MENU

BUSCA

'Criatividade administrativa' para supersalários constrange o Judiciário, diz Dino

A ministra Cármen Lúcia complementou a fala de Dino

Estadão Conteúdo

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino chamou o uso de estratégias para aumentar os salários de juízes e desembargadores de "criatividade administrativa". Durante julgamento na Primeira Turma da Corte, nesta terça-feira, 18, o magistrado criticou essas estratégias e afirmou que elas geram constrangimento ao Poder Judiciário.

"Vemos uma criatividade administrativa, sobretudo em temas remuneratórios, que é algo que constrange o Poder Judiciário, porque temos uma moldura constitucional e o Estatuto da Magistratura, na Lei Orgânica da Magistratura, que, a cada dia, em ziguezagues hermenêuticos, é infelizmente driblada", disse o ministro.

VEJA MAIS

Dino afirma que Marco Civil da Internet deveria ser revisto pelo Congresso
Ministro defendeu alterações durante debate com estudantes do Sesi em São Paulo

STF tem maioria para referendar decisão que homologou plano de emendas
Deliberação eletrônica vai até 5 de março

A ministra Cármen Lúcia complementou a fala de Dino, afirmando que aqueles que fazem uso dessas manobras afrontam as normas constitucionais e o direito do cidadão.

"Em afronta não apenas a magistratura e a ética da magistratura, as normas constitucionais, mas, principalmente, um avanço contra o direito do cidadão tem de saber a cada servidor público, que é o que nós somos, juízes, quanto se paga, qual é a remuneração, por que se paga e qual a base legal nem nenhum subterfúgio", disse Cármen.

Dino ressaltou que esse problema não se restringe apenas à magistratura, mas também identificam o que chamou de "saltos ornamentais hermenêuticos" em outras carreiras jurídicas, como no Ministério Público, na Advocacia Pública e nos Tribunais de Contas.

O Estadão revelou que a Justiça tem feito pagamentos extras a magistrados, frequentemente acima do teto constitucional. Em dezembro de 2024, tribunais estaduais e ramos do Ministério Público usaram sobras de caixa para conceder benefícios que elevaram os salários em até R$ 524 mil brutos. Apenas nos Tribunais de Justiça, os pagamentos somaram pelo menos R$ 1,5 bilhão, segundo o CNJ.

A Justiça do Trabalho liderou os supersalários no último ano, com destaque para a desembargadora Silza Helena Bermudes Bauman, que recebeu R$ 788,3 mil brutos. Em Minas Gerais, 32 magistrados ganharam mais de R$ 300 mil, com 97% dos contracheques acima do teto.

Dino tem sido um dos principais críticos das manobras. No último mês, o magistrado suspendeu uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que autorizou o pagamento retroativo de auxílio-alimentação ao juiz Daniel de Carvalho Guimarães. Em sua decisão, o ministro classificou a concessão de benefícios a magistrados, fora do teto do funcionalismo público, como "inaceitável vale-tudo".

Política