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'É uma disputa pela hegemonia do mundo', afirma ex-ministro Aldo Rebelo sobre invasão da Ucrânia

postura do Brasil diante da invasão da Ucrânia pelo governo da Rússia foi analisada em entrevista exclusiva

Abílio Dantas

A postura do Brasil diante da invasão da Ucrânia pelo governo da Rússia foi analisada pelo ex-ministro da Defesa do governo Dilma Rousseff e ex-deputado federal, Aldo Rabelo, em entrevista exclusiva ao diretor de conteúdo do Grupo Liberal, Daniel Nardin, nesta sexta-feira (25). Para Rabelo, que  foi também secretário de Coordenação Política e Assuntos Institucionais do governo Lula (de 2004 a 2005), a diplomacia brasileira tem exercido a posição correta, de não tomar partido no conflito internacional. A entrevista com Rabelo foi antes de o Brasil votar a favor da resolução do Conselho de Segurança da ONU que condena o ataque da Rússia ao território da Ucrânia, na reunião do colegiado nesta sexta-feira (25), em Nova York (EUA).


Aldo Rabelo destaca que o governo brasileiro decidiu agir na crise atual da mesma forma que em 2014, quando a Rússia anexou o território da Crimeia, antes pertencente ao governo ucraniano. “Foi a mesma posição. Uma posição cuidadosa de não apoiar, naturalmente, porque ninguém apoia um gesto de guerra, de invasão, mas também de não condenar. E eu não me recordo de ter tido tanta cobrança como está ocorrendo agora (para que o presidente Bolsonaro decida por um lado ou por outro). É preciso que o Brasil se mantenha distante dessa disputa. Não vamos tomar o lado nem da Rússia nem dos Estados Unidos", declarou o ex-ministro.

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De acordo com Rabelo, a crise internacional não representa um problema que envolve o Brasil diretamente, por isso a isenção é o melhor caminho. "Qual foi a posição do Brasil quando a Iugoslávia foi bombardeada pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)? O que eu sei é que a Embaixada do Brasil em Belgrado (capital da Sérvia) ficou aberta, dia e noite, para prestar a assistência necessária às vítimas do bombardeio, mas o Brasil não saiu assumindo posição como querem agora, como se o Brasil tivesse que ter um partido entre o Ocidente e o Oriente. Não, o lado do Brasil é o Brasil. E o Brasil tem cooperação e amizade com todos os países", defendeu.

A postura do Itamaraty, para Rebelo, é a postura possível, já que a questão central é a disputa pela hegemonia mundial entre Rússia e Estados Unidos."Você não pode apoiar nenhum gesto de ocupação, de invasão, nenhuma iniciativa militar, mas você não pode também tomar lado nessa disputa, porque no fundo é uma disputa pela hegemonia do mundo, envolvendo os Estados Unidos de um lado, com a Europa Ocidental, e hoje a Rússia e a China. Nesse caso, você não vai encontrar inocentes", analisa.

Especialistas em geopolítica, de acordo com Rebelo, julgam que foi uma imprudência, depois do fim da União Soviética, a Otan "continuar avançando em direção à Rússia, incorporando novos países". "A Otan foi feita para defender a Europa Ocidental contra uma possível agressão da União Soviética. A União Soviética acabou, mas a Otan não acabou e, pelo contrário, começou a se expandir", explicou.

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O ex-ministro Aldo Rebelo lembrou também, como um dos motivos que influenciou o início da invasão, o episódio em que Donald Trump, enquanto presidente dos Estados Unidos, retirou o país norte-americano de um acordo internacional de não proliferação das armas de destruição em massa. "Foi um sinal que deixou a Rússia muito preocupada. Quando ela viu a Otan avançando em direção a Romênia, Polônia, Letônia, Lituânia, Estônia, é claro que eles entenderam que isso constituía, naturalmente, uma ameaça. E quando a incorporação da Ucrânia na Otan apareceu, eu acho que foi a gota d´água para esse desfecho trágico", completou.

Nova ordem mundial

Para o ex-ministro, a invasão da Ucrânia pela Rússia não é apenas mais um fato internacional, mas representa o fim da ordem mundial estabelecida após o fim da União Soviética, e com a hegemonia estadunidense.

"Não é somente uma ocupação, uma invasão, mas marca, na verdade, o encerramento de um ciclo da história, que surgiu com a hegemonia política, econômica, diplomática, cultural dos Estados Unidos. Muitos diziam, inclusive, que era o fim da história. Essa nova ordem também teve muitas guerras, como a que resultou no desmembramento da Ioguslávia em seis países, no início dos anos 90. Nós tivemos os casos da Líbia, e mais recentemente da Síria. Isso se combina, naturalmente, com a expansão da Otan", demarca.

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