Após ocupação, produtores do Pará têm receio de confrontos com MST nas próximas semanas
O chamado “Abril Vermelho” é quando a entidade promove ocupações para relembrar o assassinato de 21 trabalhadores pela Polícia Militar em 1996
Produtores rurais do Pará estão com receio de conflitos agrários nas próximas semanas, por causa do chamado “Abril Vermelho”, ou Jornada Nacional de Luta em Defesa da Reforma Agrária, quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promove ocupações para relembrar o assassinato de 21 trabalhadores sem-terra pela Polícia Militar em 1996.
No último final de semana, a cidade de Ourilândia do Norte, no sudeste paraense, foi palco de ocupações que, segundo o setor produtivo, antecipam o que pode ocorrer em abril. Pessoas construíram barracas e ficaram alojadas em uma das importantes rodovias do município, nas proximidades de fazendas. A informação foi repassada pelo advogado ambiental Vinícius Borba, que representa a categoria.
“Aqui na região, essa questão do MST tem sempre atualização, hoje estou em Canaã dos Carajás, onde, recentemente, teve uma invasão aqui perto. Tem um assentamento com cerca de 5 mil pessoas, que ficam alojadas perto da cidade. No domingo, próximo ao rio Caiteté, um grande número de pessoas ficou na rodovia e começou a construir barracas, e um dos líderes disse que eram pessoas da região toda, de Canaã, Água Azul do Norte, Ourilândia”, contou.
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O advogado ainda disse que um dos membros da mobilização relatou que o incentivo para a ocupação veio do próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que teria “prometido” um remanejamento do grupo para uma terra próxima após três meses. Porém, o superintendente regional do Incra em Marabá, Andreyk Maia, desmentiu a informação por meio das suas redes sociais. Sobre “a utilização indevida do nome da instituição, a gente já está tomando as devidas providências, será encaminhada para a Polícia Federal”.
Produtores se mobilizam
Em uma área próxima à ocupação, onde fazendas, supostamente, corriam risco de ser invadidas pelo grupo, foi feita uma mobilização dos produtores, que acabou chamando a atenção do prefeito e, posteriormente, o governo do Estado foi acionado e atuou por meio da PM.
“Já deu uma enfraquecida, mas tinha muita barraca, muita gente, veio ordem de Belém para que a PM desocupasse as margens das rodovias. Eles usam essa estratégia dizendo que o Incra está apoiando, e quando tem muita gente acaba invadindo. A gente entende que isso é fruto das falas do presidente Lula na semana passada, que deu mais um gás, mas foi desfeita ontem”, comentou o advogado Vinícius Borba.
O representante da classe também ressaltou que os produtores não criticam a reforma agrária, até porque a veem como um direito pela terra, mas sim a forma como isso é feito. “É completamente errado. As áreas que já foram destinadas para reforma agrária e que não foram consolidadas ou foram vendidas pelos próprios beneficiados são áreas maiores do que eles pedem. Tem fazenda ocupada há mais de 30 anos e o governo nunca titulou essas áreas, é uma ineficiência que cria essa insegurança e esse ambiente propício a conflitos”.
Em nota enviada à reportagem, o MST alega que não realizou nenhuma ocupação no município de Ourilândia do Norte, tampouco possui qualquer território neste município. "Fomos surpreendidos, na manhã desta segunda feira (10), pela notícia sobre uma ocupação que teria acontecido em uma área próxima ao projeto de mineração Onça Puma, às margens da rodovia PA-279, entre os municípios de Ourilândia do Norte e Água Azul do Norte. A pessoa que aparece no vídeo não faz parte do MST, portanto, reafirmamos que não coordenamos essa ocupação e nenhum dos nossos dirigentes está envolvido na mesma", disse.
"O MST considera legítima a ocupação de terra como instrumento de luta dos trabalhadores e trabalhadoras sem terra, porém, temos responsabilidade com as nossas ações e não podemos aceitar ter nosso nome vinculado às ações de outras organizações, pois respeitamos a autonomia das organizações e movimentos que lutam pela terra nessa região de serem protagonistas de sua própria história", continuou o texto.
A reportagem do Grupo Liberal também entrou em contato com o Incra e o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) solicitando um posicionamento sobre o caso, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto.