Homicídios de trabalhadores rurais em Anapu são de responsabilidade do Brasil, diz Defensoria
Documento foi protocolado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Os crimes ocorreram em 2018
Uma petição protocolada pela Defensoria Pública do Estado do Pará, por meio do Núcleo de Defensorias Agrárias, e da Clínica de Direitos Humanos da Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do Grupo de Trabalho de Litígio Internacional, requer a responsabilização do estado brasileiro em relação aos homicídios de dois trabalhadores rurais no município de Anapu, no sudoeste paraense. O documento foi registrado na última quinta-feira (16), na Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O pedido aponta a omissão estatal em investigar, processar e julgar os autores dos assassinatos, ocorridos em 2018, e as violações de direitos humanos dos familiares das vítimas.
Conforme o documento, os processos que investigavam os autores dos homicídios permanecem na fase de inquérito policial há três anos e sem indicar a autoria dos crimes. A investigação foi arquivada em 2021. A petição aponta ainda omissões nas investigações e no indicativo da relação desses assassinatos com outros homicídios na região.
A petição ainda relata danos materiais à integridade física, psicológica e moral sofridos pelos familiares das vítimas, como a perda da terra, risco de morte e não inclusão em programa de proteção. Por conta disso, o documento também pede apoio psicossocial e reparação pecuniária às famílias, e que sejam inseridos em programas de regularização fundiária.
A petição também pleiteia um pedido oficial de desculpas pelas graves violações de direitos humanos perpetradas contra as vítimas e a construção de um memorial de combate à violência no campo, no município de Anapu.
Região de conflitos
A área, que foi palco anunciado de tragédia desde o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, é alvo de diversos crimes relacionados à questão agrária. As vítimas eram trabalhadores rurais e moradores da Gleba Bacajá, área conhecida como Mata Verde.
Os dois homicídios aconteceram no mesmo dia, um seguido do outro, com uma diferença de 30 minutos. O conflito agrário no lote 46 foi apontado como a motivação de ambos os crimes.
Segundo o monitoramento realizado pela DPE do Pará, foram identificados 20 crimes de homicídios ocorridos entre 2015 e 2019, no município de Anapu, tendo como principais vítimas trabalhadoras rurais e ativistas das lutas pelos direitos humanos, em prol da reforma agrária e acesso à terra.
Deste total, oito casos tiveram os inquéritos policiais arquivados pelo Poder Judiciário, a pedido do Ministério Público do Estado do Pará, por ausência de indícios de autoria delitiva para apresentação da denúncia, isto é, a investigação policial não alcançou os supostos autores dos crimes de homicídios.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA