'Chiclete com sonífero': ao menos 4 idosas foram vítimas na Grande Belém
As vítimas são sempre idosas, que, na maioria das vezes, se locomovem de ônibus entre os municípios da região metropolitana
Ao menos quatro casos do chiclete que estaria com sonífero já foram contabilizados na Grande Belém. As vítimas são sempre idosas, que, na maioria das vezes, se locomovem de ônibus entre os municípios da região metropolitana. A reportagem de O Liberal solicitou posicionamento à Polícia Civil sobre os casos, mas não teve retorno. Uma das vítimas, idosa de 77 anos, que terá identidade preservada por questões de segurança, conversou com a reportagem, nesta quinta-feira, 11, e detalhou o que ocorreu.
Ela disse que o caso aconteceu há uma semana, depois de entrar em um ônibus que vai do centro da capital até o município de Marituba. Durante o percurso, já com sinais de sonolência, ela teria sido assaltada pela mulher que lhe ofereceu a goma de mascar. Por conta do estado letárgico, a idosa ainda acabou machucando a testa no momento em que o ônibus fez uma curva. A reportagem também teve acesso ao boletim de ocorrência registrado sobre o caso.
Segundo a idosa, ela ia para casa quando pegou o ônibus, por volta de 12h15, no Complexo do Ver-o-Peso. A vítima se sentou em uma cadeira próxima da janela do ônibus e uma mulher se aproximou para conversar.
“Moro próximo de um shopping na BR-316, então qualquer ônibus que passa por lá serve. Me sentei e peguei o meu lanche para comer. Uma mulher que estava na fileira do outro lado veio e sentou perto de mim. Ela era forte e branca. A mulher puxou assunto comigo dizendo que o sol estava muito forte onde ela estava. Concordei e continuamos batendo papo. Assim que terminei de comer, a mulher me ofereceu um chiclete. Comi o bombom”, iniciou a idosa.
E continuou: “Depois de um tempo acordei rodeada de enfermeiros. Estava na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Marituba. Eu desmaiei. A mulher levou o meu celular, minha aliança, a chave de casa e uma quantia em dinheiro que estava guardada na minha bolsa. Ainda machuquei minha testa enquanto estava desacordada no ônibus. Levei dois pontos na cabeça. A sorte foi que ela não levou meus documentos pessoais. Foram apenas perdas materiais”, relatou a idosa, inconformada com a situação.
De acordo com a vítima, uma das poucas lembranças que tem é a de abrir os olhos e enxergar o ônibus passando em frente às paróquias da Santíssima Trindade, localizada em frente à praça Barão do Rio Branco, bairro da Campina, e na de São Sebastião, que fica na avenida Senador Lemos, no bairro da Sacramenta.
O motorista do ônibus em que a idosa estava a levou até um centro de saúde. Depois ela foi transferida para a UPA de Marituba. Por conta de uma lista de contatos que a vítima guardava na bolsa, os enfermeiros conseguiram localizar amigos e avisar aos familiares.
A idosa alertou as pessoas para que tenham mais cuidado ao aceitar ofertas feitas por estranhos. “Não sei porque peguei o chiclete. Acho que até engoli. Não lembro. Nunca pensamos que uma coisa dessa vai acontecer com a gente. Não podemos confiar em quem está ao nosso lado e nem aceitar algo, vindo de quem a gente não conhece. Graças a Deus, estou bem”, agradeceu.
O caso foi registrado na Delegacia Virtual como furto no dia seguinte ao ocorrido. “A mulher me drogou com um bombom no ônibus. Eu desmaiei e ela roubou meu celular, dois anéis e 25 reais”, descreve o registro policial.
A instituição Cynthia Charone confirmou a ocorrência. A vítima do furto faz parte do Programa de Envelhecimento Ativo e Saudável. Em nota, a instituição confirmou que, após notificar o caso, outra idosa também relatou ter sido vítima do golpe do sonífero no chiclete. A reportagem de O Liberal tentou contato com essa segunda vítima, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Novas vítimas
Após matéria publicada pelo Oliberal.com sobre as duas primeiras vítimas do golpe, mais dois casos chegaram ao conhecimento da reportagem. A terceira ocorrência envolve uma idosa de 65 anos, moradora de Ananindeua. Ela registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil do Julia Seffer, localizada no bairro de Águas Lindas, no mesmo município.
No documento, a idosa relatou que, no dia 1º de julho, estava no Ver-O-Peso e pegou um ônibus na praça do Relógio. “Neste momento, uma mulher com características forte, altura mediana, cabelos castanhos claros, e que se vestia igual um homem, entrou no mesmo ônibus”, consta no boletim de ocorrência.
Ainda segundo o registro, a suspeita teria sentado ao lado da idosa, com quem começou a puxar assunto. Momentos depois, ofereceu uma bala para a idosa, que aceitou. Já na BR-316, a suspeita ofereceu um segundo doce para a vítima, que novamente aceitou. Ao chegar na parada de ônibus da praça 2 de Junho, no bairro de Águas Brancas, em Ananindeua, já se sentindo mal, a idosa teria descido do ônibus. A desconhecida teria se oferecido para prestar ajuda, alegando que também desceria ali para apanhar um outro coletivo.
No boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Polícia Civil do Júlia Seffer, a idosa relatou ainda que lembra apenas de ter entrado em um carro vermelho e que a suspeita a acompanhou até a sua residência, de onde furtou celulares, televisão, jóias, perfumes, dinheiro e roupas.
Foi o neto da idosa quem chegou à residência logo após o furto e percebeu que havia alguma anormalidade. Por conta própria, ele iniciou as buscas na tentativa de identificar e localizar a suspeita. Ele conseguiu imagens de câmeras de segurança das proximidades da praça 2 de Junho. As imagens mostram o momento em que a idosa entra em um carro vermelho, acompanhada de uma mulher, vestida de calça clara e blusa rosa. O motorista do veículo aparece nas imagens ajudando as mulheres a se acomodarem no automóvel.
“Eu fui atrás desse carro. Esse cara trabalha num ponto lá. Segundo taxistas, ele trabalha fazendo corridas no bairro. E, provavelmente, ele deu azar de fazer justamente essa corrida”, contou o neto da idosa. O rapaz não acredita que o motorista seja comparsa da suspeita.
De posse das imagens, o neto da idosa publicou o vídeo em suas redes sociais, para pedir que as pessoas ajudassem na identificação e localização da suspeita. A partir da publicação da gravação, imediatamente, uma internauta, que seria próxima de uma quarta vítima, respondeu: “Boa noite! Queria dizer que o mesmo aconteceu com os avós do meu namorado. Mês retrasado se não me engano. A avó do meu namorado estava no ônibus, conheceu ela no ônibus. Ela deu uma bala para a avó do meu namorado e, quando chegou na casa deles, ela pediu um copo d’água. E a avó do meu namorado ofereceu uma água para ela. Eles tomaram café com pão e ela botou droga no café deles. Ficaram uns quatro dias drogados, dormindo. Ela roubou dinheiro e dois celulares da casa”, detalhou a jovem.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA