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Família de jovem baleada por sargento diz que expulsão de policial foi 'sopro de esperança'

Artur dos Santos Júnior foi expulso da PM, após ser acusado de tentativa de feminicídio contra a universitária Catharina Kethellen da Silva Palmerin

O Liberal

A notícia da expulsão do 1º sargento da Polícia Militar, Artur dos Santos Júnior, acusado de tentativa de feminicídio contra a universitária Catharina Kethellen da Silva Palmerin, 24 anos, após assediá-la, foi recebida pela família da jovem como um “sopro de esperança” para que a justiça seja feita ao caso. O crime ocorreu em setembro do ano passado. O ex-PM chegou a ser preso, mas agora r​esponde ao processo em liberdade.

A reportagem do Grupo Liberal conversou, na tarde desta terça-feira (23), com a irmã da vítima. Débora Palmerin afirmou que a família agora aguarda o julgamento do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA), que ainda não tem data para ocorrer. Disse também que deseja que o ex-policial militar seja levado a júri popular. Débora contou ainda que, atualmente, dez meses após o ocorrido, Catharina vive com a bala alojada próximo do útero e, por esse motivo, tem uma rotina bastante limitada, inclusive sem poder voltar aos estudos.

Justiça

“Acho que foi um sopro de esperança. O que veio foi um pouco de consolo por sabermos que ele já começou a pagar pelo que fez. Muitas pessoas chegaram a falar que não daria em nada, mas a gente provou que, sim, a pessoa que te obriga a cumprir a lei também tem que cumpri-la. Nós estamos felizes”, declarou Débora.

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Débora comentou sobre a complexidade do caso e como a família teve que lidar com város acontecimentos ao mesmo tempo. “Quando tudo ocorreu, a gente tinha três vertentes para tratar: a primeira era a saúde dela, que é super frágil, tanto física quanto psicológica. E existiam mais duas, que era a parte administrativa, para garantir que ele fosse expulso da PM, porque ele na condição de policial tinha algumas regalias. E a terceira era na esfera criminal, na qual o nosso anseio é levá-lo a júri popular, porque ele indo a júri popular, com um crime de repercussão como esse, a possibilidade de ele sair de lá com a justiça sendo feita é bem maior”, comentou Débora, ao acrescentar que a família espera a data do julgamento.

Julgamento na esfera criminal

“Então, agora, a gente resolveu a parte administrativa. A Corregedoria [da Polícia Militar] respondeu à altura, sobre esse anseio que a gente tinha por justiça. Agora, nossa concentração é cem por cento no eixo criminal, para que a gente possa ter o retorno que precisa. Já tivemos duas audiências de instrução do processo dela. Faltavam alguns documentos, os quais já foram anexados. Agora, estamos esperando a data do julgamento. Eu gostaria que ainda fosse esse ano. Ele tem que servir de exemplo para todo homem que acha que pode atuar de forma criminosa contra uma mulher”, disse Débora.

Débora destacou o papel da família e da advogada que representa os parentes nesse caso, para acompanhar, de perto, os desdobramentos de tudo o que foi levado ao conhecimento das autoridades policiais como prova do crime praticado pelo ex-policial militar. “O acompanhamento principal foi abrir o processo dentro da Corregedoria. Nesse processo, o Governo do Estado deu todo o suporte para a gente com as atualizações, inclusive as provas materiais a gente conseguiu indicar para eles o local, como conseguiriam pegar as imagens de câmeras para comprovar que ele estava assediando-a. Nós temos uma advogada que estava acompanhando tanto esse processo administrativo quanto o criminal. A gente ficou em cima, sempre pedindo prazos”, relembrou.

“Tem uma instituição que se chama Vida Pará, que tem um histórico de atendimentos às vítimas não só de policiais, mas de todas as naturezas. Lá, tivemos o senhor Nazareno que foi o nosso principal braço para acompanhamento do caso junto à polícia”, afirmou Débora.

Estado de saúde da vítima

Débora detalhou como a irmã recebeu a notícia da expulsão de Artur, bem contou as dificuldades enfrentadas atualmente pela jovem. “Ela recebeu com muita alegria. Nesse período todo, acho que foi a primeira vez que eu a vi sorrir. No dia do ocorrido, ela foi operada e perdeu um metro de intestino. A bala ficou alojada no corpo dela. O projétil não pode ser retirado porque está em um local muito profundo, que se mexer vai causar uma hemorragia interna. Então, isso limita muito o esforço dela”, lamentou.

Bala alojada

Débora revelou também que até hoje, dez meses após o baleamento, a vítima continua com a bala alojada no corpo, o que a deixou com limitações físicas e, consequentemente, em suas tarefas do dia a dia. Além disso, Catharina Kethellen leva uma vida traumatizada, à base de medicamentos e sem conseguir dormir direito.

“O projétil está muito próximo ao útero. Além dele [o acusado] quase tirar a vida dela, ele tirou a oportunidade dela de ser mãe, porque se o útero dela dilatar, o projétil vai estourar. Ela não tem como ser mãe. Isso abalou muito o psicológico dela, fora o trauma em si. Ela está se tratando com psicólogos, a gente já tentou algumas terapias e ela está no remédio para tentar controlar a ansiedade, para dormir, às vezes, ela se debate sozinha, gritando durante o sono. A saúde mental dela está bem comprometida, até mais que a física”, afirmou Débora.

Interrupção dos estudos

“Ela estava se formando em Enfermagem. Ela ainda não consegue sair na rua sozinha, quase não sai de casa, passa a maior parte do tempo dormindo. Ela não está estudando. Ela não teve coragem ainda de retornar. Ainda não conseguimos tirá-la desse estado de luto profundo”, relatou a irmã da vítima.

Boletim de ocorrência fraudulento

Na época do crime, o ex-PM afirmou que agiu em legítima defesa. Na versão dele, a universitária estaria sob efeito de entorpecentes e teria tentado assaltá-lo. Segundo Débora, que conseguiu as imagens de câmeras de segurança das proximidades do local onde o crime foi registrado, os registros são claros. Artur estava assediando Catharina Kethellen antes de baleá-la. “Quando tudo aconteceu, ele registrou um boletim de ocorrência fraudulento contra ela, afirmando que ela teria tentado assaltá-lo, que ela estava extremamente drogada e tentou atacá-lo e que, por isso, ele em legítima defesa reagiu. A própria polícia fez essa investigação. As imagens foram muito esclarecedoras, porque ele se masturba olhando para ela. Dá para ver o quanto ele foi insistente”, revelou Débora.

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