Prática de consumo consciente transforma crianças em cidadãos engajados
Ao ensinar crianças sobre a importância de pensar antes de comprar, elas podem se tornar agentes de mudança em prol de um futuro sustentável. Economista dá dicas.
Ao ensinar crianças sobre a importância de pensar antes de comprar, elas podem se tornar agentes de mudança em prol de um futuro sustentável. Economista dá dicas.
A crescente preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade gerou a necessidade de ensinar as crianças sobre o consumo consciente. Como comprar de forma desenfreada e irresponsável tem resultado em consequências ambientais, compreender desde cedo a importância de escolhas responsáveis é um passo crucial para a formação de cidadãos engajados e conscientes de seu impacto no planeta - ao ensinar crianças sobre a importância de pensar antes de comprar, elas podem se tornar agentes de mudança em prol de um futuro sustentável.
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Na opinião da advogada, que é também dona de um brechó e organizadora de eventos na área, o atual momento é de consequências causadas por ações do homem, e ensinar a filha a ser mais consciente, orientando sobre os impactos que suas ações têm sobre o planeta, pode diminuir essas consequências em gerações futuras.
“Costumamos levá-la a museus em Belém e quando viajamos, como, recentemente, o Museu do Amanhã e o Projeto Tamar. Desde cedo ela demonstra muito interesse e preocupação. Ela costuma participar do meu dia a dia nos garimpos de peças para o meu brechó, que já faz parte da nossa renda familiar, e, desde cedo, ela e seu irmão mais velho convivem com peças ‘second hands’ (de segunda mão), inclusive em seu próprio guarda-roupa”, relata Ana.
A filha do engenheiro ambiental Patrick Ramos, de 31 anos, também acompanha a rotina de trabalho do pai - além de estar presente, a pequena Isadora, de sete anos, participa ativamente do dia a dia da empresa onde ele é diretor geral. O pai começou incluindo a filha em seu ambiente de trabalho e criando um espaço dedicado à produção de artesanatos com materiais reciclados; daí surgiu o setor “A salvação da natureza criativa”, nome criado por Isadora e sua prima Sophia, que também escolheram os próprios cargos: artistas de sustentabilidade. As crianças hoje têm crachás e uniformes adequados.
“Essa abordagem ajudou a engajá-las no projeto, criando um ambiente de trabalho sério, mas também amigável. Conforme o setor se consolidava, começamos a pensar na monetização dos serviços prestados. Foi quando tivemos a ideia de criar uma moeda própria para a empresa, chamada Ramoney. Essa moeda não tinha o objetivo de atribuir um valor fixo aos serviços prestados por elas, evitando assim uma rotulação precoce. Ao invés disso, o Ramoney foi criado para que pudéssemos negociar o preço dos artesanatos que elas produziam. Esse ponto da evolução do projeto foi interessante, pois elas produziam os artesanatos e depois negociávamos o valor da venda”, lembra Patrick.
A filha chegou até a criar o próprio negócio, o “DOD Fruit”, carrinho de picolés saudáveis. A venda é feita apenas no escritório do pai e de um tio, usando o Ramoney como pagamento. Segundo o engenheiro, essa iniciativa fez Isadora aprender desde cedo sobre o valor do dinheiro, empreendedorismo e sustentabilidade. Ela também já tem uma conta bancária digital, acompanhada de um cartão, onde o pai deposita dinheiro para que ela possa realizar seus próprios pagamentos quando saem juntos.
Patrick não teve esse ensinamento quando criança, mas resolveu ser um exemplo para a filha, de sete anos. Na opinião do engenheiro, conhecer melhor o dinheiro é um dos principais pilares da educação infantil. “Não envolve apenas o ato de consumir, mas também de saber o que se quer e do que realmente se precisa. Ao compartilhar essa jornada com minha filha, mostro a ela que não precisa de um brinquedo específico para ser feliz, mas sim ter clareza sobre o que deseja brincar e do que é necessário para isso. Ensino que ela não precisa vincular seus sentimentos ao desejo de ter sempre mais”, afirma.
Ao crescer em um ambiente consumista, é provável que a criança se torne um adulto com problemas financeiros, na avaliação do economista Valfredo de Farias. “Conheço várias pessoas que ganham muito bem, algumas que ganham R$ 50 mil por mês e são todas enroladas e vivem nesse ambiente consumista, o tempo todo estão consumindo coisas de alto padrão, de luxo, muito em cartão de crédito, e fazendo compras pela internet. Isso chega a ser uma espécie de doença, essa compulsão por compra. É um padrão consumista que eles adotaram ao longo da vida”, comenta.
Para tornar as crianças menos consumistas e, consequentemente, adultos menos endividados, é preciso que os pais levem a sério o valor do dinheiro e repensem seu padrão de consumo. Afinal, como lembra Valfredo, as crianças são espelhos dos pais, então, se os mais velhos têm uma rotina de muito gasto, provavelmente o filho também terá, com algumas exceções.
Um dos erros dos pais, na opinião do economista, é quando querem dar aos pequenos o que não tiveram em sua infância e adolescência, criando um mal costume. “O que acontece, principalmente na nossa geração de pais, é que a gente quer dar para o nosso filho o que a gente não teve. Então, geralmente, você vê o seguinte: se o pai ou a mãe teve muita dificuldade na sua infância, adolescência, na sua juventude, começa a dar tudo de bom e do melhor para o filho. Isso é um erro porque você torna essas crianças, além de consumistas, pessoas que não sabem receber não”, argumenta. Confira no infográfico algumas dicas de como ensinar um consumo mais consciente às crianças.