Perícia identifica possível causa do incêndio que atingiu mineradora em Barcarena
Fortes chuvas e umidade que ocorreram na noite de segunda-feira (6) podem ter causado o incidente, por conta de um material químico hidrofóbico
Peritos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPCRC) foram acionados para avaliar as causas e consequências do incêndio ocorrido na mineradora francesa Imerys, na última segunda-feira (6), no município de Barcarena, nordeste do Pará. De acordo com a apuração, o produto queimado foi o hidrossulfito de sódio, pó cristalino branco, com odor de enxofre, usado para o branqueamento redutivo do caulim — principal mineral que a empresa extrai. Preliminarmente, as fortes chuvas e a umidade que ocorreram naquela noite podem ter causado o incidente, visto que o material químico que queimou é hidrofóbico, ou seja, tem aversão à água.
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“Pouca água neste produto pode causar estas faíscas, até pequenas queimas, nada grandioso. Porém, esta reação química produz muita fumaça”, explicou o perito Rosywaldo Cantuário. A fumaça foi sentida pela população da Vila durante a noite, provocando inclusive reações respiratórias. O laudo técnico definitivo do CPCRC deve sair no prazo legal de 10 dias, e será repassado à Divisão Especializada em Meio Ambiente e Proteção Animal (Demapa), da Polícia Civil, para ajudar na conclusão do inquérito policial.
“A perícia também irá definir se a queima desse produto químico afetou ou irá afetar de alguma forma o meio ambiente e a saúde da população”, explicou o perito criminal do Núcleo de Crimes Ambientais (NCA). Os peritos Leonardo Paradela, integrante do NCA, e o perito Orlando Salgado, do Núcleo de Engenharia Aplicada (NEA), também integraram a equipe de perícia que se deslocou ao local do acidente.
A Polícia Civil do Pará, por meio da Demapa, deslocou uma equipe para Barcarena, visando adotar as medidas legais no âmbito judicial. “A Polícia Civil está, neste momento, apurando os fatos ocorridos, a fim de avaliar com detalhes a dimensão e os possíveis danos ambientais”, disse o delegado-geral de Polícia Civil, Walter Resende.
Semas aplica autos de infração à mineradora
Equipes de fiscalização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) também estiveram em Barcarena, na última terça-feira (7), para avaliar os danos ambientais após o incêndio ocorrido na empresa. Depois de colher análises in loco da qualidade da água dentro da indústria e na comunidade, foram aplicados três autos de infração ao empreendimento, por poluição do solo e do ar, e pelo não cumprimento de comunicado de acidente ambiental.
“As equipes estiveram no local para verificar a ocorrência e todas as ações complementares tomadas pela empresa após o acidente ambiental. Estamos coletando dados e informações para análises mais detalhadas. Durante a análise, podem ser gerados outros autos de infração”, informou Jorge Silveira, diretor de Fiscalização da Semas. A planta da empresa tem licenciamento ativo e está em processo de renovação sob condicionantes, que estão sendo analisadas pela equipe técnica em um prazo de 120 dias.
Incêndio
No local do incêndio, as guarnições do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil Estadual apoiaram o combate às chamas utilizando técnicas de abafamento e expulsão da fumaça emanada pela queima do produto. Para evitar a propagação do fogo, também foi utilizada uma retroescavadeira para retirada dos galões que continham a substância química, que foram colocados na área externa da empresa.
Com o fogo extinto e a fumaça dissipada, funcionários da empresa receberam orientações dos militares quanto à retirada segura do material de combustão. Já na manhã desta terça-feira (07) foram iniciados os trabalhos de perícia de incêndio, por oficiais especialistas da corporação, para identificar as causas do sinistro. Esse trabalho tem prazo de 30 dias para conclusão.
Saúde pública
Diante de desastres e acidentes com produtos perigosos, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS Pará), a Vigilância Sanitária Estadual e a Vigilância Ambiental Estadual deslocam equipes ao local do evento para apoiar, orientar e levantar informações importantes para verificar os riscos à saúde associados ao acidente químico.
Foi possível realizar o levantamento quantitativo de pacientes atendidos por conta do evento, e orientar equipes de três unidades de saúde: Estratégia de Saúde da Família, onde foram atendidos três pessoas com sintomas leves; Unidade de Pronto Atendimento (UPA), com nove atendidos, e Unidade Básica de Saúde (UBS), com 37 pessoas atendidas até o momento da visita técnica.
Foi feita a orientação de coleta em igarapés próximos à empresa, para análise química da água em relação à possibilidade de contaminação por produtos químicos tóxicos e metais. O CIEVS Pará mantém o monitoramento da situação, da população exposta, do número de atendimentos e de possíveis agravamentos dos pacientes, além de fazer a interlocução com os setores do Estado com o objetivo de reduzir os impactos à saúde pública.
Empresa diz que está colaborando com as investigações
Procurada pela reportagem, a Imerys informou que "...as investigações acerca do incêndio ocorrido na noite da segunda-feira (6), estão em curso com a participação das autoridades locais e estaduais. A empresa está colaborando com todos os órgãos e entidades responsáveis para auxiliar no que for aplicável e necessário".
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