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Mototaxista morto em Pacajá era principal testemunha de defesa de padre Amaro

Comissão Pastoral da Terra cobra investigação do Estado para elucidar crime

Caio Oliveira

Como noticiado ontem com exclusividade em OLiberal.com, o mototaxista Márcio Rodrigues dos Reis, que foi morto com um golpe de faca na garganta em Pacajá, era a principal testemunha de defesa de padre José Amaro Lopes de Sousa, considerado o sucessor da missionária Dorothy Stang. A informação foi confirmada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em comunicado divulgado nesta sexta-feira (6).

De acordo com a pastoral, o padre José Amaro e Márcio eram integrantes de um acampamento sem-terra que ocupou uma área disputada em 2016 com Silvério Albano Fernandes, um fazendeiro da região. Na versão da CPT, Fernandes apontava o religioso como liderança do grupo. A propriedade em questão é objeto de um processo que tramita, atualmente, no Tribunal Regional Federal 1, em Brasília. 

Ainda em 2016 houve um acordo entre acampados e fazendeiro, mediado pelo governo do Estado e Ouvidoria Agrária, para que as famílias permanecessem acampadas fora dos limites da propriedade, até que a justiça julgasse todos os recursos. "No entanto, meses depois do acordo, um grupo de fazendeiros e pistoleiros fortemente armados, liderados por Silvério Fernandes, invadiu, ateou fogo, destruiu o acampamento e expulsou as famílias", diz a Pastoral da Terra. 

O padre chegou a ser preso acusado de esbulho (quando alguém toma algo de outra pessoa forçadamente) e posse de arma. Ele foi absolvido do crime em setembro de 2018, mas considerado culpado por porte de arma.

Em março de 2017, um grupo de agricultores, entre eles Márcio, tentou reerguer o acampamento, mas ele foi preso sob a acusação dos crimes de Esbulho e Posse de Arma.  "As acusações contra Marcio de Esbulho e Posse de Arma cabiam fiança e direito de responder em liberdade, mas, mesmo assim, foi decretada sua prisão preventiva", diz a pastoral.

Ele permaneceu preso em Altamira por mais de nove meses, sendo colocado em liberdade em dezembro de 2017. Ele foi preso novamente em abril de 2018, após policiais terem encontrado uma espingarda em sua casa. Em sentença, o juiz de Anapu reconheceu que não havia provas para manter a acusação do crime de esbulho contra Marcio e o absolveu, mas, o condenou pelo crime de posse de arma. Como a pena estabelecida foi de 2 anos, ele não poderia continuar preso, e foi então posto em liberdade em setembro de 2018, depois de quase cinco meses preso. 

"Em liberdade, mas ameaçado de morte, Márcio foi aconselhado a sair de Anapu. Passou então quase um ano residindo fora do município, mas, devido às relações familiares construídas em Anapu e para manter sua profissão de mototaxista, decidiu retornar alguns meses atrás. Achava que não corria mais risco. Mas acabou sendo assassinado", escreveram representantes da CPT. Segundo a comissão, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) deveria conduzir a apuração do assassinato de Marcio. 

"Com o assassinato de Marcio, completam 15 assassinatos de trabalhadores ocorridos em Anapu, desde o ano de 2015. Após intensa pressão, a Polícia Civil de Anapu instaurou inquéritos para apurar os 14 homicídios até então ocorridos. Até o início de 2019, apenas dois casos tinham resultado em uma ação penal, e em outros três houve apenas indiciamento de algum acusado. Nos nove restantes, os inquéritos sequer foram concluídos. Em todos eles, apenas um caso teve mandante identificado e preso", complementa a CPT na nota.

A reportagem entrou em contato com a Segup e aguarda retorno, mas foi informada que a Secretária não pode atuar como força de investigação, como foi solicitado pela pastoral, e que todo os trabalhos referentes à apuração do assassinato estão concentrados com a Polícia Civil.

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