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Brasil pede desculpas por perseguição a imigrantes japoneses

Na Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), nascidos na Alemanha, Itália e Japão que residiam no Brasil foram impedidas, por lei, a permanecer em cidades litorâneas

O Liberal

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aprovou, na última quinta-feira (25), em Brasília (DF), o reconhecimento, pelo Estado brasileiro, de que imigrantes japoneses e seus descendentes nascidos no país foram politicamente perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A iniciativa é da Comissão de Anistia, órgão autônomo de assessoramento do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O fato de o Brasil admitir a perseguição ou conivência estatal foi uma resposta ao pedido de reparação coletiva apresentado pelo produtor audiovisual, Mário Jun Okuhara, e pela Associação Okinawa Kenjin do Brasil, em nome de toda a comunidade nipônica.

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Pedido de desculpas

No ano de 2021, com outra composição, a Comissão de Anistia negou um pedido semelhante. Na quinta-feira, houve a sessão pública de julgamento da petição, em Brasília (DF), e a presidenta da Comissão de Anistia, Eneá de Stutz e Almeida, pediu desculpas em nome do Estado brasileiro aos descendentes dos imigrantes japoneses presentes na sessão.

“Quero pedir desculpas em nome do Estado Brasileiro pela perseguição que os antepassados dos senhores e das senhoras sofreram, por todas as atrocidades e crueldades, o preconceito, a xenofobia, o racismo. Que essas histórias sejam contadas para que isso nunca mais se repita”, declarou Enéa.

Conforme estabelece a Lei nº 10.559, de 2002, podem ser declarados anistiados políticos aqueles que, entre 18 de setembro de 1946 e 5 e outubro de 1988, foram prejudicados por atos institucionais, complementares ou de exceção, bem como quem tenha sido punido ou perseguido por motivos exclusivamente políticos.

No caso da comunidade nipônica, por se tratar de um requerimento coletivo, a anistia política, com caráter de reparação constitucional, não comporta indenização econômica – ao contrário dos casos individuais.

Cenário de perseguição

Durante a Segunda Guerra Mundial, pessoas nascidas na Alemanha, Itália e Japão que residiam no Brasil foram impedidas, por lei, de permanecer morando em cidades litorâneas.

A justificativa era que, em caso de ataque, parte desses cidadãos poderia auxiliar os navios de combate do Eixo, transmitindo sinais e informações.

Entre as três nacionalidades, os japoneses eram, na época, a maioria junto à costa brasileira, sendo os mais prejudicados pela medida.

Presente à sessão, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, classificou a oficialização “do reconhecimento, pelo Estado brasileiro, das graves violações aos direitos humanos perpetrados em território nacional contra imigrantes japoneses e seus descendentes” como um “ato de justiça”.

“A participação do Brasil ao lado das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial ensejou, de maneira arbitrária, a perseguição contra membros da comunidade japonesa residente no Brasil. O que incluiu detenções, restrições indevidas à liberdade de expressão e de associação, práticas de tortura e confisco de bens, entre outros atos de repressão que se alinharam ao processo de estigmatização promovido pelo aparato estatal”, comentou o ministro.

Também durante o julgamento do pedido, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, destacou que o Brasil abriga a segunda maior comunidade nipônica fora do Japão e que a decisão da Comissão da Anistia faz justiça ao papel que teve na construção identitária do país.

“O trabalho, o julgamento e o veredito desta comissão têm papel fundamental de dizer que nunca mais pode se repetir no Brasil e no mundo episódios [semelhantes aos] julgados aqui”, finalizou.

Campo de concentração em Tomé-Açu

O Brasil decidiu rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo, em 1942, e uma parcela da população brasileira passou a ser perseguida: imigrantes alemães, japoneses e italianos, e seus descendentes. Em pouco tempo, grande parte deles foi enclausurada em 11 campos de concentração espalhados pelo país.

O foco do enclausuramento era evitar que os imigrantes agissem como agentes infiltrados para seus países de origem. Um desses campos, o de Tomé-Açu, único localizado na região amazônica, se diferenciou dos demais por aprisionar sobretudo imigrantes japoneses. Lá eles viviam sob regras rígidas, com racionamento de energia e toque de recolher, além de censura de correspondências e proibição de se agrupar.

Política