hábitos alimentares.
Embora a cirurgia bariátrica seja um passo importante, a estudante destaca que “a gente opera o estômago, mas não opera a cabeça. A cirurgia em si não é milagrosa, ela precisa da nossa contribuição para funcionar", ressalta.
Ela também nota a diferença no tratamento das pessoas após a mudança de aparência. "Sempre fui carismática, mas a aparência física ainda importa muito. Mesmo com o tamanho grande, parece que as pessoas não me enxergavam e depois passaram a enxergar", destaca.
Para Gabriela, o segredo do sucesso está na mudança de hábitos. “Hoje, me considero uma pessoa totalmente diferente. Eu me sinto mais bonita, mais disposta e, principalmente, mais feliz. Agora consigo aproveitar as coisas e sair, sem me sentir mal comigo mesma. Quando você percebe o que a alimentação e o exercício físico trazem, você não vai querer voltar pro mesmo estilo de vida que tinha antes", conclui.
Programa 'Obesidade Zero' realizou 1.120 cirurgias bariátricas em dois anos
No Pará, o programa “Obesidade Zero” oferece tratamento gratuito para a obesidade por meio da cirurgia bariátrica desde setembro de 2020. Nos últimos dois anos, o Hospital Jean Bitar (HJB) realizou 1.120 procedimentos, com uma média de 47 cirurgias bariátricas por mês, segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Para participar do “Obesidade Zero”, o primeiro passo é se cadastrar no site oficial do programa, disponível no portal da Sespa. O paciente deve preencher uma autoavaliação, responder a um questionário e esclarecer dúvidas. Após essa etapa, basta aguardar o contato do HJB para o agendamento da primeira avaliação clínica com a equipe de Endocrinologia.
"O atendimento inicial consiste na triagem, para verificação do peso, altura e Índice de Massa Corpórea (IMC). Considerando o resultado da avaliação e as doenças associadas à obesidade, a equipe de especialistas decide se o paciente deve ou não passar pela cirurgia bariátrica. Os pacientes que não se enquadram para o procedimento são encaminhados para tratamento clínico da obesidade no ambulatório do Hospital", informa a Sespa.
De acordo com a Secretaria, devem buscar o "Obesidade Zero" todas as pessoas que possuam IMC acima dos 40 kg/m2 ou aquelas que possuam entre 35 kg/m² e 40 kg/m² com alguma das doenças relacionadas à obesidade, como diabetes, hipertensão arterial, gordura no fígado ou colesterol alto.
Para mais informações, acesse o site do programa.
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