Brasil irá distribuir vacina contra a dengue em 2024
O imunizante será distribuído para grupos e regiões prioritárias do país. A vacinação deve começar em fevereiro de 2024.
O Brasil se tornou, nesta quinta-feira (21), o primeiro país do mundo ofertar a vacina contra a dengue de forma gratuita no sistema público universal. O Ministério da Saúde realizou a incorporação do imunizante, que passou pela avaliação da Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec).
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A vacina, chamada de Qdenga, não será distribuída em larga escala neste primeiro momento. Isso se deve ao fato de que o laboratório fabricante, Takeda, ainda tem uma capacidade restrita para o desenvolvimento das doses. Sendo assim, a primeira vacinação gratuita contra a dengue será destinada para grupos e regiões prioritárias do Brasil.
“O Ministério da Saúde avaliou a relação custo-benefício e a questão do acesso, já que em um país como o Brasil é preciso ter uma quantidade de vacinas adequada para o tamanho da nossa população. A partir do parecer favorável da Conitec, seremos o primeiro país a dar o acesso público a essa vacina, como um imunizante do SUS. E, até o início do ano, faremos a definição dos públicos alvo levando em consideração a limitação da empresa Takeda do número de vacinas disponíveis. Faremos priorizações”, explicou a Ministra da Saúde, Nísia Trindade.
A escolha dos públicos e regiões prioritárias será feita pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), junto com a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI). A expectativa é que nas primeiras semanas de janeiro a estratégia de imunização já estará concluída.
O Laboratório Takeda informou que terá a capacidade inicial de desenvolver 5.082 milhões de doses entre os meses de fevereiro de novembro de 2024. A imunização será feita através de duas doses da vacina.
Confira abaixo o cronograma para entrega das doses de vacina durante o ano de 2024:
- Fevereiro: 460 mil
- Março: 470 mil
- Maio: 1.650 milhão
- Agosto: 1.650 milhão
- Setembro: 431 mil
- Novembro: 421 mil
“Essa incorporação representa o nosso compromisso com a vida, pois nós fomos o primeiro sistema de saúde público do mundo a garantir vacinas disponíveis para a população. A perspectiva é de que o Ministério da Saúde adquira as doses disponíveis, contribuindo com a estratégia geral para o combate à dengue. No processo de incorporação conseguiu-se uma redução de 80% do preço inicialmente apresentado, representando uma economia de mais de R$380 milhões de reais que será direcionada para a saúde da população. O passo seguinte é estimular a capacidade produtiva do país, incentivar os processos de inovação e transferência de tecnologia para ampliar a oferta de produtos para a população”, explicou o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS), Carlos Gadelha.
“A inclusão da vacina da dengue é uma importante ferramenta no SUS para que a gente possa avançar e para que a dengue seja classificada como mais uma doença imunoprevenivel. O PNI terá agora a missão, em conjunto com a CTAI, de definir esse público prioritário que será vacinado diante da limitação de doses oferecidas pelo laboratório. A vacina é mais uma estratégia entre as várias frentes que estamos adotando para mitigar os efeitos da chegada do verão sobre os casos de dengue no país. Está em funcionamento a Sala Nacional de Arboviroses onde monitoramos a situação do país e trabalhamos em conjunto com estados e municípios para aprimorar estratégias. Esse trabalho em conjunto é fundamental”, explica a secretária Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel.
A vacina Qdenga é aprovada para a prevenção da dengue em indivíduos na União Europeia (UE)/Espaço Econômico Europeu (EEE) — incluindo todos os Estados-Membros da UE e Irlanda do Norte, bem como países do EEA (Islândia, Liechtenstein, Noruega) e Grã-Bretanha. Nestes países a orientação é vacinar os viajantes para áreas endêmicas. Indonésia e Tailândia também aprovaram o registro da vacina, assim como a Argentina, que ainda não incorporou o imunizante ao sistema de saúde local.
Processo de incorporação transcorreu com celeridade
A decisão que oficializou a distribuição da vacina no Brasil foi realizada na última quarta-feira (20), pela Conitec, e levou em consideração a necessidade de o país possuir mais uma alternativa para enfrentar a doença. Com a imunização, espera-se reduzir casos de hospitalização pela doença em hospitais.
A estratégia será uma soma as ações que os órgãos de saúde já realizam para prevenir a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o que inclui o controle da proliferação do inseto.
Para dar mais rapidez ao processo de incorporação da vacina, a consulta pública sobre a tecnologia foi realizada em caráter de urgência, por um período reduzido de 10 dias, e recebeu mais de 2 mil contribuições. Ainda durante as negociações com o fabricante, o Ministério da Saúde conseguiu uma redução de 44% no custo por dose: passando da oferta inicial de R$ 170 para R$ 95.
Além disso, a comissão também recomendou que futuros estudos da empresa Takeda levem em consideração a realidade do Brasil e estejam aliados com as necessidades do PNI. O imunizante Qdenga tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com indicação para prevenção de dengue causada por qualquer sorotipo do vírus para pessoas de 4 a 60 anos de idade, independentemente de exposição prévia.
A Dengue é uma doença que possui muitas formas de manifestação, podendo ser assintomática ou apresentar formas graves, que podem causar a morte do paciente. Entre os sintomas da infecção estão: fraqueza muscular, sonolência, recusa da alimentação e de líquidos, vômitos, diarreia ou fezes amolecidas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até junho de 2023, ocorreram 2.162.214 de casos e 974 mortes por dengue no mundo. Em 2022, foram notificados 2.803.096 casos de dengue na Região das Américas, sendo a maior parte deles no Brasil (2.383.001), que também liderou a ocorrência de formas graves, juntamente com a Colômbia.
“O ano de 2023 foi realmente diferente. Tivemos essas mudanças ocasionadas pelo fenômeno do El Niño. E, depois de muito tempo, encontramos os quatro sorotipos (1, 2, 3 e 4) circulando ao mesmo tempo no Brasil, uma situação bem incomum”, informa a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, quanto à alta na quantidade de registros da doença.
Ante à projeção de aumento de casos no Brasil nos próximos meses, o Ministério da Saúde vai investir R$ 256 milhões no fortalecimento da vigilância das arboviroses. A pasta também inaugurou a Sala Nacional de Arboviroses (SNA), espaço permanente que vai permitir o monitoramento em tempo real dos locais com maior incidência de dengue, chikungunya e Zika para preparar o Brasil em uma eventual alta de casos dessas doenças nos próximos meses.
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