Beto Faro defende mais representação para o Pará no Congresso
Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, o parlamentar comentou os bastidores da política federal e os impactos das decisões em Brasília sobre o estado.
“O Pará tem sido historicamente injustiçado em sua representatividade e na distribuição de recursos. Chegou a hora de corrigir essa distorção”, é o que diz o senador Beto Faro. em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal. Na conversa, o parlamentar comentou os bastidores da política federal e os impactos das decisões em Brasília sobre o estado. Ao longo da entrevista, o senador comentou também sobre a possibilidade de assumir um ministério do Governo Federal: “Se for da vontade do presidente, estarei pronto”. Ele ainda avaliou a atuação do Senado diante dos desafios da Amazônia e reforçou a importância da 30ª Conferência das Partes sobre o Clima, ou COP 30, para consolidar o protagonismo do Pará no debate climático global, além de manifestar apoio à exploração da margem equatorial, com responsabilidade ambiental.
Beto Faro também defendeu o desenvolvimento sustentável e definiu esse como o principal legado da conferência climática pro Pará. "Nós podemos produzir de forma responsável. Já temos áreas abertas que podem ser melhor exploradas com o uso de mais tecnologia. Podemos fazer essas áreas produzirem mais — e isso já está acontecendo —, mas ainda é preciso mais investimento: mais tecnologia, mais recursos para a Embrapa e para os órgãos que atuam na produção, para que possamos avançar", disse.
Leia a entrevista completa a seguir:
Há especulações sobre sua possível indicação para um ministério. Isso realmente foi discutido com o presidente Lula?
Beto Faro: Sim, houve essa conversa, mas ainda não há nada definido. O presidente Lula iniciou um processo de reforma ministerial. Já houve mudanças, como a saída da ministra Nísia e a nomeação de Padilha para a Saúde. No Ministério das Relações Institucionais, a relação com prefeitos e o Congresso está nas mãos da Gleisi, presidente nacional do PT. Também surgiram especulações sobre mudanças no Ministério do Desenvolvimento Agrário, entre outros.
Por ter uma trajetória ligada à questão agrária, ao movimento sindical de trabalhadores rurais e à agricultura familiar, meu nome sempre é lembrado. Parlamentares e movimentos sociais mencionam isso, e houve, sim, uma conversa com o presidente. Mas essa é uma decisão que cabe exclusivamente a ele, que costuma tratar dessas escolhas pessoalmente.
Tenho uma boa relação com o Paulo Teixeira, atual ministro do Desenvolvimento Agrário, que tem sido correto comigo nas indicações e nas políticas da pasta. Não há oposição entre nós. Sou do PT, tenho uma história nessa área e coloquei meu nome à disposição. Se for da vontade do presidente, estarei pronto para assumir. Se não, continuarei meu mandato no Senado, onde acredito que estamos crescendo e atendendo às expectativas da população paraense.
Como o senhor avalia a exploração da margem equatorial, que desperta o interesse da Petrobras?
Já defendemos essa exploração no Congresso, sempre com respeito às questões ambientais. A transição energética mundial levará tempo e, enquanto isso, precisamos buscar alternativas responsáveis.
O Pará é exemplo: temos produção de dendê que gera biodiesel, energia solar em expansão e grande potencial na região. A exploração da margem equatorial, como na Foz do Amazonas, está a 500 km da costa. É uma riqueza que, se bem conduzida, pode gerar recursos importantes — como aconteceu no debate do pré-sal — para investir em educação e no desenvolvimento de regiões pobres como o Marajó e o Salgado.
Com regras ambientais claras, em diálogo com o Ibama, acredito que a exploração acontecerá. Lula já está investindo na Petrobras e em tecnologia. Não é verdade que ele não fará. Quem critica esteve no governo e não fez. Lula tem compromisso com a região e com o país.
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A COP30 pode ser uma oportunidade para aprofundar essas discussões ambientais como a da Margem Equatorial?
Pode sim. Mas nossa preocupação vai além. A COP será extraordinária para o Pará — já está sendo. Vai deixar um legado de obras, de conhecimento e do reconhecimento da Amazônia pelo mundo. Belém sabe receber bem. Temos experiência, como no Círio de Nazaré, que reúne 4 milhões de pessoas. Nunca vi ninguém dormindo na rua por falta de hospedagem.
O governo está se preparando, melhorando a infraestrutura — Doca, Almirante Tamandaré, aeroporto — tudo sendo revitalizado. Mas minha maior preocupação são os compromissos que serão firmados durante a COP. A crise climática é um problema nosso também, não só dos outros países.
As enchentes no Rio Grande do Sul e a seca no Pará, que afetou a produção de açaí, mostram isso. O governo Lula já conseguiu reduzir em 50% o desmatamento na Amazônia. Com apoio do governador Helder e ações de monitoramento, conseguimos aumentar a produção sem destruir.
Qual tem sido o papel da bancada federal na preparação para a COP30?
No Congresso, estamos acompanhando de perto. Criamos uma subcomissão na Comissão de Meio Ambiente do Senado, presidida e relatada pela senadora Leila. A iniciativa foi nossa, para acompanhar desde a preparação no estado até o diálogo internacional.
Há projetos ambientais em debate tanto no Senado quanto na Câmara. A deputada Uilvanda, minha esposa, foi presidente da Comissão dos Povos Originários. O deputado Bira já presidiu a Comissão de Meio Ambiente. E eu também participo ativamente, não só por causa da COP, mas porque entendo que essa pauta é permanente — ainda mais sendo da Amazônia.
Estamos tratando do reflorestamento produtivo, com culturas como cacau, açaí e cumaru, que recuperam o meio ambiente e geram renda. Eu mesmo estou plantando cumaru.
Tudo isso comprova que nós podemos produzir de forma responsável. Já temos áreas abertas que podem ser melhor exploradas com o uso de mais tecnologia. Podemos fazer essas áreas produzirem mais — e isso já está acontecendo —, mas ainda é preciso mais investimento: mais tecnologia, mais recursos para a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e para os órgãos que atuam na produção, para que possamos avançar.
Como avalia o apoio federal ao Pará na preparação para o evento?
O presidente Lula tem um compromisso real com o Pará. Estamos vivendo um momento único. Há obras em todo o estado, não apenas por causa da COP. A capital está sendo revitalizada: aeroporto, periferia, canal do São Joaquim, mercado de São Brás. São quase R$ 6 bilhões do governo federal só para Belém.
E também há investimentos no interior. Até com o agronegócio temos diálogo. O que eles querem? Estradas para escoar a produção — e isso está sendo feito. A COP é importante, mas os investimentos estruturais vão muito além dela.
Como é que o senhor avalia hoje os projetos que estão tramitando no Congresso e que são prioritários para a população do Pará e da Amazônia de forma geral?
Olha, eu já tô no Congresso há quatro mandatos — um pedaço como deputado federal — e agora tô num mandato como senador. E acho que a gente tem se unido mais. Porque, por exemplo, no Nordeste, você falava “a bancada nordestina”, era comum. Aqui, não. Era a bancada do Pará, a do Amazonas, tudo meio dividido. Mas somos uma bancada forte. Somos oito estados da Federação.
Mesmo com os estados tendo o número mínimo de deputados, que é oito — o que já é uma injustiça, porque o Pará, por exemplo, deveria ter mais deputados do que tem hoje —, nós estamos discutindo isso lá. Temos nos unido mais, conversado mais entre senadores, principalmente no debate da reforma tributária, atuando juntos pelos interesses da região, dialogando com os governadores.
O governador Helder esteve conosco em Brasília para tratar desses interesses. E a presidência do Davi (Alcolumbre) no Senado é fundamental, para que possamos nos juntar mais.
Existe hoje uma atenção maior, uma articulação maior entre nós que estamos lá em Brasília. O governador Helder sabe disso. A bancada tem respondido, mesmo com as diferenças. Mas quando ele pede algo à bancada, a gente tem se mobilizado para votar.
Às vezes, até contrariando interesses partidários. Porque, por exemplo, eu posso ter divergências com o Zequinha e o Jader. Mas quando as pautas são de interesse do Estado, temos votado juntos, até abrindo mão de posições. Você sabe que, em época de eleição aqui, é cada um por si. Mas, nesses momentos, a gente se une em defesa do Pará.
Eu sou sempre muito otimista. Acho que temos melhorado, embora ainda precise melhorar mais. A bancada tem dado conta do recado, e isso é reconhecido pelo governador em todo o Estado, por conta da boa relação que ele tem com a bancada federal.
E como o Pará tem atuado para tentar aumentar esse número de representantes?
É injusto, sim. Nós temos o maior coeficiente eleitoral do país pra eleger deputado federal. Na última eleição, pra eleger um deputado federal, o partido ou federação precisava de mais de 270 mil votos. Tem estados, com todo respeito, como o Maranhão, que tem menos eleitores do que o Pará e, mesmo assim, tem mais deputados. A representação deles é maior. E, quanto maior a representação, mais recursos entram no estado, mais força política se tem no jogo nacional.
Então, o Pará já vem sendo injustiçado há muito tempo. O Tribunal Superior Eleitoral fez uma resolução, e o Congresso tem até setembro pra regulamentar isso. Estamos trabalhando nisso.
Tem gente que defende o seguinte: “Ah, então não vamos tirar deputados dos estados que perderiam, só vamos aumentar onde for necessário.” Mas, se for assim, o Pará não vai ter só 21, que é o número justo — vai ter que ter 22, 23, porque se mantiver os que têm mais, vai passar de 513 deputados, que é o total hoje. Então, se a conta já começar errada, vamos continuar errando no futuro.
Pra ser justo, tem que fazer a conta com base na população. E o Pará foi um dos estados que mais cresceu. Junto com Santa Catarina, é o que mais ganha nessa redivisão. Tenho muita expectativa de que, na próxima legislatura, o Pará tenha mais de 21 deputados federais e mais de 45 estaduais. Estamos trabalhando pra isso.
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