Organizações sociais conquistam confiança da sociedade por meio da transparência
Prestação de contas, gestão e resultados claros e alinhamento com a legislação ajudam projetos sociais a terem mais credibilidade
A atuação de projetos sociais que têm como foco acolher e ajudar grupos em situação de vulnerabilidade contam com o apoio da população para manter as atividades em dia, seja por meio de auxílio financeiro ou com campanhas específicas de doações.
Para que esse relacionamento seja possível e continue dando resultados, critérios e mecanismos de transparência devem ser seguidos pelas organizações sem fins lucrativos, para garantir a confiança da sociedade e dos doadores.
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Segundo alguns estudiosos, o instrumento apresenta quatro dimensões no terceiro setor, incluindo transparência na prestação de contas, em gestão e resultados, em nível inicial de atendimento e em aspectos legais.
Um dos exemplos de boas práticas no Pará é a Organização Não Governamental (ONG) Arte pela Vida, que atua há quase três décadas acolhendo e fazendo arrecadações para pacientes diagnosticados com HIV/Aids.
Na opinião do coordenador do projeto, Francisco Vasconcelos, a transparência pode contribuir para a consolidação do terceiro setor como um agente fundamental de transformação social. Nos 27 anos de existência da organização, o grupo tem prezado pela credibilidade e investe em ações que estimulem a confiança de quem ajuda o projeto a se manter há tanto tempo.
“Nós sempre fizemos questão de dar essa resposta para a sociedade e, por isso, eu acho que até hoje nós estamos com credibilidade perante toda a sociedade. Nós postamos em nossas redes, mandamos cartas de agradecimento, mandamos fotos dos eventos, porque eu acho de extrema importância que as ações sejam bem claras e transparentes para toda a sociedade”, comenta.
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Alguns dos mecanismos adotados pelo Arte pela Vida são a divulgação de tudo que é realizado por meio de aplicativos de mensagens, redes sociais e imprensa; prestação de contas; criação de relatórios e listas do que é feito a cada ano; e convite para que os doadores compareçam às ações e reuniões a fim de entender como o trabalho é feito no dia a dia junto ao público atendido. Um desses encontros é o café de acolhimento, realizado todo mês com os pacientes portadores de HIV/Aids.
“Quando prestamos conta, criamos uma sensação de credibilidade e ganhamos o respaldo de ter as portas abertas onde quer que batamos em prol de alguma causa. Além de prestar contas financeiramente, também divulgamos todos os nossos eventos e chamamos as pessoas, os doadores, para fazerem as entregas conosco, para estarem presentes e saberem a realidade e para onde vão as doações”, ressalta o coordenador.
Justamente por ter esse comprometimento com a sociedade, o Arte pela Vida nunca teve problemas com falta de confiança, e sempre pode contar com a ajuda do público para promover ações em prol do público atendido.
Cuidados
Francisco Vasconcelos afirma que existe um “grande problema” entre as organizações sem fins lucrativos no Pará atualmente, que é a falta de regularização junto aos órgãos de controle. Qualquer inconsistência de dados e informações financeiras, segundo ele, pode prejudicar a inclusão dos projetos em editais e portarias, por exemplo.
“O que acontece, infelizmente, com muitas organizações é que, devido à falta dessas prestações de conta, inclusive no Ministério Público, elas acabam ficando inadimplentes. Isso é uma pena muito grande. Todo esse dinheiro público que é doado pelos cidadãos, que pagam impostos, às vezes deixa de ser declarado e, pela falta de uma boa prestação de contas, grande parte das nossas entidades hoje estão inadimplentes. Por isso não concorrem em editais, porque tem que estar com tudo em dia”.
Com isso, Francisco considera que os projetos do terceiro setor que não cumprem suas obrigações acabam perdendo a possibilidade de realizar ações e campanhas por meio de publicações oficiais, o que interfere em um trabalho que tem sido conquistado durante muitos anos, diz o coordenador do Arte pela Vida. Não ter transparência, portanto, acaba prejudicando o público que está em vulnerabilidade social e que precisa dos atendimentos.
Confiança
Outro grupo que investe na transparência de suas atividades para impactar ainda mais pessoas é a Missão Belém, movimento religioso católico voltado para o atendimento e acolhimento de pessoas marginalizadas nas “periferias humanas”. As atividades incluem: acolhida-restauração da população de rua em residências familiares; acolhida permanente a pobres doentes crônicos egressos da rua; missões de rua realizadas de forma ininterrupta; grupos de evangelização; e missão no Haiti.
Um dos voluntários do grupo, Thyago Rezende, afirma que projetos sociais, principalmente os não governamentais ou não institucionalizados, são a própria sociedade civil agindo. Ou seja, se não houver confiança por parte da sociedade, o trabalho não vai existir e nem caminhar. “Hoje em dia vemos tanta mentira, tanta farsa, tanta fraude, tanta enganação. Todos os projetos sociais precisam mostrar à sociedade o que eles estão fazendo para ganhar essa confiança e para que a própria sociedade possa atuar junto deles”, opina.
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Na opinião do voluntário, a transparência é essencial para qualquer trabalho hoje em dia, especialmente quando envolve dinheiro. Portanto, Thyago acredita que, se os projetos quiserem se posicionar de forma séria e garantir a ajuda da sociedade nas ações, devem estabelecer uma base de confiança por meio da transparência, mostrando onde os doadores investiram e que, de fato, aquela ajuda foi direcionada para um fim social.
“Em todas as atividades que fazemos, já estamos bem consolidados diante da sociedade, até porque sempre convidamos as pessoas que ajudam a conhecer o trabalho, ver onde o dinheiro está sendo investido, e prestamos contas de tudo que está entrando, mostrando aonde o dinheiro foi direcionado e de que forma está sendo utilizado para atender às demandas de todos os grupos com os quais trabalhamos. Então já temos a confiança da sociedade”, declara.
O importante nesse caso, segundo Thyago Rezende, voluntário da Missão Belém, é que a população veja que aquele trabalho está dando resultado, não apenas no assistencialismo. “Quando eles veem que o dinheiro está, realmente, sendo investido em ajuda a essas pessoas, não apenas assistencialismo, mas também de forma a trazer de vida e propostas de futuro, elas confiam no trabalho e têm mais segurança. Então, além de mostrar as notas, gosto muito de levar as pessoas até o local para que conheçam e sintam o que é aquele projeto social, de que forma aquele projeto atinge os corações e salva vidas. Isso faz com que o trabalho, realmente, se estabeleça”.
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