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Tradição do Corpus Christi faz Capanema inovar para driblar pandemia

Celebração religiosa se mantém: tapetes de serragem e missa tiveram mudanças para preservar população

Dilson Pimentel e Thiago Gomes

Duas horas de cortejo pelas ruas e cerimônias com mudanças para enfrentar a pandemia de covid-19: assim foi solenidade de Corpus Christi em Capanema, no nordeste paraense, iniciada esta manhã com uma missa celebrada por Dom Carlos Verzeletti, bispo da Diocese de Castanhal, na igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Dentro da igreja, foi feito um tapete com pétalas de rosas. Foi autorizada a entrada de apenas 100 pessoas na igreja. A missa começou por volta das 7h06. Veja:


Do lado de fora, cerca de 40 pessoas se mantinham na Praça Frei Hermes. Elas não estavam aglomeradas. Eram fiéis que não conseguiram entrar na igreja, cuja porta estava aberta. Assim, quem esteve do lado de fora acompanhou a solenidade religiosa.

Suely Glins é moradora de Capanema e tem 45 anos. “Essa é uma tradição. Eu morava em Belém e, agora, moro aqui. Sempre frequentei aqui. Meus pais moram aqui próximo da igreja. A gente sempre acompanhava o ‘tapetão’ (refere-se ao tapete de serragem confeccionado ao longo do percurso da tradição). Ficou bonito aqui na frente da igreja”.

Tapete de serragem, menor, foi mantido


Este ano, o tapete de serragem não foi como os dos festejos anteriores. Ele media pouco mais de um quilômetro e era confeccionado no trajeto por onde passava a procissão, que também não ocorreu este ano.

“Não é como todos os anos. Continua sendo bonito e não quebrou a tradição. Tem poucas pessoas, vamos manter o distanciamento. O importante é Jesus aqui presente em nossos corações. Estou muito feliz”, diz Suely Glins.

Para não perder a tradição, um tapete de serragem menor, com cerca de  100 metros, foi confeccionado na rua em frente à igreja Perpétuo Socorro. Antes, o tapete tinha 1.300 metros – a extensão da procissão.

Orações breves, vidas em fé preservadas 


Rosineide da Silva Oliveira, 48 anos, assistiu à missa dentro da igreja. “Cheguei bastante cedo. Mas, na entrada, disseram para gente fazer uma pequena oração e explicaram que o bispo disse que não queria muita gente dentro da igreja. Fiz a minha oração”, contou.

“Nesses tempos, sentimos muita falta das missas. Para mim, está sendo maravilhoso. A gente não esperava a pandemia, que veio para parar a comunidade e parar a nossa missa. Mas, graças a Deus, estamos vencendo”, afirmou ela, que mora em Capanema. “Hoje a gente fica um pouco triste. Era a noite toda a gente enfeitando as ruas [fala da confecção do tapete de serragem pelas ruas onde passava a procissão]. “Era um tapete muito lindo”, contou.

“Nesses tempos, sentimos muita falta das missas. Para mim, está sendo maravilhoso. A gente não esperava a pandemia, que veio para parar a comunidade, parar nossa missa. Mas, graças a Deus, estamos vencendo", conta Rosineide da Silva Oliveira, que assistiu à missa dentro da igreja. “A emoção, para mim, não está sendo a mesma. Graças a Deus, estamos aqui. Quase perco um genro com essa doença. Pedia muito que ele conseguisse a cura. Graças a Deus ele conseguiu, está bem. Vim agradecer”

Rosineide observou que o tapete, agora, está com o tamanho bem menor, mas ficou bonito. “Mas, à vista do que era....”, ponderou.

“A emoção, para mim, não está sendo a mesma. Mas, graças a Deus, estamos aqui. Não como eu esperava. Eu quase perco um genro com essa doença. Eu pedia muito que ele conseguisse a cura. E, graças a Deus, ele conseguiu, está bem e, hoje, vim aqui agradecer”, emocionava-se Rosineide na cerimônia.

Momento pede forças, reinvenção e fé


O contador Miguel Moreira, 48 anos, enfeitou a frente da casa dele com balões brancos e amarelos. “É uma homenagem que, todos os anos, nós fazemos pela passagem da procissão de Corpus Christi. E, principalmente este ano, diante do momento de pandemia que estamos vivendo, tivemos muitos conhecidos e pessoas da nossa cidade que vieram a óbito por conta desse vírus. É uma forma de agradecermos a Deus pelos os que estão vivos e, também, por aqueles que se recuperaram”.

Para seu Miguel, esse ano tudo está sendo novo nos festejos em Capanema. "Está diferente de tudo o que já vivemos. Nós participamos, eu e a minha esposa, quando éramos jovens, do enfeite [a confecção do tapete de serragem por onde, até o ano passado, passava a procissão]. E, hoje, para nós é uma certa tristeza as pessoas não poderem ter participado, à noite, de todo esse processo de enfeite das ruas”.

Por causa da pandemia, também diminuiu, drasticamente, o número de jovens que participaram da confecção do tapete de serragem - que, este ano, foi apenas em frente à rua da igreja, onde houve a celebração da missa.

O contador Miguel Moreira, 48 anos, enfeitou a frente da casa dele com balões brancos e amarelos. “É uma homenagem. Principalmente este ano, diante da pandemia que estamos vivendo. Tivemos muitos conhecidos da nossa cidade que vieram a óbito por conta desse vírus. É uma forma de agradecermos a Deus pelos que estão vivos e os que se recuperaram. Para nós é uma certa tristeza as pessoas não poderem ter participado, à noite, do enfeite das ruas”. A pandemia diminuiu drasticamente o número de jovens que participaram dos festejos

Programação com veículos foi questionada


Após o encerramento da missa, por volta da 8h20, começou a solenidade pelas ruas da cidade. Um cortejo de carro percorreu Capanema por mais de duas horas. Veja:


A primeira parada, por volta das 8h35, foi no prédio do Comando de Policiamento Regional (11º Batalhão de Polícia Militar). A segunda foi no Hospital Maternidade Dr. João Pedrosa, já por volta das 8h47. 

Também houve homenagens nas sedes da 6ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp) – Unidade Integrada de Polícia de Capanema, na UPA Manoel Maria Serrão Valente - onde vários profissionais de saúde se emoconaram -, nos prédios   do Samu e Corpo de Bombeiros Militar e na Secretaria de Assistência Social.

Outras paradas ocorreram no hospital regional dos Caetés, no comércio de Capanema e na Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, onde foi colocada a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. O carro com Dom Carlos entrou na paróquia e ficou em cima de um tapete feito de serragem e de aproximadamente 10 metros de extensão. 

A programação pelas ruas chamou a atenção de muitos moradores, que ponderaram a segurança epidemiológica da atividade e as regras do decreto estadual, que proíbe carreatas na pandemia em todo o Estado. Mas os organizadores da programação estão deixando claro que a cerimônia em Capanema não se trata de uma carreata, e pedem aos fiéis para não acompanharem.

Mesmo assim, algumas pessoas, em carros particulares, começaram a acompanhar a programação pelas ruas.

 

Muitas pessoas também se colocaram em frente de suas casas prestando homenagens. Várias ficaram emocionadas. Outras, de joelhos. 

O comércio está fechado em Capanema nessa quinta-feira e o movimento nas ruas é menor. Ainda assim, algumas pessoas acompanham de motos e bicicletas a última parte do festejo religioso, ao contrário das orientações, como se a programação fosse uma carreata.

Pará