Solidariedade: voluntários dedicam tempo para ajudar pessoas e reúnem histórias inspiradoras
Colaboradores ajudam a levar comida e itens básicos aos mais vulneráveis, resgatar usuários de substâncias químicas e colocar mantimentos nas mesas de milhares de famílias
A solidariedade é um pilar essencial para o progresso e a construção de uma sociedade mais justa. Mas, ela não alcançaria as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade se não fosse o trabalho voluntário de quem contribui incansavelmente para causas sociais, dedicando tempo e energia a ajudar instituições e projetos que levam comida e itens básicos a pessoas em situação de rua, resgatam usuários de substâncias químicas e colocam mantimentos nas mesas de milhares de famílias. No mês que celebra o Dia Internacional do Voluntário, em 5 de dezembro, é preciso lançar luz sobre trajetórias inspiradoras de quem pratica o voluntariado.
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Membro de três projetos sociais, a empresária Sofia Paz começou a atuar como voluntária em 2016, ajudando a levar jantar para pessoas em situação de rua no grupo Corrente do Bem Belém. A motivação foi simples: quando se tornou uma mãe solteira, aos 24 anos, Sofia foi muito ajudada pelos amigos e teve uma rede de apoio que a ajudou com alimentação e emprego para que ela pudesse recomeçar sua vida. Ao se estabilizar, decidiu fazer o mesmo por pessoas em vulnerabilidade social.
Hoje, Sofia ajuda o Missão Belém, que acolhe pessoas em situação de rua; o AuFamily, que acolhe animais; e o Pernoh, que trabalha com cursos profissionalizantes gratuitos. Além disso, ela é fundadora do Pará Solidário, sendo responsável, inclusive, pela criação do apadrinhamento, almoço do Jurunas, construção da primeira sala de aula no Aurá, criação do projeto de construção de casas e outras ações que contam com o apoio de madrinhas e padrinhos.
Vivência
A melhor experiência disso tudo, segundo Sofia, é conhecer pessoas que ajudam outras. “Saber que estamos em uma cidade onde a solidariedade é muito forte e poder ter contato direto com as histórias e vidas que mudamos ao longo de sete anos que estou nessa jornada”, comenta. Por outro lado, a empresária conta que chora muito ao se deparar com situações de vulnerabilidade, mas, ao mesmo tempo, sabe que mudará a situação de alguma forma, seja ouvindo, doando alimentos, dando acesso à educação ou profissionalizando. “Não tem como ser forte, são histórias muito tristes e nos abalam emocionalmente diariamente”, relata.
Mesmo assim, ela incentiva todos ao seu redor a virarem voluntários - não apenas participando de ações de projetos, mas com tempo, dinheiro, serviços e até mesmo divulgando as atividades. “Todo mundo pode ajudar e ajuda. O voluntariado transforma nosso meio. O voluntário mostra para as pessoas mais pobres que existe amor e dedicação por ela, dá força para a mãe cuidar dos filhos, educa para que eles tenham opções e escolhas”. Na opinião de Sofia, ter alguém para se espelhar é muito importante para uma criança, que passa a conhecer um mundo novo e volta a sonhar, apesar das dificuldades.
Participação
Já o servidor público Thyago Rezende começou a ser voluntário bem jovem, entre 15 e 16 anos de idade, na década de 1990. O início de tudo para ele foram os movimentos religiosos - na época, fazia parte da Juventude Espírita e da Associação Espírita Caminheiros do Bem. “Ali eu me envolvi nas atividades sociais. A gente atendia famílias vulneráveis do Jurunas, idosos, crianças e também a população de rua. Cheguei a coordenar atividades e depois eu comecei a formar grupos de amigos e nunca parei”, lembra.
O voluntário hoje é membro da Missão Belém e do Bem Querer, que atendem pessoas em situação de rua; a diferença é que a primeira entidade faz o abrigamento dessa população, com acolhimento e restauração dos corações, enquanto na segunda o atendimento é direto na rua. “Um trabalho apoia o outro. No Bem Querer a gente atende levando comida, fazendo escuta fraterna e aqueles que querem sair da rua a gente encaminha para a Missão Belém”, conta. Thyago também faz outro trabalho social, sem um grupo à frente, que é o apoio aos indígenas Warao, refugiados venezuelanos.
Nos três casos, o foco das ações é a arrecadação de alimentos, de material de higiene, material de limpeza, de móveis, de roupas e de remédios e, principalmente, a escuta fraterna, ouvindo as necessidades e tentando empaticamente entender a situação do outro. “Diariamente, nós temos experiências marcantes e inspiradoras. Uma coisa que é muito forte para mim é ver as pessoas conseguirem viver por sua própria conta, reconstruir sua vida, restaurar seu coração, recomeçar e arranjar sua casa, um trabalho e reconstruir os laços familiares. Isso é muito forte e nos inspira”, ressalta o servidor.
Desafios
O maior desafio para quem trabalha com voluntariado, na opinião de Thyago, é transformar o conceito de “caridade” em “justiça social”. O que começou para ele como uma forma de ajudar outras pessoas hoje é também uma luta por mais igualdade e direitos garantidos. É esse olhar, segundo o voluntário, que dá forças diante das dificuldades e da dor do outro. “A proximidade com a dor do outro me torna mais humano, porque eu alcanço a minha humanidade”.
Thyago tenta influenciar todos ao ser redor a se tornarem voluntários como ele, mas também respeita o tempo de cada um. O seu pai, por exemplo, que é médico, hoje faz um trabalho fixo na Missão Belém, atendendo mensalmente todos os idosos da instituição. Vários amigos do servidor público também fazem parte do grupo.
Para ele, o trabalho voluntário é essencial para a sociedade. Como o governo não consegue atuar em todas as frentes da melhor forma, o voluntário acredita que cabe às pessoas uma organização para ajudar quem mais precisa. “Não tem como a gente viver em uma sociedade tão desigual como a nossa. Enquanto eu estou com a mesa cheia aqui e tem uma pessoa na minha porta que não come há dias é impossível ser feliz”, declara.
É esse humanismo que impulsiona esses voluntários a seguir adiante, inspirando aqueles ao seu redor a também se engajarem nessa nobre missão de fazer a diferença na vida dos que mais necessitam.
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