Projetos têm objetivo de reduzir a produção de lixo

Reaproveitamento de resíduos orgânicos também é um dos focos das iniciativas

Elisa Vaz

A sustentabilidade do planeta está em pauta há muitos anos, mas esta é uma discussão que tem se intensificado por conta das mudanças climáticas. Diante dos hábitos da vida contemporânea, uma meta desafiadora, mas que é urgente e pode contribuir com a saúde do meio ambiente, é a aplicação de estratégias que ajudem a reduzir o lixo no mundo. Mas essa conquista passa pela conscientização da sociedade, que precisa participar do processo adotando gestos simples e transformadores.

Um projeto para garantir a produção de adubo a partir de vários materiais descartados, inclusive copos e guardanapos, é uma das ações desenvolvida pela Embaixada da Itália no Brasil, que tem procurado reduzir a produção de lixo e é a primeira embaixada do mundo a ter a certificação "Lixo Zero" - para chegar no patamar, era preciso dar a destinação correta a pelo menos 90% dos resíduos que iriam para um aterro sanitário.

Em Belém, nas entidades públicas e privadas, há várias iniciativas que estimulam essa conscientização acerca do lixo, seja por meio da compostagem, destinação correta dos resíduos, reaproveitamento de materiais e outras ações. Pelo governo do Estado, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) tem um trabalho na capital que promove a capacitação de agricultoras de comunidades de Mosqueiro para a fabricação de sabão, para uso próprio e comercialização, a partir de óleo usado por lanchonetes e restaurantes.

O produto é doado pelos estabelecimentos, que são acionados pela Emater. Com a devida orientação pelos extensionistas, todo o processo de armazenamento recicla garrafas, potes e vasilhas, além do óleo recolhido. A chefe do escritório local da Emater em Belém, engenheira ambiental Camila Salim, explica que o intuito é gerar renda para as mulheres agricultoras e também ensinar o destino correto do óleo vegetal usado, que poderia contaminar os recursos hídricos. Ele é uma matéria-prima para fabricação do sabão artesanal, não impactando o meio ambiente.

“As capacitações do sabão artesanal surgiram quando eu e meu marido resolvemos abrir uma hamburgueria, então eu pensei: vou utilizar o óleo gerado de fritura para matéria-prima da fabricação do sabão, assim dou a destinação correta e sustentável para esse resíduo. E as agricultoras retornam o sabão artesanal para a hamburgueria, é o máximo. O sabão tem uma história de sucesso, pois ele é ambientalmente correto, enquanto o óleo pode contaminar os recursos hídricos e comprometer a fauna e a flora”, diz.

De acordo com a Secretaria de Saneamento de São Paulo (Sabesp), um litro de óleo pode contaminar até 25 mil litros de água. Isso porque suas substâncias não se dissolvem na água e, quando despejadas nos cursos d’água, causam descontrole do oxigênio e a morte de peixes e outras espécies. Em contato com o solo, há contaminação e mais sujeira. Ao lançar o óleo de cozinha na pia, vaso sanitário ou ralo, o resíduo acumula-se nas paredes dos canos e retém outros materiais que passam pelo local. Além de entupimentos, a engenheira afirma que haverá ‘infarto’ do sistema de esgoto, com sérios problemas para manutenção das redes e custos mais altos para fazer consertos e reparos.

Outra ação da Emater nas ilhas próximas da capital paraense são as oficinas usando o papelão como material principal. Ele é encontrado descartado, poluindo o meio ambiente, mas, com técnicas de artesanato, pode ser transformado em embalagens de presente e possibilita um acréscimo inicial de 5% no orçamento familiar da mulher capacitada. Como o material de reciclagem é facilmente encontrado em descarte, são confeccionadas embalagens que podem ser comercializadas nos valores entre R$ 10 a R$ 15, a depender do tamanho.

“A reciclagem do papelão é de extrema importância para o meio ambiente. Como sabemos, o papel é produzido através da celulose de determinados tipos de árvores. Quando reciclamos o papel ou compramos papel reciclado, estamos contribuindo com o meio ambiente, evitando que árvores sejam derrubadas e  contribuindo com a geração de renda dos agricultores familiares, com a venda das caixas personalizadas de papelão. Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. É o que diz a Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º”, destaca Camila.

Prefeitura faz ações ambientais

Já por parte da administração municipal de Belém as ações são outras, mas seguem a mesma linha. O coordenador de educação ambiental da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), Mauro Ribeiro, afirma que os projetos são variados e todos visam à destinação correta dos resíduos e ao reaproveitamento, atingindo também as ilhas, as comunidades próximas aos canais e igarapés de Belém e as escolas municipais.

“Temos o trabalho de orientação dos moradores, por exemplo, lá na avenida Pedro Miranda. Nós já passamos várias vezes e dialogamos com os comércios, lojas, ambulantes, feirantes sobre a destinação correta, o uso de materiais reciclados e o descarte dos seus resíduos em pontos comerciais e domicílios nos horários corretos. A gente vem fazendo isso desde o ano passado. Nas ilhas nós iniciamos um processo de coleta no Condu, Murucutum, Ilha Grande, Ilha Dourado, com a destinação de materiais dos resíduos domiciliares. E ao mesmo estamos incentivando que as pessoas segreguem seus materiais, separando os quadros para destinar às cooperativas. Nas ilhas teremos oficinas sobre compostagem e oficinas sobre reaproveitamento do óleo de cozinha”, destaca.

Ainda há os encontros de educação ambiental com as comunidades da capital, nos bairros Barreiro, Sacramenta, Marambaia, Cidade Velha, Juruna, Guamá e outros, onde o objetivo é socializar com a população e os moradores. Mauro ressalta a importância do manejo correto de resíduos sólidos, assunto que é passado a essas pessoas. “Eles trazem grandes problemas e impactos ambientais, como obstrução da drenagem, poluição visual, hídrica, do solo, atmosférica. Então, a gente orienta a população a destinar corretamente seus resíduos em sua residência”, pontua o coordenador. Ele também diz que, dessa forma, o cidadão toma consciência da importância da responsabilidade com o seu resíduo. Segundo ele, a sociedade como um todo precisa assumir sua responsabilidade, para, assim, tornar a cidade mais sustentável, atrativa ao turismo e a negócios sustentáveis, e que gere emprego e renda.

Universidade tem atividades sustentáveis

Dois projetos principais são desenvolvidos pela Faculdade Maurício de Nassau (Uninassau). Um deles é o “Sabão do Bem”, iniciativa que tem o objetivo de auxiliar na redução dos impactos ambientais que o descarte irregular do óleo provoca no solo e recursos hídricos da região. Em parceria com a Prefeitura de Belém, a ideia é promover oficinas, cursos de capacitação, workshops, entre outras atividades que vão auxiliar comunidades da capital paraense na produção de sabão a partir da reutilização do óleo de cozinha.

Outro projeto é voltado para a compostagem, alternativa fácil e barata que pode ser feita em qualquer ambiente e tem o intuito de contribuir para a redução dos impactos ambientais. O processo transforma o lixo orgânico em adubo natural, e o material pode ser usado na agricultura, em jardins e plantas, substituindo o uso de produtos químicos. Pode ser feita em grande escala ou em casa, além de ser uma destinação final para este tipo de resíduo.

Para isso, é necessário ter os resíduos corretos, que podem ser restos vegetais como galhos, folhas e raízes, ou cascas de frutas e excrementos, em menor escala. A compostagem contribui no reaproveitamento de resíduos, não causando, assim, poluição e nem descarte de forma inadequada.

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