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Cientistas políticos apontam ‘avanço do conservadorismo’ em 2025

André Buna e Augustina Martiarena analisam o retorno de Donald Trump à Casa Branca e o crescimento de líderes como Javier Milei, na Argentina.

Amanda Engelke / Especial para O Liberal
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O cenário político em 2025 será de desafios para a esquerda e tensões na arena democrática. Essa é a análise dos cientistas políticos André Buna, brasileiro, e da uruguaia Agustina Martiarena, acerca do impacto da ascensão da nova direita conservadora e seus reflexos. “Não se trata de uma tendência isolada; é um fenômeno global que reflete o comportamento do eleitorado em momentos de instabilidade econômica e social”, explica Buna.

Martiarena complementa que o fenômeno está relacionado não apenas a fatores econômicos, mas também a uma crise de confiança nas instituições democráticas. “Na América Latina, vemos democracias jovens sendo desafiadas por discursos populistas que colocam em xeque a legitimidade de mecanismos fundamentais, como o Judiciário e a imprensa livre. Isso tem impacto direto na qualidade da democracia e na percepção que as populações têm dela”, afirma a cientista.

Retorno de Trump à Casa Branca

O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos deve ser o ás das cartas políticas de 2025. André Buna avalia que o Projeto 2025, proposto pela nova administração, pode trazer profundas mudanças na estrutura administrativa americana. “O modelo de executivo unitário centralizaria toda a burocracia estatal na figura de Trump. Isso pode ter impactos catastróficos tanto para os EUA quanto para a comunidade global”, afirma.

Para Buna, já há sinais de que Trump irá adotar medidas protecionistas ainda mais rígidas, como taxações elevadas sobre os países do BRICS e possíveis rupturas em acordos históricos, como a saída da OTAN e o abandono do Acordo de Paris. Apesar disso, o contexto atual é bem menos favorável do que em sua primeira posse, em 2017, devido à perda de aliados estratégicos no cenário global, como Jair Bolsonaro no Brasil e outros governos conservadores.

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Para Martiarena o retorno de Trump simboliza uma nova fase no fortalecimento de lideranças “autoritárias”. Para ela, “esse movimento reforça a ideia de que a democracia pode ser moldada por líderes que exploram seus limites”. Ela acrescenta que “Trump, assim como outros nomes da nova direita, utiliza mecanismos democráticos para promover uma agenda que, no longo prazo, enfraquece as instituições”, opina a cientista.

Enquanto Buna observa que Trump retorna à presidência em meio a desgastes com escândalos do passado, como a invasão do Capitólio, Martiarena acrescenta que, ao mesmo tempo - e apesar disso, ele consegue capitalizar a insatisfação de segmentos que sentem que a globalização não os beneficia. “Esse é um padrão recorrente: apelos ao protecionismo econômico e à preservação de valores tradicionais se tornam atrativos em tempos de incerteza”, analisa.

Eleições e a nova direita na Alemanha

Em termos eleitorais, 2025 não será tão movimentado quanto 2024, mas há eventos importantes no radar. A Alemanha realizará eleições gerais em setembro, e o avanço do partido AfD (Alternativa para a Alemanha) é um ponto de atenção. Segundo Buna, o crescimento de partidos conservadores na Europa reflete narrativas que “focam na preservação do emprego para nativos e no bloqueio à imigração”, e o fortalecimento do AfD segue essa tendência.

Martiarena, por sua vez, analisa o impacto que o crescimento de partidos ultraconservadores na Europa pode ter na América Latina. “Há uma ligação clara entre as narrativas nacionalistas desses partidos e as políticas migratórias mais severas que afetam diretamente latino-americanos. Além disso, esses movimentos influenciam a retórica de lideranças locais, criando um ciclo que legitima discursos de exclusão”, pontua.

América Latina: entre Milei e Maduro

Na América Latina, as expectativas estão centradas nas relações entre Brasil e Argentina após a vitória de Javier Milei. André Buna acredita que o contraste entre as visões de Lula e Milei pode gerar atritos, mas pondera que interesses econômicos podem suavizar as diferenças. “A relação entre Brasil e Argentina será desafiadora, mas ambos os países têm um histórico de cooperação econômica que dificilmente será ignorado”, avalia.

Martiarena acrescenta um elemento mais profundo: a crescente desconfiança das populações na capacidade de governos democráticos resolverem problemas crônicos, como desigualdade e corrupção. “A vitória de Milei é um reflexo do esgotamento da população com modelos tradicionais de governança. Mas o risco é que alternativas radicais, como as propostas por ele, acabem aprofundando os problemas”, analisa.

Sobre a Venezuela, a cientista destaca que o governo de Nicolás Maduro é um exemplo extremo de como governos autoritários podem se perpetuar explorando fragilidades democráticas. “Maduro é parte de um ciclo que se retroalimenta: crises políticas justificam medidas autoritárias, que, por sua vez, intensificam as crises. O avanço da nova direita na região pode isolar ainda mais a Venezuela e reforçar um discurso de cerco internacional, usado como justificativa pelo regime”, conclui.

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