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Espaço de acolhimento para crianças e adolescentes com câncer e outras doenças busca doações

Famílias ganham lugar para dormir, alimentação e medicamentos durante tratamento. Entidade depende da ajuda social.

Elisa Vaz

O tratamento contra o câncer infantojuvenil pode ser doloroso para as mães que acompanham a criança ou o adolescente aos exames, consultas e terapias. No caso de quem mora no interior do Estado e precisa se deslocar até a capital em busca do acesso a um serviço gratuito e de qualidade, o impacto financeiro e psicológico se torna ainda maior. A Casa do Menino Jesus, localizada na avenida Castelo Branco, em Belém, tem como objetivo principal amparar os pacientes e seus familiares durante todo o processo da luta contra o câncer, que pode ser longo e inconstante, por meio da oferta de um lar, com direito a comida, local para dormir, medicamentos e espaços lúdicos. Pacientes da mesma idade com problemas cardíacos e renais também são acolhidos no local, sempre com a presença de uma acompanhante do sexo feminino.

Dentro do abrigo cabem 60 pessoas, contando com os pacientes e uma acompanhante para cada, que pode ser mãe, tia, avó ou mesmo irmã, se for maior de idade, mas atualmente 18 pessoas estão abrigadas. A casa acolhe crianças e adolescentes que fazem algum tratamento para câncer, como quimioterapia e radioterapia, ou para problemas de coração e renais. "A mãe chega no hospital pensando que seria só uma consulta, mas descobre que, lamentavelmente, vai ter que passar meses na capital ou até anos, a depender do organismo de cada paciente. Então ela e a criança ficam conosco durante todo esse período, porque não têm familiares na cidade, não sabem andar em Belém, e a assistente social do hospital indica. Cada um recebe seis alimentações diárias e mais o que a criança precisar, como transporte, vestuário e medicamento. Se a casa tiver, não é nosso, é deles", ressalta a coordenadora do abrigo, Alda Menezes.

Muitas mulheres, segundo a líder do espaço, chegam a Belém até de outros Estados que não contam com tratamento adequado e gratuito. Na opinião de Alda, dar esse acolhimento é a maior importância do projeto. Além de ajuda financeira, outra parte essencial em que a população pode ajudar é com a doação humana, indo visitar o espaço e passando tempo de qualidade com as crianças e os adolescentes. O local tem dormitórios e banheiros compartilhados, refeitório, cozinha semi industrial, quadra de esportes coberta doada e construída por uma empresa de engenharia, brinquedoteca, biblioteca e sala de televisão. A coordenadora diz que ter várias atividades lúdicas ajuda os pacientes a esquecerem a dor do tratamento momentaneamente.

Histórias

Dona de casa, Maria Deusilene, de 45 anos, descobriu que o filho, na época com um ano e sete meses, tinha leucemia há cerca de quatro anos. Ela morava em Macapá (AP) com o marido e os cinco filhos, mas precisou se mudar para Belém em busca do tratamento, indisponível em seu Estado. Foi acolhida na Casa do Menino de Jesus, onde permaneceu por mais de três anos, sendo dois de quimioterapia e um ano e meio acompanhando a doença de forma contínua, mas fora de tratamento. Justo no dia em que a equipe de reportagem esteve no abrigo, a mãe do pequeno paciente se despedia do espaço para retornar ao seu lar.

"Deus tem nos ajudado. Passamos por muitas coisas. Com menos de dois anos, descobrimos que o Carlinhos tinha câncer porque deu um tumor na garganta dele, que ficou negro e inchado. Com 13 dias internado, ele teve um AVC, mas não ficou com sequelas. Durante o tratamento ficou muito mal, não andava, só carregado por dois meses, e com a quimio voltou a andar. Até aqui não teve recaídas, está curado. Precisava até fazer transplante de medula, mas Deus foi muito bom. Estou indo embora hoje, só vitória, com o filho curado", comentou, emocionada. Maria disse que volta a Belém daqui a quatro meses para acompanhar a leucemia, como precaução. "Se Deus quiser vai dar tudo certo", adiantou.

Já a lavadora de roupas Divanil Alves, de 38 anos, continua na Casa do Menino Jesus. Ela acompanha os três filhos que sofrem do mesmo problema: anemia falciforme. Duas deles, gêmeas de quatro anos, também têm problemas cardíacos. "Quando vim para cá estavam com dois anos, agora estão com quatro. Sou de Bagre e vim por causa do tratamento, vou até levar eles ao médico hoje", comentou a mãe. Ela lembrou, durante a entrevista, que, logo no início do quadro, chegou a voltar para Bagre depois de as filhas serem internadas, mas elas pioraram e precisaram dar entrada no hospital novamente porque necessitavam de sangue. Agora ela só voltará ao município onde mora quando o tratamento for concluído.

Divanil descobriu a casa de apoio por meio de uma assistente social do Hemopa. Por não ter condições de alimentar os filhos na capital e nem ter onde ficar com eles, se abrigou na Casa do Menino Jesus, onde está até hoje. "Em Bagre não tem casa de apoio e aqui não tinha onde ficar. Toda vez que vinha não fazia direito o tratamento, as consultas e exames, porque tinha que terminar e pegar o barco para voltar. Ficava difícil ir e vir. E não adiantava ficar na rua porque eles precisavam beber e comer e eu não tinha condições", lembra a mãe dos três pacientes.

Hoje o menino e as gêmeas adoram passar tempo no espaço, porque podem brincar e correr. "Eu sempre falo que a Casa do Menino Jesus é um aprendizado. Quando a gente chega aqui nunca sai como entrou. Eu acredito que eu aprendo muito mais com eles quando recebo um abraço, quando eles falam ‘tia, eu tô com saudade’ ou ‘tia a casa tá bonita’. Essa é a maior importância para mim, com 30 anos realizando esse aprendizado, que eu nunca chamo de trabalho", declara a coordenadora Alda Menezes.

Doações

O trabalho voluntário só é possível porque a Casa do Menino Jesus recebe muita ajuda da sociedade. Por exemplo, o grupo Semear doa alimentação e medicamentos, e a população em geral também colabora. "Eu acredito que há um ser divino muito maravilhoso que nos ajuda a manter o espaço, porque não é fácil manter um trabalho com 60 pessoas apenas com doações e com a generosidade de cada pessoa que passa na nossa casa, com certeza é algo muito divino, não pode ser humano", aponta Alda.

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Embora durante o período mais grave da pandemia a situação tenha ficado mais difícil, nunca faltou nada no espaço. O que preocupa a coordenadora é a falta de constância nas doações e a incerteza de ter ou não alimentação disponível. Além disso, ela tem o intuito de fazer uma "caixinha" para custear despesas extras que os pacientes possam precisar. "Nós vivemos ainda uma situação de muita inconstância. Nesses dois anos que passamos pela situação de pandemia, a casa não fechou. Permanecemos. Poucas casas de Belém ficaram abertas. Passamos esses dois anos com muita dificuldade, mas como a casa é divina, não faltou doação. Teve dia que tinha quase 100 pessoas, entre crianças, mães e funcionários, mas tocava a campainha e era um filho de Deus com uma cesta básica", relembra.

Para quem deseja participar e ajudar a manter a rotina dos pacientes e seus familiares abrigados, basta comparecer ao local ou entrar em contato por telefone ou pelas redes sociais. É possível doar itens básicos, como alimentação, material de limpeza e de higiene pessoal e remédios, mas também móveis usados ou novos, como camas, bicamas e armários, além de roupas e presentes para as crianças, dada a chegada do Natal. Também é possível fazer transferência bancária pela chave PIX casameninojesusbelem@gmail.com.

Como ajudar

Casa do Menino Jesus

Endereço: Travessa Francisco Caldeira Castelo Branco, n° 1403, entre as avenidas Gentil Bittencourt e Conselheiro Furtado, no bairro de São Brás

Telefones (91) 98271-1256 e (91) 3259-0525

O que doar: Alimentação, material de limpeza e de higiene pessoal, remédios, móveis usados ou novos, roupas e presentes de Natal para as crianças

PIX: casameninojesusbelem@gmail.com

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