Mãos e mentes expressam devoção a Nossa Senhora de Nazaré
Seja na confecção de mantos seja na produção de imagens, predominam a emoção e a fé quem vê o Círio se aproximar
Elas estão presentes a todo momento entre os paraenses quando o assunto é Círio, e não apenas na corda da Grande Romaria. Mãos e mentes, unidas sempre, traduzem uma devoção centenária de devoção a Nossa Senhora de Nazaré que não se restringe à Quadra Nazarena, mas se torna mais forte, visível, nesta época do ano, quando a Grande Romaria se aproxima das casas. A religiosidade atrelada à criatividade possibilita que os devotos e fiéis expressem seu amor pela santa padroeira de várias maneiras. Uma delas é a confecção de mantos para ornamentar imagens de Nossa Senhora, como o faz a artesã e designer de interiores Ingrid Cavaleiro de Macedo, 55 anos.
Ela é vice-presidente do Instituto Ação Pensando Bem, que atua em ações sociais para as pessoas de baixa renda. A prática de confeccionar mantos para Nossa Senhora surgiu há um certo tempo. "Há uns quatro anos, fiz uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré para mim, publiquei na rede social, amigas viram e acharam linda e começaram a me encomendar. Comecei a fazer, porque sou devota de Nossa senhora de Nazaré e amo trabalho manual. Dependendo do modelo da imagem em que estou trabalhando, faço o manto direto nela ou só o manto para outras imagens", relata Ingrid.
A artesã diz que procura atender os pedidos dos clientes. "O que pedem eu faço . Já fiz mantos para as imagens usadas em procissões de outras cidades. Estou confeccionando um manto que será usado pela imagem de Nossa Senhora de Nazaré por ocasião do Círio na Cidade de Porto, em Portugal" diz.
Ela conta que os mantos têm saída o ano todo, mas, logicamente, a demanda maior ocorre às proximidades do Círio. A comercialização dos artigos se dá por meio das redes sociais. "Este ano, irei participar da Feira de Artesanato do Círio do Sebrae no Porto Futuro, em parceria com o Instituto Ação Pensando Bem. Eu, com as santas, e o instituto com camisas e outras peças referentes ao Círio. Estou fazendo santas e mantos desde o mês de maio, já preparei mais de 57 santas. Entre mantos e santas nesses quatro anos devo ter feito mais de 150 ``, destaca Ingrid.
Volta
No entanto, os mantos confeccionados em 2022 têm um significado especial para Ingrid Macedo, por terem sido feitos no ano em que o Círio de Nazaré será retomado em seu formato original, ou seja, presencial. "A expectativa é grande pela volta do Círio presencial, por causa dos dois anos em que as procissões da maior manifestação católica do Brasil não foram realizadas. Agora, com a pandemia controlada e com a maioria da população vacinada, a emoção de estar presente será muito maior e irá contagiar até quem não é paraense", ressalta a artesã.
Os mantos são criados e confeccionados por Ingrid. E ela não esconde a satisfação que sente ao longo desse processo produtivo. "Quem faz o que gosta não trabalha, né? Meu sentimento é de muito prazer e amor quando estou trabalhando", revela. A artesã não declina em afirmar que gostaria muito de um dia ter a oportunidade de confeccionar o manto oficial de Nossa Senhora de Nazaré. "Sonho meu! E Seria a maior glória para mim. Quem sabe um dia serei agraciada com essa graça", expressa Ingrid.
Em geral, na confecção dos mantos a artesã utiliza tecidos, rendas, Gripier, pedrarias, fitas,juta e outros elementos, "Vou confeccionar uma com caroço de açaí agora, e já tenho ideia na cabeça de fazer um manto com acessórios de miriti. Surpresa, aguardem!, declara. Para Ingrid Macedo, o manto de Nossa Senhora de Nazaré simboliza "proteção, amparo, amor e fé". "Eu espero do Círio 2022 um Círio de muito amor, paz e união. Que Nossa Senhora de Nazaré derrame muitas bênçãos sobre todos nós".
Imagens de fé
Uma outra relação forte com Nossa Senhora é do paraense José Luiz Siqueira Guedes, 64 anos. Luiz é artesão em fabricação e restauro em artes sacras. Ele iniciou essa atividade em novembro de 1987, com gravuras em telas e reparos em quadro, e após isso ingressou nas imagens sacras, de vez que em Fortaleza aprendeu a restauração e confecção dessas peças.
“Eu me sinto muito feliz em expressar minha arte por meio das imagens, pois é muito satisfatório receber uma peça que é um símbolo de fé de uma pessoa e, com o meu "dom", posso dizer assim, reformar e ouvir das pessoas as graças alcançadas e os causos de suas vidas”, destaca. Luiz Guedes conta que a produção dele referente à Nossa Senhora de Nazaré é confeccionada em gesso, mas também ele restaura madeira em madeira, resina e barro.
Ele revela que o processo de confecção das imagens começa com a fabricação da imagem, em que uma forma de resina recebe uma quantidade de gesso e, após 15 minutos, está pronta. A etapa seguinte é a secagem que leva em torno de três dias, a última é a pintura, olhos e acabamento em dourado.
O artesão conta que em 2022 tem muito trabalho, abrangendo tanto restauro como a confecção de imagens, em demandas na Região Metropolitana de Belém e também para municípios do interior do Pará. “Chegam três a quatro santos por dia para pequenos e grandes restauros, fora os pedidos de confecção de imagens, mantos, coroas e berlindas”, diz Guedes.
Ele relembra que em um Círio anterior, o padre Antônio Maria, bem conhecido do público paraense, inclusive, por participar da programação oficial da festa maior do Pará, chegou a adquirir uma imagem com Luiz Guedes.
A relação de Luiz Guedes com o Círio é muito mais abrangente do que a atividade dele como artesão. “Eu que sou da Legião de Maria cumpro meu papel cristão em evangelização nas peregrinações pelo meu bairro”. O atelier e loja dele funcionam na travessa 3 de maio, entre as avenidas Gentil Bittencourt e Conselheiro Furtado, na Cremação. “Eu pretendo acompanhar o Círio junto de minha família para agradecimento pelas graças intermediadas por ela a seu filho Jesus”, arremata um dos devotos de Maria, Mãe e Mestra, como exposto no tema da Grande Romaria em 2022.
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