Ventos fortes podem ter empurrado barco com corpos para a costa do Pará, aponta especialista
Mesmo que superasse as dificuldades, seria uma viagem difícil e provavelmente os tripulantes não sobreviveriam, diz Vando Gomes, coordenador do Laboratório de Hidráulica Ambiental da UFPA
Uma embarcação simples, que tente atravessar do continente africano ao Brasil, tem uma possibilidade maior de fracassar nessa tarefa. “Existe mais possibilidade de dar errado de que dá certo. É que, nessa região entre um continente e outro, ocorrem tempestades e grandes ondas. Há mais fatores que poderiam fazer que essa travessia desse errado de que desse certo”, afirmou Vando Gomes, coordenador do Laboratório de Hidráulica Ambiental da Universidade Federal do Pará (UFPA),
Em entrevista à Redação Integrada de O Liberal, nesta terça-feira (16), ele explicou que o Oceano Atlântico tem várias correntes oceânicas. Essas correntes transportam e direcionam boa parte do fluxo superficial dos oceanos. “Então, ao se aproximar, principalmente da costa amazônica, a maré é um fator muito importante, que acaba transportando muito material que está no oceano para a costa”, disse.
Além disso, de março a abril os ventos naquela região estão muito fortes, e acabam direcionando boa parte do material que está disperso no oceano em direção à costa. Considerando-se que se trata de uma embarcação simples, sem muitos atributos que possam lhe dar maior estabilidade ou navegabilidade, ela poderia estar perdida no meio do oceano e as correntes começaram a empurrá-la para próximo da costa. “Ao se aproximar da nossa região, a maré e os fortes ventos, poderia ter feito exatamente isso: tirado do oceano e direcionado para costa amazônica”, afirmou Vando Gomes.
Mesmo simples, e caso superasse todas essas dificuldades, essa embarcação poderia sim chegar na costa amazônica, como de fato ocorreu. “Mas seria uma viagem bastante difícil porque todos aqueles fatores colaboram para que isso desse errado e os tripulantes não sobrevivessem”, afirmou. Segundo a Polícia Federal, no barco foram encontrados nove corpos, sendo oito dentro da embarcação, e um nono corpo próximo a ela, em circunstâncias que sugeriam fazer parte do mesmo grupo de vítimas.
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Documentos e objetos encontrados junto aos corpos apontam que as vítimas eram migrantes do continente africano, da região da Mauritânia e Mali, não sendo possível descartar a existência de pessoas de outras nacionalidades.
Em conjunto com a Polícia Científica do Pará, a PF iniciou, na noite desta segunda-feira (15) , os trabalhos de identificação dos corpos encontrados em embarcação à deriva na região de Bragança/PA, no último sábado (13).