Pix por engano? Veja dicas para não cair no novo golpe da devolução de dinheiro
Em muitos casos, os golpistas se aproveitam da boa-fé de quem recebe um Pix para aplicar fraudes sem precisar invadir o celular, roubar senhas ou ameaçar as vítimas.

Uma nova modalidade de golpe, conhecida como “Pix de devolução”, tem causado prejuízos a usuários desse meio de pagamento instantâneo. Nesse crime, os golpistas exploram a boa-fé de quem recebe um Pix "por engano" para aplicar a fraude, sem a necessidade de invadir o celular, roubar senhas ou usar ameaças. O professor José Fonteles, especialista em proteção digital, orienta sobre como se prevenir e explica como os criminosos exploram a pressa e a falta de checagem por parte das vítimas.
O golpe do Pix de devolução acontece quando o criminoso envia, de propósito, um Pix à vítima — geralmente de valor baixo. Depois, entra em contato alegando que a transferência foi um erro, e pede a devolução. Porém, orienta a vítima a transferir o valor para uma outra chave Pix, vinculada a uma conta diferente da que fez o envio original. Em seguida, o golpista aciona o banco, afirma que foi vítima de um golpe e, como o valor foi devolvido a outra conta, a instituição entende que pode se tratar de uma fraude e retira o dinheiro da conta da vítima para reembolsar o criminoso.
A fraude tem sido viabilizada por meio do Mecanismo Especial de Devolução (MED), sistema do Banco Central criado para recuperar valores transferidos em golpes reais. A ferramenta, que nasceu para proteger as vítimas, agora tem sido usada por criminosos para concretizar a fraude. Esse uso indevido torna o golpe ainda mais perigoso, pois se apoia na honestidade das vítimas e no desconhecimento sobre o funcionamento do MED.
Segurança
Para o professor José Fonteles, a prevenção começa com desconfiança.
“Evite fazer transferências por impulso. Parar e checar se os dados estão corretos pode evitar prejuízos financeiros. Desconfie de qualquer situação fora do comum envolvendo transferências via Pix. Mesmo que a pessoa diga que foi um engano, é preciso estar alerta para não ser convencido pela história inventada pelos golpistas”, orienta.
Fonteles destaca que o crescimento dos golpes está diretamente ligado ao aumento do uso do Pix.
“Muitas vezes, os erros e fraudes não são culpa da ferramenta, mas da forma como as pessoas a utilizam. O que leva alguém a cair num golpe é o motivo pelo qual ela decide fazer a transferência, não o Pix em si. Assim como TED ou DOC, ao preencher os dados no Pix, é possível visualizar quem está enviando e quem vai receber o dinheiro. A diferença é que o Pix é mais ágil, com uma única chave — mas os dados continuam visíveis”, reforça.
Segundo ele, os golpistas usam estratégias baseadas em medo, urgência e desatenção.
“Muitas vezes são cobranças falsas de valores baixos, como R$ 30 ou R$ 70. Os criminosos criam boletos falsos, e-mails e SMS fraudulentos. No calor do momento, achando que é pouco, a pessoa transfere. Às vezes dizem até que o CPF será bloqueado. Assustada, a vítima paga sem checar. E assim, de pouco em pouco, os golpistas arrecadam somas consideráveis”, explica.
Alerta
O Banco Central (BCB) alerta que, ao receber um Pix por engano, a devolução deve ser feita somente pela função disponível no aplicativo bancário, dentro do prazo de 90 dias.
“O usuário não deve fazer um novo Pix. A devolução precisa ser realizada pela funcionalidade específica do aplicativo do banco”, destaca.
O BCB esclarece que, se alguém enviar um Pix por engano — como digitar a chave errada —, o banco não pode retirar automaticamente o valor da conta de quem recebeu. Isso porque essa situação não configura fraude. Apenas transferências comprovadamente fraudulentas são passíveis de reversão via MED. Assim, se a pessoa devolveu o valor voluntariamente, o banco não pode realizar nova devolução automática.
A instituição reforça os cuidados para evitar fraudes com Pix:
Confirme o nome do destinatário antes de finalizar a transação.
Não forneça dados pessoais ou bancários a desconhecidos.
Jamais aceite devolver valores para uma chave diferente da que enviou originalmente.
O golpe
De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), muitos criminosos conseguem a chave Pix da vítima por meio de dados expostos em redes sociais. A recomendação é evitar expor informações pessoais na internet, desconfiar de e-mails com promoções suspeitas e não clicar em links enviados por mensagens.
“Em cadastros online ou buscas em redes sociais, o criminoso consegue o número do celular da vítima, que pode estar vinculado à chave Pix. Com isso, ele faz uma transferência e, em seguida, entra em contato dizendo que errou e pede o estorno. Ele usa técnicas de convencimento para induzir a devolução”, explica a Febraban.
O maior risco, segundo a entidade, é que o criminoso pode lucrar duas vezes:
“Ele recebe o Pix devolvido voluntariamente e, depois, o valor reembolsado pelo MED. A vítima acaba tendo o prejuízo em dobro. Sempre que receber um pedido de devolução, utilize a opção ‘Devolver’ dentro do app do banco. Isso garante que o dinheiro volte para a conta que enviou originalmente. Nunca envie para outra conta”, orienta.
Como fazer a devolução com segurança:
- Acesse a área Pix do aplicativo do banco.
- Vá em “Extrato” e clique no valor recebido.
- Selecione a opção “Devolver”.
- Nunca realize o estorno para uma nova chave Pix.
Fraudes no Pará
No Pará, a Polícia Civil investiga casos de fraude com Pix em diversas regiões do estado. A recomendação é que, ao receber pedidos de devolução, a pessoa entre em contato com o suposto remetente por meios oficiais e confirme a veracidade da solicitação.
“A vítima deve desconfiar de qualquer pedido para transferir valores para contas diferentes da que enviou o Pix. Esse é um dos principais sinais de golpe”, alerta a instituição.
Além disso, é essencial registrar um boletim de ocorrência e reunir todas as informações possíveis — como chaves Pix, números de telefone e comprovantes de transações — para ajudar na investigação e aumentar as chances de recuperação do valor.
Nesta semana, a Polícia Civil, por meio da Delegacia de Soure, realizou uma operação para combater fraudes digitais no município. A Justiça autorizou o bloqueio de contas e o sequestro de bens de suspeitos envolvidos em golpes com Pix. A medida é resultado de uma investigação baseada em relatórios técnicos, laudos prosopográficos, oitivas de testemunhas, entre outras diligências.
Ao todo, oito contas bancárias foram bloqueadas e os valores sequestrados poderão ser usados futuramente para indenizar três vítimas residentes em Soure. Os investigados foram formalmente indiciados por estelionato qualificado por meio digital. A polícia agora busca identificar outros envolvidos e desarticular eventuais núcleos criminosos atuando na mesma modalidade.
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