Fusão entre PSDB e PSD: o que muda?
Cientista político e advogado eleitoral analisam a possível união dos partidos e os impactos na política nacional e paraense
Em um cenário político em transformação, a possibilidade de uma fusão entre o PSDB e o PSD está sendo discutida. O PSDB, que já ocupou a presidência do Brasil por oito anos com Fernando Henrique Cardoso e teve forte presença política no Pará. Desde a derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff em 2014, o partido tem visto uma redução de sua representatividade, especialmente com o surgimento de outras forças políticas à direita. O Grupo Liberal ouviu profissionais do ramo político, que explicam sobre esse processo de união e o que deve mudar no cenário político atual.
Para o cientista político Rodolfo Marques, a fusão entre PSDB e PSD teria "impacto político significativo". "Mas o alinhamento ideológico e o comportamento nas votações na Câmara e no Senado serão fatores determinantes para avaliar a força desse eventual novo partido", pontuou Marques.
Estratégia
"A fusão entre PSDB e PSD pode ser interessante para ambos os lados", comenta Marques. Rodolfo explica que, após o PSD "sair fortalecido nas últimas eleições municipais, essa união traria uma força política importante da direita, com representantes no governo de São Paulo e na Presidência da República."
Nesse caso, o PSDB está considerando alternativas para recuperar sua influência política, e uma fusão com o PSD está sendo cogitada. O PSD, partido mais jovem e liderado por Gilberto Kassab, tem se destacado como uma força política importante, com bom desempenho nas últimas eleições municipais, elegendo quase 900 prefeitos em todo o país.
Impacto no Pará: fortalecimento da bancada
Para o cientista político, a união entre os dois partidos, que resultaria em uma bancada maior na Câmara e no Senado, seria vantajosa para o PSDB, que busca reforçar sua presença política. No Pará, tanto o PSDB quanto o PSD têm representantes na Assembleia Legislativa, o que indica que uma fusão poderia consolidar ainda mais essa presença no estado.
Rodolfo destacou que "uma fusão poderia resultar em uma bancada mais robusta, com 6, 7 ou 8 parlamentares, o que impactaria o equilíbrio político-partidário no estado".
Âmbito jurídico
Mas, a possibilidade de fusão entre PSDB e PSD pode ter implicações jurídicas que merecem atenção. Para Robério Abdon, advogado eleitoral, a fusão de partidos é uma prática legalmente prevista e comum na política brasileira. Ele explicou que, assim como ocorreu na criação do União Brasil, resultado da fusão entre o PSL e o Democratas, o processo de fusão de partidos também implica mudanças nas bancadas.
"Olha, a possibilidade de fusão, ela possui previsão legal no ordenamento jurídico. É muito comum na vida política do nosso país", afirmou Abdon. "A última fusão recente foi a criação do União Brasil, que surgiu da união do PSL com o Democratas."
Consequências
Em relação às consequências dessa fusão, Abdon detalhou: "A formação do novo partido tem um impacto direto na bancada. Se um partido tinha um parlamentar e o outro tinha outro, o novo partido nasce com dois parlamentares. E, no executivo, um prefeito, governador ou presidente da República que era filiado a um dos partidos que se fundiram também passa a pertencer ao novo partido."
O advogado ressaltou que o processo de fusão é regulamentado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Esse procedimento se dá no âmbito do TSE. Os partidos, em conjunto, requerem a fusão após aprovação pelos seus diretores nacionais. O TSE analisa o cumprimento da legislação e, uma vez atendidos os requisitos legais, a fusão é homologada", explicou Abdon.
Abdon também destacou que, nos últimos anos, fusões de partidos têm sido uma estratégia comum para fortalecer as bancadas. "O TSE apenas analisa se as regras foram cumpridas. Uma vez cumpridas as exigências, não há como negar a fusão entre as siglas."
A Aliança com o MDB: um caminho alternativo?
Além do PSD, o MDB também demonstrou interesse em uma aliança com o PSDB. No entanto, as negociações com o MDB estão em estágios iniciais e encontram desafios devido a diferenças regionais e históricas. O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi, já se reuniu com lideranças tucanas, mas o processo de aproximação entre as duas siglas ainda está em andamento.
Negociações de olho em 2026
O PSD, que já faz parte da base de apoio ao governo Lula, também está avalia a aliança com o PSDB, considerando sua posição estratégica no atual cenário político.
"O PSD também faz parte da base do governo Lula, o que dá ao partido um papel estratégico", afirmou o cientista político. "As negociações com o PSDB e o MDB refletem a busca por uma aliança que assegure espaço e poder nas eleições de 2026."