Apreensão de drogas no Pará é 40% menor em 2022 em comparação ao ano passado
A quantidade de entorpecentes apreendidos já vinha em queda, pelo menos, nos últimos três anos
O Pará vem apresentando uma redução na quantidade de drogas apreendidas nas ações de combate ao tráfico. A Polícia Federal, que registra as apreensões feitas pelas forças da União, registrou 44,4 toneladas em 2022, enquanto em 2020 foram mais de 181 toneladas e 75 toneladas no ano passado. O mesmo cenário se repete em relação às forças estaduais de segurança, que registraram, neste ano, quase 25% do total de drogas apreendidas dois anos antes.
Dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), que contabiliza apenas apreensões feitas por órgãos de segurança do Estado, como a Polícia Militar (PM) e a Polícia Civil (PC), por exemplo, mostram que de janeiro até 15 de outubro deste ano foram apreendidas cerca de 2,5 toneladas, enquanto que no ano passado, as apreensões chegaram a somar mais de 10 toneladas e, no ano anterior (2020), quase 11 toneladas.
Para o titular da Segup, Ualame Machado, esse cenário reflete o fato de que o Pará tem investido mais em seu equipamento de inteligência no combate ao tráfico de drogas, o que tem proporcionado ações mais estratégicas – voltadas não para um grande volume de pequenas apreensões, mas para as apreensões que possam, de fato, “desestruturar” as organizações criminosas voltadas para o tráfico, conforme comenta:
“A gente começou a escalonar muito a pressão da droga, a gente começou a pressionar essas grandes organizações. Não se deixou de fazer, obviamente, o combate àquele tráfico doméstico, que é o que impacta na criminalidade local, mas ao mesmo tempo, focamos na desestruturação dessas grandes organizações”.
Por isso, o secretário avalia que o Estado, também em parceria com a Polícia Federal, muitas vezes, tem executado apreensões mais estratégicas, que acabam sendo mais vultosas, em termos de quantidade entorpecentes apreendidos de uma única vez, e menos numerosas:
“Nós começamos a fazer uma repressão e uma investigação realmente mais qualificadas das grandes organizações, focando nas grandes apreensões. Para se ter uma ideia, em 2021 chegamos a dez toneladas de droga apreendida no Estado. Um número que nunca tinha atingido antes. Mas de oito toneladas só de cocaína”.
Pesquisador diz que é preciso analisar a dinâmica das organizações criminosas
Para o pesquisador Aiala Couto, professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), que há 18 anos estuda a dinâmica de organizações criminosas ligadas ao tráfico de entorpecentes, essa diminuição nas apreensões do estado registradas nos últimos anos pode ser reflexo de duas realidades possíveis, cuja melhor compreensão só será possível a partir de uma análise mais aprofundada do contexto do combate ao tráfico de drogas no Pará, considerando também as mudanças na dinâmica das organizações criminosas:
“Esses números de apreensões podem significar duas coisas. A primeira, que não está tendo operações suficientes ou, de certa forma, vem ocorrendo uma fragilidade na política de combate ao tráfico de drogas, que culmina com uma queda na apreensão. E a outra possibilidade é que pouca droga deve estar entrando no país por essas regiões onde constantemente ocorriam as operações. Nesse caso, a gente tem que entender melhor como o sistema de tráfico de drogas trabalha ou opera dentro do território brasileiro”, avalia.
Detalhando sua percepção, o professor explica que, para que tenha havido uma queda tão acentuada no número de apreensões de 2020 para 2021, e uma queda ainda maior de 2021 para 2022: “ou a gente está recebendo pouca droga e as rotas foram alteradas onde ocorrem geralmente as operações, ou há uma fragilidade por parte da política de segurança pública, tanto estadual quanto federal”.
Quanto às rotas do tráfico, o secretário da Segup, Ualame Machado, reforça uma realidade que já vinha sendo apontada, tanto pelos órgãos de segurança quanto pelas pesquisas, que é o Pará como rota estratégica para o tráfico de drogas internacional. Ele comenta que essa característica permanece ainda hoje:
“Nós temos regiões do país que produz maconha, como o polígono da maconha, em Pernambuco. Aqui, no Pará, nós temos algumas regiões como, por exemplo, Nova Esperança do Piriá. Mas o que movimenta o grande tráfico internacional é a cocaína e não a maconha. E o Brasil não produz cocaína. Toda a cocaína que é vendida no Brasil vem de fora. Praticamente, os principais, e quase que exclusivos, produtores de cocaína no mundo são a Bolívia, a Colômbia e o Peru. E todos os três fazem fronteira com o Brasil, com a Amazônia legal. A entrada dessa droga no país se dá pelo nosso corredor aqui, que é o corredor do rio Amazonas”, explica.
Ao entrar no país pelo Estado do Amazonas, os entorpecentes acabam precisando, necessariamente, passar pelo Pará para poder ser distribuída tanto para outras partes do país como, principalmente, para outros países, diz Ualame Machado:
“Qualquer droga que chega no Amazonas pra ela chegar no Brasil e no exterior ela praticamente é obrigada a passar pelo Pará. Quase que não há uma possibilidade de distribuir no Brasil e no mundo se não vier pro Pará. Se considerarmos uma rota rodoviária, a droga vai passar por Jacareacanga, Itaituba, Altamira, Marabá. Mas se você pensar na rota hidroviária, ela vai ter que pegar o corredor do Rio Amazonas, que vai entrar no território paraense da mesma forma”.
Ualame destaca o porto de Barcarena como um dos mais estratégicos para o tráfico internacional de drogas, partindo do Pará. Por isso, foi justamente lá onde houve um dos recordes mais recentes de apreensão.
“Este é um porto que é equidistante da Europa e é o porto mais próximo dos Estados Unidos. Tanto que, se você observar, as grandes apreensões de drogas nos últimos anos foram feitas ou dentro do porto de Barcarena, ou em algum lugar no território de Barcarena”, enfatiza.
O secretário também diz que as rotas aéreas também são monitoradas e combatidas, principalmente com apoio do Grupamento Aéreo de Segurança (Graesp), que viabiliza a identificação e abordagem em pistas de pouso clandestinas no estado do Pará, que seriam muito comuns, uma vez que a maioria das “aeronaves vindas dos países vizinhos não conseguiriam chegar ao nordeste ou sul brasileiro sem reabastecer aqui na região”, comenta.
Diante dessa realidade, o secretário de segurança diz que é justamente o conhecimento dessa dinâmica das organizações criminosas – e suas vias preferenciais para exportação dos entorpecentes – que tem aprimorado os alinhamentos dos órgãos de segurança pública no combate ao tráfico.
“A gente conseguiu fortalecer muito essa estrutura. Uma coisa importante de destacar é a integração que a gente tem conseguido com as forças federais, como a Receita Federal, a Polícia Federal e a Rodoviária Federal. Com todas essas forças o resultado é decorrente do uso da tecnologia da inteligência, mas também fundamentalmente a integração das forças. A troca de informação”.
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