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Vitórias-régias morrem após seca de canal em Santarém, oeste do Pará; vídeo

A planta, presente em ponto turístico no Rio Tapajós, é utilizada como matéria-prima em restaurante ribeirinho. A estiagem, provocada por mudanças climáticas, atingiu 69% da Amazônia Legal em 2024

Lívia Ximenes

A seca severa no Pará provocou a morte de vitórias-régias no Canal do Jari, em Santarém, oeste do estado. No local, considerado ponto turístico no Rio Tapajós, a planta é utilizada como matéria-prima em restaurante ribeirinho. De acordo com previsão do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a estiagem permanece durante todo o mês de outubro. Confira o vídeo abaixo.


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Em setembro, a região Norte teve 177 municípios afetados pela seca severa e extrema, segundo o Cemaden. Dentre os sete estados nortistas, o Pará teve o maior número de municípios afligidos, totalizando 56. O estado é seguido por Rondônia (48), Amazonas (32), Tocantins (23), Acre (16), Amapá (1) e Roraima (1).

Para Dulce, lidar com a situação é algo muito delicado. A moradora conhece bem as vitórias-régias e participa de todo o processo de produção e cultura das plantas. “Eu plano, então eu vejo elas nascendo. Eu acompanho o crescimento, eu vejo elas lindas. Ver morrendo de uma hora para outra, sem eu poder fazer nada, é difícil demais”, lamenta.

Mais da metade da Amazônia sofre com a seca

A Amazônia Legal, região que abrange 531 municípios brasileiros, teve 69% da área atingida pela seca em 2024, conforme análise do InfoAmazônia. O levantamento mostra que nesse ano, em comparação a 2023, a estiagem severa aumentou 56%.

Dulce Oliveira mora em área de várzea e, assim como demais habitantes, se prepara para a cheia das águas. “Para a seca, ninguém nunca se preparou, agora já será mais uma preocupação. E agora estamos usando o que temos, usamos carroças, cavalos, motos”, afirma.

Em diversas regiões da Amazônia, como em Santarém, os rios são como ruas. Entre as preocupações, as maiores delas são o acesso à água potável e aos meios de locomoção, explica a moradora. Dulce relata que há medo de que alguém da área adoeça, visto que o transporte foi dificultado.

Experiência e cuidado da natureza

Dulce e outros ribeirinhos tentam lidar com a seca com base nas vivências, experiências e conhecimento do ambiente. “A gente se reúne, conversa, traz ideias, analisa e tenta pegar as melhores para executar”, explica. A moradora do Canal do Jari detalha que as pessoas mais idosas são retiradas da comunidade, mas outros permanecem no local para cuidar dos animais e decidir qual a melhor saída perante o cenário.

A jornalista e criadora de conteúdo Mariana Vieira, paraense natural de Santarém, visitou o local em março desse ano. Atualmente, Mariana mora em São Paulo e expressou sua revolta ao ver como o Canal do Jari está. “Um por um, o povo das águas fica sem renda, sem o direito de se deslocar, sem alimento, sem dignidade”, escreveu em seu perfil no Instagram.

Em entrevista a OLiberal.com, Mariana diz que ouve como as pessoas no sudeste falam sobre a seca na Amazônia com muita distância, sem envolvimento e conexão reais. “Aquilo também é responsabilidade de quem não mora, de quem mora fora, mas também faz parte do país. A gente elege governantes também”, fala.

Mariana ressalta iniciativas como a de Dulce são importantes para a economia da região. “A dona Dulce fica sem renda, sem o direito de ganhar o seu dinheiro, de se manter com aquilo que ela sabe fazer e que é muito criativo”, afirma. Entretanto, por conta da estiagem, o cenário se torna incerto.

“A gente lamenta por isso, por ver que não dá para ter uma continuidade dessa lógica de trabalho porque a seca impede isso. Essa seca anormal, essa seca que não é da natureza, impede isso”, aponta Mariana Vieira.

(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão da coordenadora de Oliberal.com, Heloá Canali)

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