MP oferece denúncia contra cuidador por maus-tratos e morte de 40 animais em abrigo na Grande Belém
O homem oferecia serviços remunerados como cuidador de animais de estimação que, depois, eram encontrados doentes ou mortos
Nesta semana o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) formalizou denúncia contra um homem de 30 anos pelos crimes de estelionato, apropriação indébita e maus-tratos, em decorrência da morte de cerca de 40 cães e gatos em um abrigo localizado em Benevides, na Região Metropolitana de Belém. De acordo com a denúncia, o instituto foi criado pelo denunciado sob a fachada de um lar temporário para animais, mas segundo investigações, revelava condições insalubres e práticas ilícitas.
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O abrigo, criado há aproximadamente cinco anos pelo suspeito e fechado em 2023, oferecia também serviços remunerados para acolher animais domésticos, além de supostamente funcionar como hotel, sob a responsabilidade do denunciado. No entanto, denúncias de tutores e testemunhas ouvidas pelo MPPA e pela reportagem de O Liberal apontam um cenário de negligência e sofrimento para os animais que eram deixados sob seus cuidados.
“Ele denominava a iniciativa dele de instituto, mas não tinha nenhuma estrutura, sem materiais, sem profissionais, era uma farsa”, diz Carmem Américo, que chegou a contratar os serviços do denunciado. Ela conta que foi até o suposto abrigo e quando viu as condições em que os animais eram mantidos desistiu e levou seu animal de volta.
Mortes e maus tratos
Consta do processo que as vítimas, que confiaram seus animais ao estabelecimento mediante pagamento mensal e doações extras para custos como ração e cuidados médicos, foram confrontadas com a descoberta de que seus pets estavam sendo submetidos a maus-tratos e ausência de cuidados adequados. Uma das tutoras, que deixou 15 animais sob os cuidados do acusado, relatou dificuldades em obter informações sobre seus pets e encontrou um dos cães bastante debilitado após uma visita ao abrigo. O animal acabou vindo a óbito dias depois.
A mesma tutora, conforme o Ministério Público, informou que passou a não receber informações sobre o paradeiro de alguns animais e que, em uma das visitas ao abrigo, o acusado ofereceu resistência para entregar os animais que ela havia deixado sob seus cuidados. Pouco tempo depois, ela recebeu um dos cães também muito abatido, o qual foi levado para tratamento, mas morreu dias depois devido à anemia profunda. Preocupada com a situação, a vítima decidiu buscar os demais animais, conseguindo resgatar apenas 12, dos 15 cães lá deixados. Outros dois desapareceram.
Além das condições precárias de alojamento e ausência de profissionais qualificados, as autoridades também investigam a prática de estelionato, uma vez que o acusado teria continuado a atrair novas vítimas por intermédio das redes sociais, mesmo após a instauração de inquérito policial. “Depois das denúncias ele disse que ia fechar, mas continua oferecendo os serviços, só mudou o nome do local", denuncia Carmem.
Segundo o MPPA, em muitos casos ele cobrava pelos serviços mesmo após a morte dos animais, sem comunicar seus tutores, e se esquivava de prestar contas ou devolvê-los aos proprietários.
"Ele me ofereceu os serviços dele pela internet, viu um post meu em um grupo no Facebook. Eu confiei nele, falava muito bem, sobre a causa animal, sobre as ideias futuras, mas recebi meu gato todo machucado, com ferimentos que até hoje não sei do que foi feito. Ele demorou a responder quando perguntava sobre o animal, o que me deixava desconfiada. Aí vi que eram muitas pessoas falando. Na verdade, ele é um psicopata”, relata uma das testemunhas ouvidas pela reportagem, que preferiu não se identificar.
Investigações dificultadas
Durante as investigações, foi constatado que o acusado teria dificultado a perícia ao incinerar e remover outros animais do local, o que foi corroborado por relatos de moradores vizinhos. A promotora de Justiça Maria José Vieira de Carvalho Cunha, responsável pelo caso, requereu não apenas a punição pelos crimes cometidos, mas também a reparação indenizatória às vítimas, conforme previsto no artigo 387 do Código Penal.
“O instituto, que inicialmente se apresentava como uma iniciativa para proteção animal, revelou-se um cenário de enganos. Durante esses anos achamos que a Justiça não faria nada, mas agora acreditamos que ele irá pagar pelos seus crimes”, conta uma das testemunhas.
A reportagem de O Liberal tentou entrar em contato com o fundador do instituto e alvo da denúncia do MPPA, no entanto, as ligações não foram atendidas.