Data conscientiza sobre cuidados contra a Aids, doença desencadeada pelo HIV

Pacientes com Aids recebem acolhimento e podem viver normalmente com tratamento

Elisa Vaz
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O Dia Mundial de Luta contra a Aids, data celebrada em 1º de dezembro, busca conscientizar a sociedade quanto à doença: como é transmitida, tratada e como vivem os seus portadores. Embora o preconceito em relação a esta condição tenha diminuído e quem vive com a Aids tenha uma rotina normal, muito ainda precisa avançar para que a população tenha pleno entendimento de como o vírus se manifesta.

A Aids é a doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, da sigla em inglês), que pode ser contraída de várias formas. Como explica o diretor da Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas Parasitárias Especiais (Uredipe), entidade ligada ao governo do Pará, Cláudio Levy, a diferença entre os dois quadros é que a Aids é a doença, decorrente da presença do vírus HIV no organismo. Ele pode ser transmitido por meio do sangue humano infectado, por lâminas e agulhas usadas por portadores, atividade sexual e por meio vertical, quando a mãe passa ao bebê ainda durante a gravidez.

Embora uma pessoa tenha nascido já contaminada com o HIV, não necessariamente quem possui o vírus terá a doença. “É possível que a pessoa não manifeste; isso vai depender do tempo de incubação do vírus e da situação do organismo do indivíduo, que pode fazer com que o HIV fique em latência, até o paciente apresentar alguma debilidade nutricional e imunológica que facilita esse ‘start’ no vírus, e aí vai infectar outras células. Mas o vírus, hoje, pode ser prevenido com uma série de cuidados: não compartilhar agulhas e lâminas de outras pessoas; usar preservativo; caso sofra um acidente, não ficar exposto ao sangue de alguém que possa estar contaminado; entre outros. A doença vai aparecer caso a pessoa tenha sido infectada e não tratada, mas o vírus em si pode ser adquirido em qualquer fase da vida, desde bebês até adultos”, afirma.

Em geral, a Aids só é detectada quando o indivíduo apresenta debilidade, perda de peso, diarréia e doenças oportunistas, que são as que acometem o portador do HIV, já que o vírus é capaz de minar o sistema imunológico e elas ficam mais propensas a aparecer. Embora não exista uma doença específica, as mais comuns são a tuberculose e a toxoplasmose, podendo deixar sequelas visuais e neurológicas, por exemplo. Aos primeiros sinais de alerta, Cláudio Levy diz que é preciso fazer um rastreio por teste sorológico, sendo o mais comum o teste rápido, capaz de identificar o HIV.

Após descobrir que é soropositivo, o paciente deve buscar o tratamento adequado, para garantir qualidade de vida. “Os cuidados são medicamentosos. O paciente passa a tomar medicamentos antivirais, recomendados pelo Ministério da Saúde e distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Aqui no Estado eles chegam pela Uredipe e Casadia. A partir desse momento, ele faz outros testes para saber a quantidade de vírus que está na circulação, se o medicamento está combatendo o vírus. O índice vai reduzir até ser indetectado”, comenta.

Para que isso seja possível – viver normalmente mesmo sendo portador da Aids – o diagnóstico precoce é essencial, na avaliação do especialista. “Quanto antes melhor. Hoje a disponibilidade de testagem é bem ampla, tem nas Unidades de Saúde da capital e no interior do Estado, com capilarização muito grande. Na Uredipe todo dia tem. O diagnóstico precoce é importante para evitar justamente as doenças oportunistas, que são as que têm as maiores repercussões na vida do paciente. Mas hoje em dia a tecnologia permite o controle e o tratamento dessa doença. Embora seja tida como crônica, o paciente tem uma vida normal. E utilizando o medicamento, a tendência é de que o vírus desapareça”.

Cláudio acredita também na importância da conscientização. Para ele, o Dia Mundial de Luta contra a Aids é uma forma de chamar a atenção da sociedade para o HIV, disponibilizando várias ferramentas para evitar a contração do vírus, mas, caso a pessoa fique infectada, saiba como tratar e consiga viver. “A data é para dizer que a pessoa ter um diagnóstico sororreagente não é sentença de morte. É uma infecção ainda cheia de preconceitos e estigmas, isso impede a procura do tratamento a tempo de se ter uma vida normal, muitos procuram quando estão debilitados, por medo e vergonha. Temos que trazer luz, possibilidades de prevenção, tratamento e sensibilização sobre a doença. É normal e não traz prejuízo para a sociedade”, pontua o diretor da Uredipe.

Comitê acolhe pacientes

É justamente nessa fase do “luto” que os pacientes soropositivos chegam ao Comitê Arte pela Vida, uma Organização Não Governamental (ONG) voltada para o acolhimento desse grupo. Um dos coordenadores, Francisco Vasconcelos, explica que já são 25 anos de luta em prol das pessoas que vivem com HIV/Aids no Estado do Pará, sob a ótica dos direitos humanos. “Atuamos dentro das Unidades de Referência do tratamento da Aids, e também somos procurados por meio de recomendações das Assistentes Sociais das Unidades, onde atendemos com remédios específicos, cestas básicas, cadeiras de rodas e outras demandas necessárias para o tratamento, bem como acolhimento”, diz.

Esses materiais são arrecadados por meio de doações da sociedade e também a partir das vendas na Loja Sustentável Arte pela Vida – todos os recursos são usados para adquirir as cadeiras, alimentos e outros itens. Quanto ao acolhimento, Francisco ressalta que é essencial para quem descobre a Aids. “Quando algum companheiro chega até nós, porque recebeu a sorologia de HIV, está na fase de luto, pensa que vai morrer, nunca acha que vai sobreviver. Então acolhemos, explicamos como vai viver a partir de agora, conversamos, seguramos a mão dessa pessoa até ver que ela está forte, que está entrando na luta. O luto inicial não é fácil, é como um atestado de morte junto com o diagnóstico positivo. Nosso trabalho é esse, receber as pessoas e os pedidos, e fazer a viabilização para que elas fiquem bem e para os que estão em vulnerabilidade social recebam o que arrecadamos”.

O Arte pela Vida surgiu em 1996, quando um grupo de artistas se reuniu para ajudar um amigo que havia acabado de descobrir a Aids. Naquela época, segundo Francisco, o diagnóstico era, de fato, uma sentença de morte porque havia pouco tratamento. Por conta disso, pessoas do teatro, da música e da dança organizaram um grande show, em formato de colagem, incluindo as três áreas. Com o sucesso do evento, foi possível arrecadar um valor para custear o tratamento do paciente em São Paulo, e a partir disso o grupo deu prosseguimento às atividades, ajudando mais pacientes e dando apoio a quem contraiu o HIV. “A Aids é ainda uma pandemia mundial há 40 anos e precisamos desta data para lembrar que esta luta não acabou, ainda não temos uma vacina que sinalize a cura da doença”, cobra o ativista.

Dados e atendimento

De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, os casos de HIV no Pará vêm diminuindo, por ano de diagnóstico: em 2019, foram notificados 2.412 casos; depois, foram 2.364 no ano passado; e outros 1.326 foram registrados entre janeiro e junho deste ano. Em relação aos casos de Aids, ou seja, quando o indivíduo portador do vírus HIV manifesta a doença, observa-se também uma redução do número de casos no Estado, ainda por ano de diagnóstico: em 2019 foram 822 casos; em 2020, 468 notificações; e, no primeiro semestre de 2021, 251 casos foram registrados.

Já na capital paraense, foram registrados 3.723 casos de HIV/Aids em adultos, entre os anos de 2019 e 2021, em uma tendência de aumento. Entre adolescentes e jovens de 13 a 29 anos, no mesmo período, foram 1.659 registros. Os homens ainda são a maioria dos infectados, representando 83% do total na faixa etária. Entre crianças de zero a 11 anos, foram 36 casos, com tendência de queda. Sobre os óbitos, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) não dispõe de um número absoluto, apenas em forma de indicador: de acordo com o Boletim Epidemiológico de 2020, são 17 óbitos por 100 mil habitantes, o que coloca Belém em segundo lugar dentre as capitais brasileiras, atrás de Porto Alegre (RS).

A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) disponibiliza, em Belém, a Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e Parasitárias Especiais (Uredipe), para pacientes de todo o Estado vivendo com HIV/Aids ou pessoas que sofreram uma possível exposição ao vírus e precisam confirmar se estão infectadas. Outros canais de apoio são oferecidos pelas Prefeituras, como os 84 Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e 31 Serviços de Atenção Especializada (SAEs). Neles, a população em geral pode realizar o teste rápido diagnóstico para o HIV, gratuito e sigiloso, e receber as devidas orientações para prevenir a doença ou iniciar o mais precoce possível o tratamento naqueles que apresentaram testes reagentes pela rede especializada do Sistema Único de Saúde (SUS).

Belém dispõe de um serviço especializado que atua no atendimento de pessoas que vivem com o HIV: o Centro de Atenção à Saúde nas Doenças Infecciosas Adquiridas (Casadia). Neste dia 1º, a Prefeitura de Belém, por meio Sesma, lançou a campanha Dezembro Vermelho, de mobilização no combate ao vírus HIV, à Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), chamando a atenção para a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.

Ainda neste mês e durante o ano de 2022, ocorrerá o processo de descentralização do tratamento de HIV; significa que cada usuário poderá optar por realizar o tratamento contra o HIV no bairro de sua residência ou outro bairro de sua escolha, ou permanecer sendo acompanhado pelo Casadia. No período inicial da descentralização do tratamento, está previsto que unidades de saúde dos distritos de Mosqueiro, Outeiro e Icoaraci realizem consultas médicas e dispensação da medicação contra o HIV, além de unidades de outros bairros, como Satélite, Marambaia e Terra Firme. Para o final de 2022, a meta é que as 29 Unidades Municipais de Saúde (UMS) estejam executando esta descentralização.

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