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Belém: 'A COP na Amazônia trará soluções com muito mais força', diz Ana Toni

Em entrevista exlusiva ao jornal O Liberal, Ana Toni, secretária de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, destaca a importância estratégica da COP 30 em Belém

Gabi Gutierrez e Camila Azevedo

A realização da COP 30 em Belém, marca um momento decisivo para a agenda climática global. Ana Toni, Secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, destaca a importância simbólica e prática deste evento. "A Amazônia é fundamental para a mudança do clima, tanto como solução, capturando gases de efeito estufa, quanto na regulação do clima brasileiro," afirma Toni. Ela sublinha que a escolha da região para a conferência não é apenas emblemática, mas essencial, dada a vulnerabilidade da floresta e sua influência global no clima.


"A COP na Amazônia trará elementos sobre soluções baseadas na natureza, bioeconomia, compensação para florestas em pé, créditos de carbono florestais e restauração com muito mais força do que se fosse em outro lugar", aponta a secretária.

A expectativa para a COP 30 é alta, refletindo a urgência de questões como florestas e bioeconomia, que ganharão destaque. Ela diz que a COP não só proporcionará uma plataforma para discutir e lançar propostas inovadoras como o "Florestas Para Sempre", mas também reunirá elementos cruciais sobre soluções baseadas na natureza e restauração florestal. Ana ainda destaca a relevância das discussões sobre a bioeconomia e a integração das convenções de biodiversidade, desertificação e mudanças climáticas. Leia a matéria na íntegra:

Por que é tão significativo que a COP 30 seja realizada na Amazônia, em Belém?

Ana Toni: Clima, desenvolvimento sustentável e o que precisa ser feito para melhorar os índices ambientais são temas cruciais. É emblemático que a COP 30 seja realizada na Amazônia, em Belém. Desde a COP em Sharm El Sheikh, o presidente Lula fez este grande anúncio, e vemos o entusiasmo de todos os países. A Amazônia é fundamental para a mudança do clima, tanto como solução, capturando gases de efeito estufa, quanto na regulação do clima brasileiro. No entanto, a Amazônia também é vulnerável às mudanças climáticas. Perder parte da Amazônia pode significar um ponto de não retorno, afetando o Brasil e o mundo como um todo. Portanto, a Amazônia está no centro do debate climático.

Qual é a expectativa interna e externa para a COP 30 na Amazônia?

A expectativa para a COP 30 não é apenas pela conferência em si, mas por ser na Amazônia. Há muita expectativa, tanto interna quanto externa, de que alguns temas terão mais prioridade, obviamente estamos na Amazônia. E, obviamente, estamos na Amazônia. O tema de florestas e bioeconomia será fundamental. Então, alguns instrumentos econômicos estão sendo pensados agora, como o “Florestas Para Sempre”, que está sendo desenvolvido. Esperamos poder apresentá-lo na COP 30, pois está relacionado às florestas e à bioeconomia. As grandes propostas de bioeconomia também serão lançadas. Esperamos que isso aconteça na COP 30. Acho que a COP na Amazônia trará elementos sobre soluções baseadas na natureza, bioeconomia, compensação para florestas em pé, créditos de carbono florestais e restauração, com muito mais força do que se fosse em outro lugar. Além disso, um outro tema que eu acho que vai ser muito importante para a COP é a relação da convenção de biodiversidade, desertificação e das mudanças do clima. Que lógico, a convenção de biodiversidade, desertificação e mudanças climáticas nasceu no Brasil, no Rio de Janeiro, em noventa e dois. E vai ser aqui na COP 30, onde esperamos poder reunir essas três convenções e mostrar o quanto elas estão alinhadas.

Quais propostas serão lançadas na COP 30 e como a localização na Amazônia influencia essas propostas?

As grandes propostas de bioeconomia também serão lançadas. A COP na Amazônia trará elementos sobre soluções baseadas na natureza, bioeconomia, compensação para florestas em pé, créditos de carbono florestais e restauração com muito mais força do que se fosse em outro lugar. E, da perspectiva nacional, o Brasil possui uma estrutura tanto para a nossa NDC, quanto para o monitoramento de cenários, que é muito robusta. A NDC brasileira, nossa meta de mitigação, já é mais ambiciosa do que a de muitos países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos, a Austrália e o Canadá. Portanto, estamos muito bem posicionados, e é por isso que há tanta expectativa em relação à liderança do Brasil na COP. A ambição climática já é associada ao Brasil; a convenção teve origem aqui, e o Brasil sempre teve uma NDC muito robusta. Agora, vamos liderar a COP 30. Como o próprio presidente Lula e a ministra Marina mencionam, queremos liderar pelo exemplo. Portanto, apresentaremos uma NDC que será novamente ambiciosa, mas desta vez também demonstrando os meios de implementação necessários para alcançá-la.

Quais são os meios de implementação necessários discutidos no G20 para aumentar a ambição climática de países como o Brasil?

No G20, estamos discutindo os meios de implementação necessários para que países como o Brasil tenham mais ambição climática e como implementar essa ambição. O Brasil precisa de financiamento externo para áreas prioritárias no combate à mudança do clima. O G20, responsável por 80% das emissões e riquezas do mundo, se conseguir um acordo sobre os meios de implementação, facilitará a implementação das metas ambiciosas de desenvolvimento sustentável no Brasil.

Essas ações que mencionou, fazem parte das contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) que o Brasil deve criar para a COP 30?

Sim. Elas sempre fizeram parte da NDC brasileira e eu acho que vão estar ainda mais. As contribuições nacionalmente determinadas do Brasil, NDC, sempre tiveram pautas da floresta em foco, e isso sempre foi bastante forte. Isso porque, como todos nós sabemos, é por causa da emissão de gases pelo desmatamento que a nossa emissão de carbono é muito alta, principalmente por causa disso. Não só por causa disso, também pela agricultura, energia, lógico, mas isso é um outro tema. Eu acho que o que a gente vai trazer para a nossa NDC não é só o que a gente tem que combater. É muito mais o que a gente quer construir com essa nova economia do Brasil, como eu falei, de bioeconomia, de restauração, com essa nova economia em que a Amazônia é absolutamente fundamental para trazer essa nova visão de desenvolvimento para o país.

Como você avalia o avanço do Brasil nas questões climáticas? O quanto ainda falta pra gente avançar na revisão do acordo de Paris, que pode ser proposto pelo Brasil?

Na COP 30, alguns acordos serão revistos, como o Acordo de Paris. O Brasil tem avançado nas questões climáticas desde então, mas a velocidade do progresso ainda é insuficiente. Estamos na direção certa, mas precisamos acelerar o ritmo das modificações. O Brasil tem uma estrutura robusta para monitoramento de cenários climáticos e uma NDC mais ambiciosa que muitos países desenvolvidos, incluindo os EUA, Austrália e Canadá. Há grande expectativa sobre a liderança do Brasil na COP 30, e queremos liderar pelo exemplo. Então estamos avançando sim. Mas a velocidade que nós avançamos, está muito aquém da nossa necessidade. Então, acho que a gente tá na direção certa, mas temos que acelerar o passo das modificações. Acho que isso vai ficar muito claro na COP. Estamos desenvolvendo estudos nacionais e regionais para contabilizar os custos das políticas públicas necessárias. O plano climático está em processo de desenvolvimento, e convidamos a população a participar do Brasil Participativo para contribuir com ideias. Na COP 29, o tema principal será finanças e a mobilização de recursos para implementação das ações climáticas. Na COP 30, em Belém, as prioridades serão as novas metas climáticas para 2035 e a transição justa, incluindo indicadores de adaptação e transição justa. O Brasil já se compromete com metas climáticas ambiciosas desde 2015, visando descarbonizar a economia em 50% e alcançar carbono neutro até 2050. Temos metas setoriais para desmatamento, energias renováveis, eficiência energética e agricultura de baixo carbono. É fundamental saber de onde virão os recursos para implementar essas metas, tanto externos, quanto internos. A adaptação às mudanças climáticas é crucial, pois o Brasil é vulnerável a eventos climáticos extremos.

Quais são os desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento em relação ao financiamento climático, e como o Brasil pretende abordar isso?

Estamos debatendo acordos internacionais, buscando uma infraestrutura econômica global que alinhe os objetivos dos países em desenvolvimento. O fluxo de recursos está monopolizado pela Europa, EUA e China, não fluindo para os países do sul global. Reformas econômicas são necessárias para que os países possam investir em clima sem escolher entre combater a fome e a mudança climática.

Nesse sentido, secretária, o que o Ministério do Meio Ambiente tem colocado em prática em relação às questões climáticas para serem efetivadas na região?

São diversos programas, logicamente, e o combate ao desmatamento tem sido um carro-chefe do Ministério do Meio Ambiente. No entanto, já temos o PP Sedan, que é liderado por outra secretaria, a Secretaria de Combate ao Desmatamento. Todas as outras secretarias também estão trabalhando. Por exemplo, a Secretaria da Economia tem apoiado diversas iniciativas na Amazônia para fortalecer a bioeconomia como uma maneira de gerar novos empregos. Além disso, o trabalho com cidades na área de saneamento e a grande questão da poluição do ar também são abordados pelo Ministério. A Amazônia é uma das prioridades para o ministério, e todas as secretarias, incluindo a de Biodiversidade, com as unidades de conservação, estão envolvidas. O mercado de carbono, que está sendo desenvolvido pela Secretaria de Clima, é um instrumento fundamental. O Fundo Amazônia, que também é essencial para a região, faz parte do Ministério do Meio Ambiente, e agora temos também o Fundo Clínico. Todos esses programas e instrumentos econômicos desembocam na Amazônia de forma prioritária.

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