ONG Zoé leva ações de saúde ao Tapajós

O município de Belterra receberá mais duas expedições no mês de junho

Desde 2019, centenas de exames e consultas foram realizadas gratuitamente pela Organização Não-Governamental (ONG) Zoé na região do Tapajós, oeste paraense. A entidade foi fundada em São Paulo (SP) com o propósito de levar saúde especializada à populações remotas da Amazônia, encurtando espaço e tempo de espera por procedimentos médicos, e levando saúde sem fronteiras na região.

Desde sua criação até março de 2023, a Zoé realizou 16 expedições para assistência médica de populações ribeirinhas do Rio Tapajós, nas regiões de Belterra, Aveiro e oeste de Santarém, no Pará. Nesse período, mais de 3.274 atendimentos foram realizados através das mãos de 158 voluntários, todos profissionais da saúde com histórico pessoal de atendimento à população da Amazônia.

O médico cirurgião e colonoscopista, Marcelo Averbach, que foi um dos fundadores da ONG, conta como tudo começou. “Apesar da organização ter sido fundada recentemente, nossa paixão por esse trabalho voluntário é mais antiga. Em 2009, fui convidado para participar de uma expedição embarcada e foi uma experiência fantástica, verdadeiramente transformadora. Ali, passamos uma semana ofertando atendimento médico, quando pude conhecer a população da Amazônia. Gente bonita, rica, mas carente de assistência médica.

“Após ver que nós podemos fazer a diferença na vida daquelas pessoas, nossos olhos se abriram. No ano seguinte, em 2010, tivemos a oportunidade de fazer um atendimento a uma comunidade indígena chamada Zoé, de onde vem o nome da nossa ONG. Eles moram no noroeste do Pará. Eles são considerados índios isolados, vivem sem energia elétrica, caçam de arco e flecha, vivem da caça e falam tupi-guarani. Após realizarmos os exames necessários, diagnosticamos cinco mulheres com algum problema cirúrgico e ali realizamos as cirurgias, levando mais qualidade de vida para aquelas famílias. Desde então, nunca mais paramos de nos organizar para levarmos ações como essas para a região”, relembra Averbach.

Apoio da iniciativa pública e privada

Nas expedições da Zoé são realizadas duas modalidades de atendimento: embarcado, em embarcações no rio Tapajós, e em terra, usando estrutura de hospitais das cidades, com apoio das Prefeituras, detalha Averbach. Duas expedições, uma de cada forma, devem ser realizadas no mês de junho na cidade de Belterra.

image Atendimentos também podem ser realizados à bordo (Divulgação / ONG Zoé)

“Nos atendimentos embarcados, ficamos em duas embarcações, a Abaré I e Abaré II. Em terra, nós contamos com apoio do poder público. Em Belterra, por exemplo, contamos com apoio da Prefeitura Municipal, onde estamos desenvolvendo um trabalho bem bacana nessa cidade, participamos inclusive da inauguração do Centro Cirúrgico, onde nós fizemos a primeira cirurgia laparoscópica”, diz o médico cirurgião.

Averbach complementa que, além dos apoios do poder municipal, a ONG também atua com patrocínio de empresas privadas. “Todo nosso trabalho depende de doação externa. Hoje, temos doadores, pessoas físicas; alguns doadores importantes, que são grandes empresários; mas também têm empresas que doam ou emprestam equipamentos para os atendimentos médicos. Nós levamos para as expedições e ao final, devolvemos”, conta.

É através da rede municipal de saúde que os pacientes chegam até os médicos da entidade. Marcelo diz que os agentes comunitários, que acompanham os moradores da região mais de perto, são os responsáveis por fazer a triagem, verificar quem necessita realizar exames ou cirurgias, e fazer o convite para participar da expedição.

Cura do câncer

Entre os procedimentos ofertados aos moradores da região, estão cirurgias de hérnia, tratamentos de varizes, exames de endoscopia, colonoscopia e ultrassons. Foi por meio desses serviços que Francisco Pereira dos Santos, 64, descobriu um câncer e, posteriormente, alcançou a cura.

Francisco é agricultor, mora na comunidade Santo Antônio do Travessão, do município de Mogi dos Campos. Em 2017 ele foi diagnosticado com câncer colorretal, isto é, câncer no intestino, por meio de exames realizados pela equipe da ONG Zoé. Apesar do início ter sido difícil, hoje, ele demonstra gratidão pelo atendimento recebido.

“Há cinco anos atrás, a ONG Zoé esteve aqui em Belterra fazendo um trabalho de exames e a agente de saúde que me acompanha me convidou pra participar. Entretanto, eu recusei duas vezes. Então pela terceira vez, ela me advertiu, que se eu não fosse, ela não iria mais se importar comigo. Então eu participei. Fiz exame de colonoscopia com o doutor Marcelo, quando fui diagnosticado com câncer no intestino. Foi a partir desse resultado que pude me cuidar”

Ele lembra que por intermédio daquele atendimento, hoje pode dizer que está livre do câncer. “Busquei auxílio, consegui consulta no Hospital Regional de Santarém e ainda no mesmo ano eu fiz a cirurgia que foi muito bem sucedida. Tive uma recuperação fantástica e hoje estou muito bem. Venho fazendo acompanhamento e inclusive, no meu último retorno médico eu pude ouvir que estou curado”, diz emocionado.

“Eu estava resistente, eu não sentia nada. E quem trabalha na agricultura trabalha todos os dias, não quer perder sequer um dia de produção, o que era o meu caso. A insistência da agente de saúde foi coisa de Deus porque se eu não tivesse feito aquele exame naquela época, hoje seria mais difícil para ser curado”, finaliza Francisco.

Trabalho voluntário

Para os voluntários da ONG, não são apenas as comunidades locais que são beneficiadas com as expedições. O bem também é realizado na vida de quem serve e empresta seus dons e talentos para ajudar o próximo, atesta Marco Aurélio D’Assunção, médico endoscopista que também faz parte do grupo de fundadores da entidade.

“O trabalho voluntário é difícil. A gente precisa abrir mão de muitas coisas para servir o próximo, trabalhando em situações adversas. Mas o ganho pessoal e espiritual, é imensurável. Todos voltam para São Paulo de forma diferente. É uma experiência transformadora e apaixonante”, relata o médico.

“Além do sentimento de satisfação, também tem o sentimento de tristeza por ver uma região tão rica e tão bonita, cheia de pessoas boas, porém com o serviço público de saúde tão desprezado pelos governos. Isso não é um problema novo e sabemos que não se resolve também do dia para a noite, mas cabe a nós, organizações não governamentais realizar um atendimento de excelência. Com pouco tempo de ONG, já temos mais de mil médicos cadastrados, além de profissionais de todas as áreas, marketing, logística, e afim, que fazem nossos planos possíveis e entregam muitas horas de trabalho voluntário”, finaliza Marco Aurélio.

 

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