Ato de amor e solidariedade, doação de sangue é estimulada em campanha
Responsável pela captação de doares do Hemopa fala sobre a importância de manter o estoque em dia para pacientes com necessidade imediata
A doação de sangue, ato de amor compartilhado por muitas pessoas, é capaz de salvar vidas. Pacientes com certas condições de saúde - que passam por cirurgias, traumatismos ou fazem tratamentos de câncer, por exemplo - têm a transfusão de sangue em sua rotina. A campanha “Junho Vermelho” busca conscientizar a população quanto à necessidade de praticar a solidariedade e, assim, abastecer o estoque de sangue nos hemocentros, a fim de que não faltem bolsas quando houver necessidade para pacientes.
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Gerente de captação de doadores do Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa), Juciara Farias explica que existe um leque de pacientes que precisam de bolsas, porque, sem sangue, não conseguem caminhar ou ter melhoria na saúde. “Podemos citar os pacientes hematológicos, oncológicos, aquelas pessoas que sofrem traumas ou acidentes”, enfatiza. Como esses pacientes precisam de sangue de maneira imediata, a gerente ressalta a responsabilidade que o banco de sangue tem de manter um estoque regular para fazer frente a essa demanda.
Uma das grandes preocupações durante a pandemia da covid-19 foi com a queda do estoque de sangue no Pará. Juciara diz que o número tem ficado mais equilibrado, mas é preciso fazer apelos à sociedade diariamente. Afinal, mesmo que um tipo sanguíneo esteja com bom estoque, pode ser que surjam cirurgias imediatas, que requerem a utilização de várias bolsas de sangue.
“O estoque precisa ser alimentado de maneira permanente. O ideal é que haja uma média de 200 doações todos os dias para que a gente possa oferecer essa tranquilidade para a população”, comenta. Para a gerente, a campanha “Junho Vermelho” tem um significado importante e é sinônimo de esperança e vida.
“É um mês de celebração. Sabemos que junho tem muita festa porque é a quadra junina no Estado, mas a gente procura fazer um apelo, que antes de aproveitar as quadrilhas dêem uma passadinha e façam a doação de sangue. Se tornem doadores pela primeira vez ou, os que já doam, que continuem e virem doadores regulares” afirma.
Regras e mitos
Existem várias condições para ser um doador de sangue - tudo para garantir a qualidade do material e, consequentemente, a saúde de quem receber as bolsas. Um fator é a idade, que deve ficar entre 16 e 69 anos, sendo que quem ainda não tiver 18 anos deve levar uma autorização dos pais e os mais velhos só podem fazer a primeira doação até os 60 anos. Outro requisito é ter peso a partir de 50 quilos, além de estar com a saúde em dia.
O doador deve também levar documento oficial com foto. Chegando ao hemocentro, ele preenche um cadastro, passa por avaliação clínica, responde a várias perguntas para saber se está dentro do perfil de doação e só depois chega à etapa final. Após o ato de solidariedade, o Hemopa disponibiliza um lanche para o doador.
Um dos mitos em relação à doação de sangue é quanto à alimentação. Muitas pessoas acreditam que trata-se de um procedimento como exames rotineiros, em que o paciente precisa estar em jejum, mas é o contrário: o doador deve se alimentar antes de ir ao hemocentro, para não correr o risco de passar mal, mas sem ingestão de muita gordura. Outro erro é achar que pessoas que têm tatuagens não podem doar sangue. Juciara explica que o ideal é esperar um ano após fazer a tatuagem, mas, se os procedimentos forem mais antigos, não há problema.
Há ainda um ponto polêmico quanto à orientação sexual. Durante muito tempo, criou-se um tabu contra homossexuais no que diz respeito à doação de sangue, e eles foram proibidos de praticar o ato de solidariedade. Tanto a Resolução RDC nº 34/14, da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), como a Portaria nº 158/16, do Ministério da Saúde, dizem que ficam inaptos por doze meses os candidatos expostos a situações consideradas de risco, citando homens que tiveram relações sexuais com outros homens”.
Mas, em 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou essa restrição, com a maioria dos votos, considerando-a inconstitucional e discriminatória. “Não existe essa regra. O gênero, a condição sexual de cada pessoa, isso não interfere em momento nenhum na triagem para fazer a doação. A triagem será direcionada tanto para homossexuais, quanto para heterossexuais, para qualquer outra categoria, vai ser embasada na portaria do Ministério da Saúde, então será a mesma triagem feita para todo mundo. Nós não temos isso como regra”, garante Juciara Farias.
Doadores têm atitude de amor
Solidariedade e amor são os sentimentos que movem pessoas a doarem sangue para ajudar a quem não conhecem. Instrutor de uma escola voltada para bombeiros e brigada de incêndio, Marcos Lisboa tem o costume de levar suas turmas de alunos para experimentarem esse ato de bondade, com o intuito de que entendam a necessidade que os centros enfrentam para manter o estoque em dia e, assim, salvar vidas.
“O meu pensamento ao trazer esses jovens é que eles entendam que a gente só vai ter mudança no mundo quando a gente for essa mudança. Então, desde 2014, em parceria com o Hemopa, eu trago meus alunos para cá e isso tem se multiplicado. Até tem gente para doar, mas o que falta é alguém multiplicar esse conhecimento. Então, a partir desse ciclo, os meus alunos vão entendendo a dificuldade de captação e vão sendo meus discípulos e vão multiplicando o bem de cada vez mais. A ideia é essa”, conta.
Marcos é doador de sangue desde quando virou bombeiro, em 2014, e conta que já fez essa espécie de “caravana” em várias escolas onde trabalhou. Geralmente, ele leva mais de 20 pessoas a cada vez, mas, nesta semana em que a reportagem estava no local, eram 35 alunos presentes na fila para a doação de sangue.
“Depois que eles se formam ou durante o curso, muitas vezes me perguntam ‘professor, como eu faço para levar a minha caravana da minha academia, do clube de futebol, da família?’. E eu passo o contato das meninas daqui e eles agendam, isso aconteceu várias vezes, e é legal multiplicar”, afirma. Um momento que tocou o instrutor durante a visita ao hemocentro foi uma senhora que pediu doações para o seu filho, que precisava de quatro bolsas de sangue para se recuperar, lembrou Marcos.
O vigilante José Carlos Vasconcelos, de 58 anos, também estava no local para doar sangue. Ele mora na região do Marajó e tem um grupo com mais de 3.600 pessoas que incentivam umas às outras a fazer doações. Quando alguém precisa, por um fator como doença ou acidente, a equipe solidária se mobiliza e, quem puder, viaja até Belém para tirar sangue para o estoque.
“Comecei a doar na década de 1980. Desde lá, sempre fui voluntário, eu moro em Soure e faço parte do grupo ‘Corrente do Bem’, há uma dificuldade grande pela distância, mas eu percebi que a gente precisa disso, é uma coisa necessária. Como não tem um posto lá para fazer a coleta, pessoas de diversos municípios vêm para doar, de acordo com a necessidade”, explica.
Na opinião do doador, estar disposto a fazer essa coleta é um ato de amor. “Imagine você se deslocar da sua cidade até Belém, com dificuldade, para doar seu sangue. Eu até me admirei com muitas pessoas que estão aqui, venho de quatro em quatro meses e não é tão cheio. O propósito é salvar, mas não tenho a dimensão de quantas pessoas já atingimos, o que importa é a doação em si”.
Onde doar sangue no Pará:
Hemocentro Belém
- Travessa Padre Eutíquio, nº 2109, bairro Batista Campos
- De segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h, e no sábado, das 7h30 às 17h
Posto de coleta do Castanheira
- Rodovia BB-316, Km 1, Pórtico Belém, bairro Castanheira (em frente à entrada do shopping)
- De segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h, e no sábado, das 7h30 às 17h
Posto de coleta do Pátio Belém
- Travessa Padre Eutíquio, n° 1078, bairro Batista Campos (Estação Cidadania, 1º Piso do shopping).
- De segunda a sexta-feira, das 10h às 16h30
Hemocentro Castanhal
- Rua Quincas Nascimento, nº 521, bairro Saudade
- De segunda a sexta-feira, das 7h às 13h
Hemocentro de Santarém
- Avenida Frei Vicente, nº 696, entre as alamedas 30 e 31 (Aeroporto Velho)
- De segunda a sexta-feira, das 7h às 13h
Hemocentro de Marabá
- Rodovia BR-230 (Transamazônica), Quadra 12, s/n (Agrópole do Incra)
- De segunda a sexta-feira, das 7h às 13h
Hemonúcleo de Abaetetuba
- Avenida Santos Dumont, s/n, bairro São Lourenço
- De segunda a sexta-feira, das 7h às 12h30
Hemonúcleo de Altamira
- Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, s/n, Esplanada do Xingu
- De segunda a sexta-feira, das 7h às 12h30
Hemonúcleo de Capanema
- Rodovia BR-308, hm 0, s/n, São Cristóvão
- De segunda a sexta-feira, das 7h às 12h30
Hemonúcleo de Redenção
- Avenida Santa Tereza, s/n, Centro
- De segunda a sexta-feira, das 7h30 às 12h30
Hemonúcleo de Tucuruí
- Avenida Veridiano Cardoso, s/n, BR-422, Santa Mônica
- De segunda a sexta-feira, das 7h às 13h
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