Eh Romulo véi de guerra!
Artigo assinado Pedro Galvão, presidente e Diretor de Criação da Galvão Comunicação
Romulo Maiorana chegou ainda jovem a Belém, vindo de Recife, onde nasceu, depois de passar uns tempos em Natal, justo a cidade onde nasceu meu pai, o velho e maravilhoso Pedro Galvão (permitam o adjetivo a este filho apaixonado). Talvez por isso, por sua nordestinidade, Romulo me chamava de Pedim-o – e não Pedrinho, com o ene-agá-o-nhó tão paraense– mas Pedim-o, como me tratava meu pai, potiguarmente.
Um Pedim-o nordestino e inesquecível. Como no dia em que exclamou: “Eh Pedim-o véi de guerra!”, depois que, em sua sala, ouviu o ex-governador Newton Miranda contar como meu rosto tremia de indignação quando o General Ramagem, então comandante da Oitava Região Militar, vociferou na noite de 1º de abril de 1964: “Você é um comunista frio e cínico”, para mim, jovem de vinte e poucos anos, nem comunista, nem frio, nem cínico, então presidente da UAP – União Acadêmica Paraense, que ousei negar certas acusações no salão do quartel-general, diante de oficiais e autoridades como o então tenente-coronel Jarbas Passarinho, o major Alacid Nunes e o próprio Newton Miranda.
Romulo Maiorana foi um inovador. Inovador quando introduziu em Belém o conceito de magazine, dando o nome de RM Magazine à loja que abriu no lado direito da João Alfredo, entre a Padre Eutíquio e a Campos Sales, na época em que a João Alfredo era o grande shopping center que Belém ainda não tinha.
Corajoso quando teve a ousadia de comprar um jornal de partido político, que funcionava, o jornal e de certa maneira também o partido, PSD (Partido Social Social Democrático, de Magalhães Barata e dos ex-governadores Moura Carvalho e Aurélio do Carmo), num velho prédio da Santo Antônio, defronte do quartel da Polícia, na esquina da praça onde fica o Colégio Santo Antônio, para transformá-lo no jornal que modernizou a imprensa paraense, O Liberal com a cara que hoje o conhecemos.
Além de corajoso e inovador, Romulo foi também surpreendente quando saiu de lá para o prédio da Folha do Norte, na esquina da Primeiro de Março com a Gaspar Viana, justo a sede do jornal do velho Paulo Maranhão que, com A Província do Pará, de Milton Trindade e do inesquecível Roberto Jares Martins, dignificavam o jornalismo em nossa terra. E mais uma vez inovador quando fez a TV Liberal, que mais tarde filiou à Rede Globo de Televisão, e a Rádio Liberal (que antes se chamava Rádio Difusora do Pará).
E, mais que surpreendente, emocionante, quando em 1985, ano em que publiquei o livrinho “Velho Pedro vai pra casa”, me ligou e, sem aviso, inesperado e generoso, leu toda a última parte do poema para mim, me proporcionando uma emoção inesquecível.
“Eh Romulo véi de guerra! ”. Talvez até por isso eu gostasse tanto dele. E agora o estou lembrando com todo esse carinho.
Pedro Galvão é presidente e Diretor de Criação da Galvão Comunicação.