Rússia diz que pode restringir soja do Brasil, quer menor uso de pesticidas
Russos informam o governo brasileiro sobre a necessidade de tomar medidas urgentes
O governo da Rússia informou ao Brasil que poderá adotar restrições temporárias à importação de soja se os produtores brasileiros não reduzirem a quantidade de pesticidas --especialmente herbicidas com o ingrediente glifosato-- nos grãos vendidos ao país.
A informação foi publicada pelo Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia e enviada ao Ministério da Agricultura brasileiro, que confirmou à Reuters o recebimento do comunicado russo.
Na nota, os russos afirmam que informaram o governo brasileiro sobre a necessidade de tomar medidas urgentes para garantir o cumprimento dos regulamentos técnicos da União Aduaneira sobre a segurança dos grãos em termos de conteúdo de pesticidas nos produtos enviados à Rússia.
A Rússia ainda alertou sobre "possível introdução de restrições temporárias à importação de soja do Brasil em caso de falha do lado brasileiro em adotar medidas corretivas o quanto antes".
A exportação de soja do Brasil para os russos representa uma parcela pequena dos embarques totais do país, que somaram no ano passado um recorde de 83,8 milhões de toneladas, tendo a China como o principal cliente.
Os embarques brasileiros para a Rússia em 2018 somaram 1,09 milhão de toneladas, praticamente estável ante o volume de 2017, de acordo com dados do governo federal.
Em sua nota, os russos destacam o alto grau de toxicidade para humanos e animais do glifosato, um dos pesticidas mais usados na agricultura brasileira. Alguns países europeus, como Suécia e Dinamarca, baniram o uso do produto.
No Brasil, no entanto, o herbicida é defendido como essencial para manter a produção de larga escala da agricultura brasileira.
Em setembro do ano passado, quando uma decisão judicial determinou a suspensão do registro de produtos à base de glifosato --liminar depois derrubada-- o então ministro da Agricultura Blairo Maggi, ele mesmo um empresário do setor, afirmou que seria inviável produzir no Brasil sem o produto.
A maior parte da soja do Brasil é transgênica, resistente a herbicidas à base de glifosato.
Entre as empresas que comercializam a soja resistente ao glifosato está a Bayer, que comprou a norte-americana Monsanto.
Limites russos
Segundo nota do Ministério da Agricultura, autoridades russas comunicaram a detecção de traços de glifosato em carregamento de soja proveniente do Brasil em "níveis mais de cem vezes inferiores aos limites acordados no Codex Alimentarius."
Esses níveis, disse o ministério, "não constituem, portanto risco à saúde".
"No Brasil, o limite máximo permitido é de 10 ppm, valor mais rigoroso que o definido no Codex Alimentarius (20 ppm), mas superior ao estabelecido pelas autoridades russas, que é de 0,15 ppm."
Dessa forma, as autoridades brasileiras iniciaram processo de averiguação e investigação interna e estão em contato com suas contrapartes russas.
"Alta qualidade"
Procurada, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa exportadores de soja, afirmou não ter sido notificada até o momento sobre qualquer restrição de autoridades russas sobre cargas originadas no país.
"O Brasil exporta produtos de altíssima qualidade do complexo de soja para 170 países. É parceiro em negócios com a Rússia há muitos anos. Caso haja essa notificação, a cadeia produtiva nacional está aberta a tratar de todos os temas relacionados a boas práticas no comércio internacional da soja em grão e seus derivados", disse a Abiove.
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