MENU

BUSCA

Juscelino vai pedir demissão após ser denunciado ao STF por desvio de emendas

Ministro afirma que não quer criar constrangimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Estadão Conteúdo

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, decidiu entregar sua carta de demissão após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), sob acusação de desvio de emendas parlamentares. Juscelino disse que não quer criar constrangimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sairá antes de o STF apreciar a acusação contra ele para se defender fora do governo.

Antes de viajar para Tegucigalpa, capital de Honduras, onde participará da 9ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Lula conversou com Juscelino por telefone. Disse que gostaria de falar com ele pessoalmente, mas, horas depois, o ministro resolveu pedir demissão.

O União Brasil deve indicar o líder do partido na Câmara, deputado Pedro Lucas Fernandes Ribeiro (MA), para o lugar de Juscelino. O assunto foi tratado durante almoço, nesta terça-feira, 8, entre Juscelino, Pedro, a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, o presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e do União Brasil, Antônio Rueda, além do ministro do Turismo, Celso Sabino. Alcolumbre e o deputado Elmar Nascimento (BA) foram padrinhos da indicação de Juscelino.

Desde cedo, em conversas reservadas, interlocutores de Lula já afirmavam que a situação de Juscelino era insustentável e aguardavam sua demissão.

A Procuradoria-Geral da República denunciou o ministro ao Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de desvio de emendas parlamentares quando ele exercia o cargo de deputado federal. O caso foi revelado pelo Estadão em 2023.

Em uma série de reportagens, o jornal mostrou que Juscelino destinou emendas do Orçamento da União à cidade de Vitorino Freire (MA) para asfaltar uma estrada que passava pela fazenda da sua família. À época, o município era administrado por Luanna Rezende, irmã do titular das Comunicações. Ela chegou a ser afastada do cargo no curso das investigações.

Lula tem sido aconselhado a agir rápido para evitar mais desgaste ao governo, mas resiste a tomar qualquer decisão antes de conversar com Juscelino, a quem sempre elogiou por avaliar que ele defende sua administração.

A nova crise atinge o Planalto justamente em um momento de queda de popularidade do presidente. Há no PT a expectativa de que Lula aproveite mais uma etapa da reforma ministerial, nos próximos dias, para substituir Juscelino junto com outros auxiliares.

Até agora as trocas se resumiram a ministérios comandados pelo PT. O publicitário Sidônio Palmeira entrou na Secretaria de Comunicação Social (Secom) no lugar de Paulo Pimenta e Gleisi Hoffmann, então presidente do partido, assumiu a cadeira antes ocupada por Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais, que cuida da articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso. Padilha, por sua vez, substituiu Nísia Trindade no Ministério da Saúde. É possível que a dança das cadeiras, agora, também atinja o PSD de Gilberto Kassab, secretário de Governo na gestão de Tarcísio de Freitas em São Paulo, além do União Brasil e de mais quadros do próprio PT.

Ministro se reúne com dirigentes do União Brasil

Juscelino é o primeiro nome a ser denunciado por suspeita de corrupção no governo. Nesta terça-feira, o ministro almoçou com dirigentes do União Brasil e se queixou do que chamou de "perseguição política". Em nota, os advogados de Juscelino destacaram que ele "reafirma sua total inocência e destaca que o oferecimento de uma denúncia não implica em culpa, nem pode servir de instrumento para o MP (Ministério Público) pautar o país". O STF ainda vai analisar se aceita ou não a peça da acusação.

"Seguimos confiando na seriedade e competência do ministro Juscelino Filho, que tem exercido seu trabalho à frente do Ministério das Comunicações com comprometimento e resultados concretos para a população brasileira", disse o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, em comunicado emitido após nota divulgada no mesmo tom pela bancada do partido.

Em junho do ano passado, Lula afirmou que o ministro precisava provar sua inocência depois de ser indiciado pela Policia Federal pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

"O que eu disse para ele: só você sabe a verdade. Se o procurador indiciar (denunciar), você sabe que tem que mudar de posição. Enquanto não houve indiciamento (denúncia), ele fica como ministro. Se houver indiciamento, ele será afastado", assegurou o presidente na ocasião.

Nesta terça-feira, Juscelino observou que se limitou a "indicar emendas parlamentares para custear a realização de obras em benefício da população". Disse, ainda, que os processos de licitação, execução e fiscalização de obras "são de competência exclusiva do Poder Executivo, não sendo responsabilidade do parlamentar que indicou os recursos".

O novo imbróglio bate à porta do União Brasil no momento em que o partido negocia uma federação com o PP do senador Ciro Nogueira (PI), um arranjo que pode dar ainda mais musculatura para o Centrão no Congresso. Nos últimos tempos, denúncias também atingiram o empresário baiano José Marcos de Moura, que integra a cúpula do União Brasil e ficou conhecido como "Rei do Lixo".

Moura foi alvo de mais uma etapa da Operação Overclean, da Polícia Federal, na última quinta-feira, 3. O empresário tem ligações com o Congresso e o caso entrou no rol das diligências sobre desvio de emendas parlamentares.

O deputado Elmar Nascimento (BA), padrinho político de Juscelino e ex-líder do União Brasil, foi citado no inquérito da Polícia Federal e por isso a investigação foi enviada ao STF. O vereador de Campo Formoso (BA) Francisco Nascimento, primo de Elmar e também do União Brasil, chegou a ser preso.

Pouco antes de ser detido, Francisco jogou pela janela do apartamento em Salvador uma mala com R$ 220 mil. A polícia recuperou o dinheiro depois. Elmar nega envolvimento com o escândalo. O prefeito de Campo Formoso, Elmo é irmão do deputado e foi reeleito no ano passado.

Política