Chacina de São Félix do Xingu: após um ano, nenhum responsável pelo crime foi identificado
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Pará e Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) divulgaram nota conjunta cobrando punições aos autores.
Um ano após a Chacina de São Félix do Xingu - como ficou conhecido o crime que vitimou uma família inteira que desenvolvia um projeto ambiental de proteção de quelônios no sudeste paraense - nenhum responsável pelo crime foi identificado. Por conta disso, entidades como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Pará e Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) divulgaram nota conjunta cobrando punições aos autores.
Na manhã de 9 de janeiro de 2022, os corpos de José Gomes, 61 anos, conhecido como “Zé do Lago”; a esposa, Márcia Nunes Lisboa, 39 anos; e a filha, Joene Nunes Lisboa, 17 anos, foram encontrados com marcas de tiros na propriedade da família, em uma fazenda localizada na Cachoeira do Mucura, que fica às margens do Rio Xingu, no município de São Félix do Xingu. Devido ao avançado estado de decomposição, a polícia entendeu que as vítimas já estavam mortas há alguns dias. O casal de ambientalistas vivia no local há mais de 20 anos.
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“Passado um ano do crime, a Secretaria de Segurança Pública do Estado e o Ministério Público não disseram uma única palavra sobre as investigações e identificação dos responsáveis pelos crimes. Fato é que, até o presente momento, não sabemos absolutamente nada sobre o trabalho da polícia e da Promotoria que acompanha o caso”, diz um trecho da nota.
O comunicado destaca que a família de José Gomes era reconhecidos pelo trabalho ambiental que fazia na região. A terra ocupada por eles está em área de jurisdição do Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, uma área de preservação ambiental com mais de 1,5 milhões de hectares. “Nos últimos anos o desmatamento para exploração de madeira e criação extensiva do gado, tem avançado de forma descontrolada dentro da reserva, se aproximando cada vez mais da região onde a família de Zé do Lago tinha sua propriedade”, ressaltou a nota.
Mais de 230 mortos em 40 anos
Nas últimas quatro décadas, apenas na região sul e sudeste doPará, foram registradas 43 chacinas de trabalhadores rurais com 236 mortos, segundo a CPT. “Em apenas quatro delas houve julgamento de algum responsável e apenas dois condenados chegaram a ser presos. No mesmo período, 75 lideranças foram assassinadas nessa região. Uma delas foi o sindicalista Ronair José de Lima, assassinado no município de São Félix do Xingu em 4 de agosto de 2016, cujos responsáveis pelo crime continuam impunes”.
“A Justiça, e não a impunidade é que deve prevalecer, nem que para isso o caso seja federalizado, por incompetência e/ou omissão das autoridades estaduais. Exigimos das autoridades do Estado do Pará, do Ministério Público e do Poder Judiciário, seja na instância estadual ou federal, a responsabilização dos autores da chacina de São Félix do Xingú”, destacou a nota.
No dia 14 de janeiro de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) deu início a um procedimento para acompanhar o andamento das investigações. Na época, o MPF afirmou que os fatos são de extrema gravidade e se inserem em um contexto de reiterados ataques a ambientalistas e defensores de direitos humanos no país. Naquele ano, mais de 50 entidades e movimentos sociais divulgaram uma carta pública cobrando rapidez nas investigações e responsabilização dos envolvidos.
A Redação Integrada de O Liberal solicitou posicionamento sobre o caso à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) e ao Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), e aguarda um retorno.
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