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Ruídos da vida urbana podem causar prejuízos para audição

Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído tenta conscientizar para os cuidados com o aparelho auditivo

Vito Gemaque

O Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído, comemorado na última quarta-feira de abril, traz a reflexão sobre os cuidados com o aparelho auditivo. Os especialistas e pesquisas científicas advertem que o ruído em excesso faz mal à saúde e pode ser a causa de diversos distúrbios, entre eles problemas auditivos precoces nas novas gerações. No centro comercial de Belém, como em qualquer grande cidade, o barulho constante de buzinas, música alta, e sons de todos os tipos são muito comuns. Quem vive cotidianamente nesses ambientes barulhentos precisa tomar alguns cuidados e precauções.

O locutor Humberto Silva, de 55 anos, trabalha no ramo da comunicação de áudio há 40 anos. Trabalhando em um carro-som montado em uma kombi, com potentes caixas-de-som, ele agita o bairro do Comércio, em Belém, para chamar a atenção para os seus clientes. “Eu sou locutor, porque eu faço ao vivo a onda. O cliente pede a locução ao vivo, porque ela é mais dinâmica, fora que a mídia gravada fica repetitiva. Eu tenho que me preocupar com as palavras, para não falar errado, com a música que vai acabar, com o trânsito, com tudo. O que mais incomoda não é a música, é a buzina, tem sempre alguém buzinando, é o motoqueiro, o outro condutor, sempre alguém buzinando desnecessariamente”, conta.

Humberto passa em média de sete a oito horas com caixas-de-som em cima da sua cabeça. Apesar das várias horas de trabalho acumuladas ao longo dos anos, ele afirma que nunca teve nenhum problema auditivo, porém toma todas as precauções necessárias. “Eu nunca tive perda nenhuma. O ouvido ainda está bom, mas eu me cuido. De vez em quando a gente faz um exame para ver como está a questão auditiva, para ver se está tudo ok”, ensina.

image Apesar de trabalhar com som há 40 anos, Humberto Silva diz que não tem nenhum problema na audição. (Thiago Gomes / O Liberal)

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o ruído em áreas residenciais não deve ultrapassar os limites de 55 decibéis para o período diurno, das 7h às 20h; e 50 decibéis de noite, das 20h às 7h da manhã. A Organização Mundial de Saúde (OMS) adverte que ruídos constantes acima de 55 decibéis são nocivos. Muitas vezes eles causam, de imediato, incômodo e irritação, mas as consequências podem vir mais tarde, em forma de estresse, problemas cardíacos e perda auditiva.

A Sociedade Brasileira de Otologia estima que entre 30% e 35% das perdas de audição são consequências da exposição a ruídos comuns do dia a dia. A juventude deve ter mais consciência quanto aos riscos do som alto e proteger a audição, sob pena de ter dificuldades para ouvir bem antes de envelhecer. Se a nova geração não tiver consciência do perigo poderá depender mais de aparelhos auditivos no futuro.

O ambulante Rafael Franco, de 31 anos, está há cinco anos trabalhando no Comércio de Belém e sente desconfortos ao final do dia devido ao barulho, estresse e ao fone de ouvido. O que mais incomoda Rafael é o barulho do trânsito com as buzinas na avenida Presidente Vargas, uma das ruas mais movimentadas de Belém. “O barulho incomoda, mas só do trânsito, o barulho das buzinas. Por isso, eu uso fone para falar com meus clientes. Para ouvir melhor eles, para fazer videochamada. O fone de ouvido me ajuda bastante”, conta.

Rafael sai às 7h30 de Icoaraci, no outro lado da capital paraense, para ir até uma grande loja de departamentos na avenida Presidente Vargas. No final do dia, por volta das 17h, Rafael faz o trajeto contrário no sentido de sua casa. Ele relata sentir dores de cabeça e um desconforto na orelha por causa do fone. “Eu uso fone somente durante o trabalho, mas em casa eu coloco na caixinha e fica melhor”, destacou.

Ruído em excesso pode causar perda auditiva irreversível, alerta otorrinolaringologista

A médica otorrinolaringologista Maria do Carmo faz um alerta importante sobre os riscos da exposição prolongada a sons intensos, cada vez mais presentes no cotidiano das grandes cidades. Segundo a especialista, sons acima de 85 decibéis, se constantes, exigem o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), sob risco de causar lesões irreversíveis nas células auditivas.

“Os sons de alta intensidade podem provocar lesões das células ciliadas da cóclea que são irreversíveis, levando a hipoacústicas e zumbidos. A perda auditiva tem sério impacto na comunicação e na vida social”, explica a médica. Ela cita ainda a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece 100 decibéis como o nível máximo de ruído tolerável, mas reforça que qualquer exposição prolongada acima de 85 decibéis exige cuidados redobrados.

A médica também chama atenção para o uso inadequado de fones de ouvido, especialmente entre os mais jovens. “Fones de ouvido devem ser utilizados com intensidade baixa e moderada”, recomenda. O uso contínuo em volumes elevados pode contribuir para o surgimento precoce de perda auditiva, o que deve ser evitado com maior conscientização da população.

Além do som alto, outros fatores também representam risco à audição. “Os cuidados são com exposição aos ruídos intensos e ainda a medicamentos ototóxicos, infecções virais e bacterianas, como caxumba, sarampo, meningite e rubéola, daí a importância das vacinações”, destaca Maria do Carmo.

Para a especialista, a atenção à saúde auditiva deve abranger todas as idades, inclusive os idosos. “Outro ponto importante a frisar é que os pacientes mais idosos também devem procurar preservar e, se precisarem, corrigir com AASI (aparelhos de amplificação sonora individual) sua audição, para ter melhor qualidade de vida e manter sua cognição.”

O alerta reforça a necessidade de políticas públicas e de ações educativas que incentivem hábitos auditivos mais saudáveis e ampliem o acesso à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da perda auditiva.

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