Ressocialização é grande desafio nas prisões do Pará
Apenas 1.700 internos dos cerca de vinte mil estão vinculados a atividades laborativas. Susipe avalia que falta sensibilidade dos empresários.
A ressocialização ainda é um desafio para presos e ex-presidiários no Pará diante da carência de oportunidades de trabalho. Quem avalia é o diretor de reinserção social da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe), Ed Wilson Nascimento, que destaca a importância de sensibilizar os empresários para que eles enxerguem, nesse contexto, uma oportunidade de negócio, mantendo o ambiente carcerário produtivo, educacional e assistencial, diminuindo, assim, o índice de reincidência.
A avaliação repercute a declaração do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que defendeu, na segunda-feira (06), que as empresas brasileiras contratem pessoas que cumprem pena ou que deixaram o sistema prisional. Para o ministro, é importante que os empresários contribuam com o processo de ressocialização.
"Esse ideário do ministro faz com que os empresários dispertem para essa simpatia. Faz com que a sociedade perceba que é fundamental que as pessoas sejam produtivas no intracárcere. Queremos ter indivíduos que pensem na volta à sociedade, não em delinquir, roubar ou matar novamente. Eles precisam criar vínculos que permitam uma convivência sadia com a comunidade, sempre pautando a cidadania, os princípios constitucionais", comentou Ed Wilson.
Internos vinculados a atividades laborativas
São aproximadamente 20 mil internos no Estado (cerca de dez mil condenados e cerca de dez mil provisórios). Apenas 1.700 estão vinculados a alguma atividade laborativa, por meio de convênio com a Tramontina, Prefeitura de Belém e por meio de atividades da própria Susipe.
Meta
No entanto, a meta é conseguir que pelo menos 50%, ou seja, mais de três mil internos estejam vinculados a essas atividades. Para isso, a Superintendência já desenhou o projeto para a construção de um parque industrial dentro do sistema penal.
"Foi decidido repaginar o que temos no semiaberto, que é a Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel. Nossa equipe já tem desenhada a ideia para separar áreas para empresários, onde queremos trabalhar com suinocultura, piscicultura, fabricação de blocos, detre outras atividades produtivas. Estamos construindo um ambiente para que tenham esse parque industrial dentro do sistema penal", adiantou Ed Wilson.
"Os empresários terão menos custo com local e pessoal. Queremos apenas a expertise deles no processo de gestão e produção, empregando pessoas".
O ideal
"Mas o ideal, a médio e longo prazo, é que todos os internos de uma casa penal estejam vinculados a atividades laborativas e educacionais. Somente quando uma pessoa do sistema prisional trabalha, estuda, tem assistência religiosa e à saúde e tem a família vinculada é que podemos diminuir o número de reincidência. Quando o interno participa de todas essas atividades, o índice de reincidência cai para menos de 5%", detalhou o representante da Susipe.
Com o convênio com a Tramontina, os internos trabalham com a produção de madeira, cabos, cadeiras e outros. Com o convênio com a Prefeitura de Belém, há limpeza e manutenção de canais. Na Susipe, há trabalho de marcenaria com a produção de móveis, produção de flores, vassouras. "Um conjunto de atividades que ainda são embrionárias, mas que queremos dotar de capacidade industrial", acrescentou Ed Wilson.
OPORTUNIDADE DE TRABALHO
Cristiane Maria dos Santos tem 44 anos e está no cárcere há 11 anos. Ela recebeu sentença de quase 37 anos de prisão e responde como coautora pelo crime de latrocínio sendo acusada de ocultar sobre os fatos. Cristiane está no regime semiaberto e conta que a vida no cárcere é difícil. Mas afirmou que muita coisa melhorou a partir de 2009, quando se envolveu em projetos e teve oportunidades de trabalhar.
Ela já cumpriu 1/6 da pena sendo seis anos no regime fechado e os demais no semiaberto.
“Acabei sendo presa em uma fase que durou cerca de seis meses na minha vida, pois, aos 30 anos, fiz escolha errada me envolvi com más camaradagens. Depois de um ano que fui presa, tive oportunidade de trabalhar e estudar. Já trabalhei no CRF de Marituba como cozinheira e agora faço serviços gerais na Susipe", contou.
"Além disso, palestro no projeto Papo de Rocha, levando minha experiência para os demais presos, para motivá-los a não reincidir no crime. Aquele lugar é difícil e vejo que muitos precisam de mais oportunidades de emprego e ainda sofremos preconceitos pela sociedade. Graças a Deus tive oportunidade de mudar, abracei isso e minha vida mudou”, detalhou.
Além das oportunidades oferecidas na prisão, ela diz que para vencer é necessário ter fé e força de vontade. “Tem que acreditar em Deus e querer mudar de vida. Parei de estudar na quarta série do ensino fundamental e, agora, estou no segundo ano do ensino médio com bolsa na Fábrica Esperança"
"Meu objetivo é luta e ter toda minha liberdade de volta ano que vem e montar meu restaurante, pois adoro e sei cozinhar”, concluiu.
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA