UFPA repudia ataques feitos contra programações virtuais da instituição
Uma defesa online foi invadida e interrompida na quarta. Agressores ofenderam participantes. Ataques ocorrem até em escolas de Belém e desafiam autoridades
A Universidade Federal do Pará (UFPA) emitiu nesta quinta-feira (20) uma nota de repúdio contra uma invasão cometida durante uma programação online de defesa de um professor da Faculdade de Comunicação da UFPA (Facom). A invasão ocorreu na tarde da última quarta-feira (19), quando diversos participantes acompanhavam uma live de defesa de memorial do professor e doutor Otacílio Amaral, integrante do corpo de professores da Facom e do o Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM) da UFPA.
O episódio se soma a vários outros recentes, envolvendo professores da Universidade Federal do Pará e de outras universidades do Pará e em todo o Brasil, ocorridos nos últimos meses. A onda vem atingindo até alunos e professores de escolas públicas de Belém.
Durante a pandemia, a UFPA segue com aulas presenciais suspensas e várias atividades acadêmicas mantidas pela instituição, como defesas de trabalhos, estão sendo feitas de forma online, através de ferramentas para reuniões virtuais e de lives. Essa condição se tornou um desafio à segurança das atividades acadêmicas na instituição. Os convites públicos e a divulgação desses eventos, partilhados em redes sociais, se tornam portas abertas a grupos que se revezam nesses ataques.
Defesa interrompida
Na nota de repúdio publicada nesta quinta (20), a Faculdade de Comunicação e o Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM) da UFPA confirmaram a invasão da sala virtual mantida para a defesa de memorial do professor doutor Otacílio Amaral Filho, marcada para as 15h da última quarta-feira (19).
Como é de praxe na instituição, a defesa de memorial é um rito necessário para obtenção do título de professor titular, o grau máximo da carreira da docência na instituição, após uma longa jornada na docência.
A defesa do professor foi interrompida após a invasão feita por hackers. Eles chegaram a atacar verbalmente os presentes à defesa online.
A cerimônia, porém, foi retomada minutos depois, e concluída pelo professor e pelos participantes da banca, apesar do contratempo e dos constrangimentos.
"Rejeitamos veementemente esse tipo de manifestação, agressiva e inconsequente, que desrespeita a civilidade, a cooperação e a solidariedade que constituem o espírito da universidade pública, em especial os espaços físicos e virtuais da FACOM, do PPGCOM e do Instituto de Letras e Comunicação (ILC)", disse a faculdade.
"Solidarizamo-nos com o professor doutor Otacílio Amaral Filho, que, mesmo diante da interrupção, retomou sua apresentação e concluiu com todos os méritos mais uma etapa de sua longa e inspiradora carreira acadêmica no magistério superior. Solidarizamo-nos e agradecemos à banca, aos servidores técnicos e ao público presente à sessão, que permaneceram e deram todo o apoio necessário para a continuidade do trabalho".
Ameças de estupro em escolas públicas
O Liberal apurou esta sexta-feira (21), junto a professores que preferem não se identificar, que pelo menos um outro evento, realizado em uma escola de Belém, também foi invadido, em maio passado, levando pânico a professores e estudantes de uma escola pública da capital. A programação era uma feira cultural online, dirigida a 20 estudantes entre 15 e 18 anos do Ensino Médio.
Durante a invasão, os agressores tomaram a transmissão e, com o microfone da live ligado, se revezaram entre insultos racistas e sexistas, e ameaças. Eles chegaram a afirmar que iriam estuprar e matar as professoras. Os alunos presenciaram as ofensas e as ameaças.
"Os estudantes ficaram chocados. Inicialmente, eles não falaram nada. Durante a invasão, os professores tiveram dificuldades para conseguir fechar o microfone dos agressores", relatou uma professora que estava entre as pessoas atacadas nesse episódio.
"Depois do susto, os alunos então começaram a manifestar repúdio pelo ocorrido, escrevendo pelo chat na live. Tentamos manter a calma e tranquilizá-los. Mas a experiência foi muito ruim e ficamos tensos com a violência. O ataque foi virtual, mas a sensação é como se tudo fosse presencial", detalhou a professora, que admite que os colegas e até alunos ficam preocupandos, agora, com outras experiências com as ferramentas online.
"Infelizmente, o conteúdo não foi gravado e por isso uma denúncia não foi levada à polícia. Mas as escolas precisam se proteger e tomar providências, em conversas com grupos de professores. É lamentável. Eles miram os professores negros, as mulheres. São agressões que podem impactar os estudantes. E isso até faz com que nos perguntemos como essa presença perniciosa pode estar nas escolas, e num contexto maior de ataques já constantes a professores. Dá medo e entristece", lamentou a professora ouvida por O Liberal.
Invasões se tornaram comuns
No mesmo dia da invasão da defesa de memorial na UFPA, na última quarta (19), uma aula online de direito realizada em Sorocaba (SP) também foi interrompida por um outro grupo extremista. Os intrusos veicularam conteúdos de apologia ao nazismo e publicaram mensagens ofensivas contra mulheres, advogados e negros.
No dia 31 de julho, durante outro evento virtual aberto, o seminário "Democracia Digital - Eleições 2020", organizado pela Agência Lupa, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Instituto Tecnologia e Equidade (IT&E) e Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL), outro ataque que interrompeu um debate entre integrantes da Justiça Eleitoral, Ministério Público (MP) e Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas (OAB/AL).
O ataque em Alagoas aconteceu na plataforma virtual Google Meet. A procuradora regional eleitoral Aldirla Albuquerque afirmou que solicitou aos organizadores do evento a gravação do debate para que o Ministério Público Eleitoral identifique e puna os envolvidos na ação.
A redação integrada de O Liberal está procurando a Polícia Federal e a Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos da Polícia Civil do Pará para repercutir a série de ataques realizados na UFPA e em outras instituições de ensino e programações no Pará e saber que providências podem ser tomadas em casos como esses - bem como que crimes estão implicados e como podem ser apurados.
A reportagem também está tentando entrar em contato com o professor da UFPA que teve a sua defesa interrompida, para colher suas impressões sobre o episódio. Também procurou a UFPA pedindo posicionamento oficial frente aos episódios registrados. Acompanhe.
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