Mergulhadores iniciam buscas após queda da ponte entre Maranhão e Tocantins; veja os detalhes
Inicialmente, as buscas haviam sido paralisadas por conta de dois caminhões que transportavam produtos altamente corrosivos, o que representava risco para as equipes de resgate
Familiares das vítimas da queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, entre Maranhão e Tocantins, seguem acompanhando, nesta quarta-feira (25), as buscas realizadas pelas equipes de resgate no rio Tocantins. Após uma reunião pela manhã entre representantes da Marinha do Brasil e dos Corpos de Bombeiros dos dois estados, foi definido o início das buscas com o auxílio de mergulhadores. Essa é a primeira vez, desde o acidente, que mergulhadores são mobilizados para procurar as vítimas. Inicialmente, as buscas haviam sido paralisadas por conta de dois caminhões que transportavam produtos altamente corrosivos, o que representava risco para as equipes de resgate.
De acordo com informações do governo maranhense, 13 pessoas continuam desaparecidas e quatro mortes foram confirmadas, sendo três pessoas do sexo feminino e uma do sexo masculino. Uma pessoa foi resgatada com vida e levada para receber atendimento médico em um hospital.
Por meio de nota, o Governo do Maranhão informou nesta quarta que a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema), com base na Nota Técnica emitida pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), avaliou que a concentração, a vazão do rio Tocantins e a toxicidade das substâncias químicas envolvidas no incidente, foi concluído que “ há riscos à saúde humana relacionados à qualidade da água”.
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“O monitoramento ambiental continuará sendo realizado de forma integrada, com coletas e análises em pontos estratégicos do rio Tocantins, garantindo a segurança ambiental e a proteção da população”, informou o governo maranhense.
Corpo de criança paraense é encontrado
Entre as vítimas paraenses, foi encontrado o corpo de Lohanny Cidronio de Jesus, de 11 anos, na manhã de terça-feira (24). A menina estava acompanhada dos avós, Anízio Padilha Soares e Silvana dos Santos Rocha Soares, todos moradores de Dom Eliseu, no sudeste do Pará. A família estava em um caminhão transportando uma carga de MDF para a cidade de Estreito, no Maranhão, quando a ponte desabou.
Ainda permanecem desaparecidas a enfermeira Cássia Tavares, de Tucuruí, e sua filha de dois anos. O esposo de Cássia, Jairo Rodrigues, sobreviveu ao acidente e foi encontrado atordoado em uma rocha nas proximidades do local da tragédia. Um vídeo gravado por testemunhas momentos após o desabamento mostra Jairo visivelmente desorientado.
Na segunda-feira (23), a Prefeitura de Novo Repartimento confirmou que o vereador Ailson Gomes Carneiro e sua esposa, Elisangela Santos das Chagas, também estão entre as vítimas. O casal estava em uma caminhonete de Palmas, no Tocantins, em uma viagem de lazer.
Caminhoneiros vinham ao Pará descarregar mercadorias
Dois caminhoneiros mortos no desabamento da ponte vinham ao Pará. Eles foram identificados como Andreia Maria de Sousa, de 45 anos, e Kécio Francisco Santos Lopes. Os corpos deles foram encontrados na terça-feira (24).
Andreia transportava ácido sulfúrico. O marido dela, José de Oliveira Fernandes, que também é caminhoneiro, disse à TV Anhanguera, ter chegado a conversar com a esposa antes do acidente na estrada, quando esperavam por um mecânico para consertar o caminhão de José.
Após o mecânico chegar, Andreia seguiu viagem. Segundo o marido, ela esperava chegar na divisa do Pará ainda no último domingo (22). “Nos despedimos e ela seguiu viagem. Disse que gostaria de chegar na divisa do Pará, ontem (22) ainda. Mas infelizmente a viagem dela parou aqui”, contou emocionado.
Já Kécio Francisco Santos Lopes, encontrado na margem esquerda do rio Tocantins, em Aguiarnópolis (TO), transportava defensivos agrícolas para Marabá, no sudeste paraense. A carga era oriunda do Piauí. Ele chegou a abastecer o caminhão num posto da região e comentou que era a sua primeira viagem no volante do veículo. O corpo dele foi removido do local e encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) do Tocantins para os procedimentos necessários.
Companhia retoma captação de água do rio Tocantins
A Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) retomou os sistemas de captação e tratamento de água do Rio Tocantins e o abastecimento na cidade de Imperatriz está retomado dentro da normalidade.
“De acordo com os testes realizados pela Companhia a cada duas horas com a água para consumo, todos os parâmetros estão normais, incluindo o PH, que tem registrado variação de 6,5 a 6,8”, informou o Governo do Maranhão.
“Na terça-feira (24), a ANA emitiu nota técnica informando não haver risco à saúde humana no processo referente ao consumo das águas do Rio Tocantins”, acrescentou.
PF assume as investigações do caso
Uma investigação foi aberta pela Polícia Federal para apurar as responsabilidades sobre a queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira. Na terça-feira (24), a PF informou que as Superintendências Regionais da Polícia Federal no Maranhão e no Tocantins devem conduzir o caso.
“Além disso, um procedimento de investigação precedente foi instaurado e policiais federais já foram deslocados para coletar dados e evidências sobre o caso. As equipes também irão avaliar a multidisciplinariedade das perícias necessárias e identificar demandas de equipamentos técnicos para aprofundar as investigações”, informou a Polícia Federal.
MPF apura impactos ambientais
O Ministério Público Federal (MPF) instaurou, na segunda-feira (23), um inquérito civil para investigar as consequências socioambientais e os riscos à saúde pública decorrentes do desabamento da ponte. A Prefeitura de Marabá, no sudeste do Pará, emitiu um alerta à população na segunda-feira, orientando os moradores e comunidades localizadas às margens do rio Tocantins a evitarem qualquer contato com a água do rio devido aos riscos de contaminação química.
Segundo o MPF, o derramamento de ácido sulfúrico e agrotóxicos representa graves riscos à saúde das populações ribeirinhas e tradicionais que dependem do rio como fonte de subsistência. O contato com essas substâncias pode provocar queimaduras, intoxicações, problemas respiratórios e danos aos olhos.
Familiares pressionam Governo do Maranhão
Em um vídeo enviado à reportagem do Grupo Liberal, parentes das vítimas paraenses cobraram ações mais rápidas e eficazes do governador do Maranhão, Carlos Brandão, nas buscas pelos desaparecidos. O acidente, envolvendo caminhões carregados com material altamente corrosivo, suspendeu temporariamente as operações de resgate devido ao risco de contaminação das águas do rio Tocantins.
No registro, um homem, parente de uma das vítimas de Dom Eliseu, no Pará, questiona diretamente o governador sobre o andamento das buscas. “Governador, a mídia está boa, está bonita, mas a gente quer saber da questão do agilizar dos procedimentos para a gente poder começar as buscas”, disse ele. “Somos parentes das vítimas, temos três vítimas”, disse uma segunda pessoa, parente de outras vítimas.
O governador respondeu que o Corpo de Bombeiros estava trabalhando com o apoio do Governo do Estado para fornecer informações mais detalhadas sobre a situação, mas a resposta não convenceu os familiares. “Já sabemos dessas informações, mas até o momento, nada foi feito para agilizar esse procedimento. O helicóptero chegou para trazer a imprensa, chegou para trazer o senhor, chegou para trazer várias pessoas”, reclamou um dos homens, referindo-se que a chegada das autoridades competentes não tinha sido acompanhada da chegada de um perito responsável por fazer a análise das águas.
“Daqui a pouco, vai ficar noite e eles vão paralisar as buscas. Daqui a pouco vai chover e vão parar as buscas também. Nós, como parentes, precisamos que vocês se unam a nós nesse momento. Quando a ponte estava para cair, vocês não vieram fazer a mídia, não tomaram providências para evitar isso”, afirmou. Ele também mencionou a ausência de intervenções por parte de órgãos federais, como a Polícia Rodoviária Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
“A minha mãe não volta, meu pai não volta”, acrescentou o homem. Em seguida, ao perceber que o governador começava a se retirar, ele comentou: “Agora, o senhor vai se retirar, porque não é mais sua responsabilidade, mas nós queremos saber de quem é a responsabilidade”.