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Terezinha Maravilha: Um caso de amor pela educação

Dona Teresinha conta que descobriu muito cedo a paixão pelo ofício que exerceu a vida inteira: lecionar

Tay Marquioro

Nascida e criada em Marabá, no bairro Francisco Coelho, popularmente conhecido como ‘Cabelo Seco’, onde tudo começou, e testemunha de diversos capítulos históricos que ajudam a entender a formação da cidade. Essa é a dona Teresinha Maravilha. “Sim, é sobrenome. Somos a família Maravilha”, brinca.

Aos 70 anos, mãe de cinco filhos, avó de 12 netos e com um bisneto, a servidora pública aposentada esbanja simpatia e disposição para guardar vivos na memória acontecimentos que ela conta sob a ótica de quem testemunhou tudo de perto. Filha de pai barqueiro e mãe dona de casa, ela descreve com carinho como o ciclo econômico extrativista da castanha-do-pará esteve presente na sua infância. “Meu pai trabalhava transportando castanhas para a família Virgolino, que na época era uma grande produtora. O barco dele era bem parecido com esse, inclusive com o mesmo nome”, conta a educadora, apontando para o mural pintado na parede lateral da casa onde mora.

E, por falar em educação, dona Teresinha conta que descobriu muito cedo a paixão pelo ofício que exerceu a vida inteira. Aos 16 anos, ainda uma menina, ela entrou pela primeira vez em uma sala de aula, na condição de professora substituta. A partir daí, ela já soma 45 anos servindo e ensinando, com a benevolência nata de quem nasceu com uma vocação. “Nesse período, eu fui diretora de escola por 16 anos, mas a minha paixão sempre foi sala de aula. Eu não sei plantar, eu não sei criar um animal, mas com gente eu sei lidar. E estou aposentada entre aspas, né? Porque vira e mexe algum garoto vem na minha porta pedir para dar aulas de reforço porque a mãe foi minha aluna em algum momento da vida”, afirma sorrindo.

Morar no coração da Marabá Pioneira também é estar exposta a um risco sazonal de enchentes. As chuvas rigorosas que atingem a região entre os meses de dezembro e abril trazem consigo o temor pela cheia repentina dos rios Itacaiúnas e Tocantins, que cortam a cidade. “Teve uma cheia que foi a maior da história até agora e nós precisamos nos mudar daqui. Eu tinha feito um jirau para onde eu subi meus livros, fotos, tentando proteger da água. Mas, nesse ano, até o telhado ficou submerso. Eu só sabia que estava perto de casa porque me localizava pela antena da televisão”, lembra a aposentada.

Ano após ano as enchentes costumam ditar a dinâmica de milhares de famílias marabaenses. Entre perdas materiais e mudanças feitas no meio da madrugada, o olhar maravilhoso da dona Teresinha ainda consegue enxergar partes boas. “À primeira vista, isso pode parecer uma tragédia, mas as mudanças são uma festa por aqui. É quando os vizinhos de juntam. Um faz sua mudança, depois volta para ajudar na mudança ao lado, aí vem uma outra pessoa oferecendo almoço. São coisas que só quem vive no Cabelo Seco consegue entender. Eu acho que eu devo ter mudado de casa umas dez vezes”, conta. “É uma relação de amor. Eu tenho um amor puro pelo Cabelo Seco. Aqui, eu nasci, me criei, casei, tive meus filhos... Então a minha relação é passageira com qualquer outro lugar. Mas o Cabelo Seco é para sempre”.

Outro testemunho singular da aposentada sobre as obras de construção da Ponte Rodoferroviária sobre o Rio Tocantins, que ligou os núcleos Nova Marabá a São Félix. De acordo com ela, essa foi uma fase que exigiu ainda mais dedicação ao trabalho dentro de sala de aula. “A construção da ponte foi um marco em 1985, quando ela foi inaugurada. Inclusive, no canteiro de obras, que hoje é o bairro Quilômetro Seis, se criou uma polvorosa. Tinha muita coisa de costumes diferentes, de tradições diferentes, muita gente diferente se misturando”, relembra. “A gente via essa situação com uma certa preocupação, porque era uma rotatividade muito grande das escolas. Entrava e saía aluno o tempo todo. Foi necessária muita paciência, a tolerância mesmo, que todos nós tivemos que ter diante do novo, daquela diversidade de pessoas, até para que não gerasse conflitos em sala de aula”.

Com tanto tempo dedicado à educação, dona Teresinha já perdeu as contas de quantos alunos ajudou a formar.  Hoje, ela fala com amor sobre a herança que carrega dos anos em que trabalhou em diversas escolas públicas da cidade. “Eu ganhei o que dinheiro nenhum pode me dar. Não há um lugar que eu passe em Marabá que eu não escute alguém me chamando ou encontre uma pessoa que corra para me dar um abraço. Sou muito querida pelos meus ex-alunos. Nessa pandemia mesmo, não houve um dia sequer que eu tenha deixado de abraçar uma pessoa”, conclui. 

Pará