Polícia já ouviu 8 vítimas no caso da jogadora de beach tennis suspeita de dopar as adversárias
De acordo com o delegado do caso, Yuri Vilanova, algumas vítimas precisam de atendimento médico e apresentaram laudos médicos à polícia
A reportagem do Grupo Liberal conversou na manhã desta sexta-feira (13) com o delegado da Polícia Civil do Pará, Yuri Vilanova, titular da Delegacia do Consumidor (Decon), que está à frente das investigações sobre um suposto caso de doping em arenas de beach tennis em Belém. De acordo com o delegado, uma atleta é suspeita de dopar adversárias para vencer partidas, mesmo que elas não oferecessem premiações em dinheiro ou bens materiais que justificassem tal conduta. Yuri Vilanova informou que, até o momento, oito vítimas e oito testemunhas já foram formalmente ouvidas. As investigações apontam que, durante as competições, algumas dessas vítimas foram socorridas para receberem atendimentos e apresentaram os laudos médicos à polícia.
O delegado também destacou que garrafas de água, supostamente utilizadas pela suspeita para introduzir substâncias dopantes, foram apreendidas e estão sendo analisadas. O laudo pericial ainda não foi concluído. A suspeita deverá ser ouvida na próxima semana, mas a data e o horário ainda não foram definidos. Se todos os fatos forem confirmados ao longo das investigações, a mulher poderá ser indiciada pelo crime de lesão corporal e até mesmo tentativa de homicídio.
Segundo o delegado, a polícia trabalha com a possibilidade dos casos de doping estarem ocorrendo há mais de seis meses. Algumas garrafas foram apreendidas e passam por perícia após várias vítimas e testemunhas informarem o caso à polícia.
“A primeira ocorrência que recebemos é sobre pessoas que estavam jogando um torneio de beach tennis e perceberam que, possivelmente, uma jogadora tinha colocado algum tipo de produto na água de um dos participantes. Fizemos a apreensão da garrafa com a água que estaria contaminada. A partir de então, passamos a perceber que, na verdade, talvez tenha sido um fato que tenha ocorrido há mais de seis meses. Nessa linear e com a divulgação do caso, muitas pessoas que praticavam esporte, que tiveram algum tipo de participação em torneios com uma pessoa, acabaram nos procurando. Elas indicaram que talvez tenham sido vítimas também. Até o momento, oito vítimas nos procuraram e mais de oito pessoas também são testemunhas, além das que desconfiam terem sido vítimas”, afirma o delegado Yuri Vilanova.
Segundo ele, algumas vítimas apresentaram os laudos médicos que receberam quando buscaram a emergência devido passarem mal nos torneios de beach tennis. “Muitas com uma certa confirmação dos médicos, com informações de testemunhos que apontam para esse tipo de contaminação. Outras pessoas nos procuraram para testemunhar dizendo que presenciaram essas possíveis contaminações, pois viram as jogadoras passando mal, perceberam condutas atípicas e nos informaram esses detalhes”, conta o delegado.
Garrafas são submetidas à perícia
As garrafas que continham águas supostamente contaminadas foram apreendidas pela polícia e encaminhadas para a perícia. O delegado Yuri Vilanova pontuou que o laudo será de fundamental importância para descobrir que tipo de produto era usado no suposto doping das jogadoras.
“Após a apreensão do produto, nós acionamos todos os meios de perícia necessários. A garrafa foi apreendida com o conteúdo que foi colocado. Outra garrafa que possivelmente estava com o líquido contaminado também foi apreendida. Além disso, o vídeo que foi feito por uma das testemunhas e seria do momento que a suspeita coloca o produto do doping na garrafa também está sendo analisado. Todas as questões que envolvem essa análise, a perícia consegue realizar o apontamento”, explica Vilanova.
Ainda segundo o delegado, o depoimento de uma testemunha aponta que, no momento que a suspeita é filmada colocando o produto em uma garrafa, a dona do objeto não sabia sobre a situação. O vídeo teria sido gravado no sábado, dia 7 de dezembro, e começou a circular nas redes sociais, assim que o caso veio à tona.
“Sobre o vídeo que foi feito, a garrafa não pertencia à pessoa que estava colocando o produto. A dona da garrafa sequer tinha conhecimento que a mulher estava colocando produto na água e relatou que não tinha pedido que a suspeita colocasse algo na água. Em muitos depoimentos há relatos de que inúmeras vezes essa pessoa (suspeita) se disponibiliza para buscar as garrafinhas para que houvesse a hidratação das jogadoras. Ela se colocava à disposição para buscar água, pré-treino, energético… E dentro desse contexto, estamos verificando se não era um meio para fazer essa contaminação”, declara o titular da Decon.
Suposto doping estaria relacionado à “rivalidade extrapolada”, diz delegado
Perguntado sobre a possível motivação para a atitude da suspeita, Vilanova explicou que, ao longo das investigações, já foi possível esclarecer que as partidas de beach tennis não envolviam ganhos financeiros nem bens materiais. Para ele, tal atitude foi motivada por uma “rivalidade extrapolada”.
“Num primeiro momento, estamos trabalhando que a possível motivação do crime se trata apenas da rivalidade entre as pessoas que praticavam o esporte. Nós percebemos que muitas vezes tem pessoas que extrapolam os níveis de rivalidade e acabam ensejando em condutas. Dentre os torneios que foram apurados a prática dessa conduta, em nenhum momento, se verificou benefício em valores ou premiação que pudesse justificar essa conduta. Muitos só ensejavam o título simbólico entre as pessoas que participavam em se tratando de partidas amistosas. Nesse momento, o que podemos confirmar é que não haviam premiações e, possivelmente, a motivação se deu a partir da rivalidade entre as pessoas que estavam praticando o esporte”, explicou o delegado Yuri Vilanova.
O policial civil acrescentou ainda que, se todos os fatos forem confirmados ao longo das investigações, a suspeita poderá responder pelo crime de lesão corporal. “Que pode ser desde lesão corporal leve, grave ou gravíssima. Há também a possibilidade de responder por uma tentativa de homicídio num contexto em que a contaminação tenha sido feita para alguém que tenha algum tipo de comorbidade e pudesse vir a óbito a partir dessa contaminação”, acrescentou o delegado.
Suspeita deverá ser ouvida na próxima semana
A mulher suspeita de dopar as adversárias para vencer partidas de beach tennis em arenas de Belém deverá ser ouvida na próxima semana. “Os próximos passos serão a oitiva da suspeita. Nós trabalhamos com o acolhimento de todas as vítimas que, de alguma forma, estão constatando que foram dopadas, que tiveram suas bebidas contaminadas. No primeiro momento, até dentro de um aspecto de defesa até para que ela explique e justifique todas as condutas, nós precisamos verificar tudo o que ocorreu, o tempo em que ocorreu e todas as pessoas que podem ter sido vítimas e confirmar todos os depoimentos. Quando uma pessoa afirma que foi dopada, nós estamos pedindo algum tipo de perícia, atendimento médico, pessoas que presenciaram aquela situação, imagens do local... tudo isso está sendo colhido rapidamente para que possamos confirmar todas as condutas. E aí os próximos passos, possivelmente na próxima semana, ela será ouvida e terá que justificar todas essas condutas”, adianta o delegado Yuri Vilanova.